Diário de viagem Santiago, Muxia e Finisterra

 


Esta descrição tem como finalidades: 

1) dar a conhecer um dos caminhos de Santiago, o único que não termina em Santiago, e 

2) de algum modo entusiasmar o leitor para experimentar fazer um dos “caminhos”. Existem muitos que começam em diferentes partes da Europa e mesmo alguns, fora da Europa.

Neste caso a ideia foi de um grupo de mulheres no qual se integra a minha mulher, a Luisinha e algumas amigas do ginásio, que todas frequentam. Inicialmente o grupo seria constituído por seis pessoas, cinco mulheres e eu. Infelizmente uma das pessoas apanhou covid, o que teve um aspeto positivo:  em vez de irmos para, e regressarmos de Santiago em transportes públicos com a respetiva limitação de horários e de percursos, fomos todos num carrinha de 5 lugares que nos permitiu total liberdade de horário  e de percursos a par do menor custo para cada uma das pessoas e da redução substancial do tempo de viagem.

Não colocarei desta vez, fotografias, para além daquela em que estão as minhas companheiras com duas belgas de Antuérpia, a Rita e a Simone, para que os leitores se fixem no texto, Publiquei muitas fotos no Facebook, de pessoas  e de paisagens que, na Galiza, na zona que atravessámos de Santiago a Muxia e Finisterra são em muitos casos excecionais, nomeadamente as praias, a floresta, os caminhos.

Mais que tudo há que experimentar a caminhada, pois que as fotografias são sempre uma aproximação muito distante da beleza da natureza e das intervenções e construções desenvolvidas pelos humanos.

Caminhámos um total de 130,3 km repartidos por seis etapas. Em apenas uma delas fizemos um percurso inferior a 20 km.

Procurei dar alguma informação adicional como o nome e  o custo dos alojamentos onde ficámos. Todos escolhidos pela Márcia Guerreiro, a grande organizadora deste projeto.

Aqui fica a constituição da “equipa” caminheira”, por ordem alfabética: Anabela Lopes, João Ralha, Luísa Ralha, Márcia Guerreiro e Teresa Silva.

Espero que gostem e que vos possa ser útil na vossa próxima caminhada nos caminhos de Santiago.


Sábado 10 junho,

 Viagem de carro, de Lisboa a Santiago de Compostela, demorou 5 horas, almoço que levámos de casa, chegada ao Hostal KM0 (30 €/pax), missa na Catedral às 19:30, sem o Bota Fumeiro. Jantar no “O Bispo”, muito bom!

 Domingo – Santiago - Negreira (Hotel ecológico Monte Bargonda - 17 €/pax), 21,5 km

 Levantei-me às 4 da manhã em Santiago, com duas deslocações ao carro que estava estacionado a 2km, a segunda, porque me enganei e levei os chinelos na 1ª vez, em vez das sandálias. Às 5 da manhã, discoteca aberta, muita gente na rua. Às 9:00, depois de pequeno almoço ao lado do Hostel, início da caminhada com  foto tirada pelo casal de italianos de Verona que, em Muxia, soubemos serem o Luca e a Patrícia. Fomos passados, logo de início, por dois polacos, de alguma idade, e por duas miúdas que depois ficaram connosco no hotel ecológico do Monte Bargonda.

 2ª feira - Negreira - Santa Mariña Casa Dona Pepa (Josefa) – 14 €/pax , 24,4 km -

 Em Negreira, no pequeno almoço, conheci a Lara, uma belga de Antuérpia, mais ou menos 30 anos, veterinária, que tinha um pé inchado e iria fazer o resto do caminho para Finisterra de autocarro, enquanto o namorado caminhava. Contou-me a história do seu avô que tinha combinado com uns amigos, fazer o caminho para Finisterra, mas que nesse ano adoeceu e só pode fazer o caminho de autocarro enquanto os seus amigos caminhavam. No  ano seguinte faleceu, mas antes tinha pedido à Lara que, quando morresse,  lhe levasse as cinzas para deitar ao mar, em Finisterra. Ela estava a fazer isso. 

Ainda me disse que o namorado, que devia ter mais ou menos a mesma idade dela, tinha feito há uns anos o caminho de Antuérpia para Santiago, em 99 dias. Impressionante!

Em Santa Mariña ficámos no albergue privado, "Dona Pepa", senhora que comprou o prédio do albergue ao cura, ela era bisavó da dona do albergue, a mulher do Paco (Francisco), que se sentava numa cadeira ao nosso lado para tomar a encomenda e fazer a conta; No caminho, encontrei a Cornélia, alemã, grande e pesada, de 70 anos, que fez Porto-Santiago em 2021, mais 3 checos, uma loura de 40-50 anos, bonita, mais dois companheiros, que vieram do Porto;  três bolivianos, mãe e dois filhos e o Marco, alemão que falava espanhol que ia na companhia da Grace, peruana, que vive em Torremolinos.

 3ª feira - Santa Mariña - Dumbria (Albergue do Estado financiado pela Inditex – 8 €/pax); 22,9 km

 No caminho conheci duas malaguenhas a quem não perguntei os nomes, o Chris e a Penelope, australianos de Brisbane, e o grupo de estudantes de espanhol do Amherst College, perto de Chicago. Depois de Olviera conheci a Rosa Maria, alemã do Sul, de 61 anos, avó do Niko, que gosta de futebol. A seguir conheci o Frederic Henry, francês de 68 anos que fez, há uns anos, Almeria a Santiago, 1.400 km em 2,5 meses, parando em alguns dias em diferentes cidades, para fazer turismo; mais tarde, no entroncamento para Muxia e Finisterra, o Gianni, italiano de Bolonha, com boné de capitão, 64 anos e o irmão, de 72 anos, tirámos selfie com as minhas companheiras de caminhada, exceto a Márcia que não percebeu quando a chamei. Almoço às 16:00 em Dumbria, um hamburguer excelente. No albergue conhecemos um Italiano, mais a mulher, de Caserta, a 20 km de Nápoles, Iniciou em 31 maio, de bicicleta, o caminho Francês, agora (15 junho) em Dumbria, depois de partir, hoje, de Santiago.

 4ª feira -  Dumbria a Muxia (Muxia Mare – 16 €/pax). – 22,6 km

 Apanhei o Salvo a meio, ultrapassou-me numa paragem minha. Ele vinha a andar muito rápido. Tive de correr para me distanciar. Aos 14 km parei e ele apareceu, rápido. Hoje encontrei-o em Muxia. Tem 20 anos e veio de Saint Jean de Pied de Port e vai até Finisterra. É de Ragusa, na Sicília. Impressionante, fará 810 km em 17 dias. Mais tarde, encontramos perto da Basílica da Virgem da Barca, o casal italiano que vem connosco desde Santiago: o Luca e a Patrícia. Tiramos foto juntos. Também passei pelo Marco e a Grace, o alemão e peruana que chegaram mais tarde a Muxia. Parecem cansados. O alojamento em Muxia é muito bom. Apartamento a 80 euros, com três quartos e excelente vista sobre o mar.

 5ª feira - Muxia a Lires (As Eiras – 20 € / pax) – 14,1 km

Conheci no caminho o Heinz, de Dusseldorf, 75 anos, que vinha desde Ferrol, mais de 200 km, acompanhado da mulher e da filha. Mais tarde encontrei a Tamara Louise, norte americana de Ohio, 25 anos, professora de inglês em Alicante, desde 2019, com quem vim a conversar, partir do km 7 até Lires, km 14. Conversa muito interessante. Em Lires almoçamos no Mário e Mónica, ”huevos rotos” que estavam muito bons. Fomos até à praia de Lires , a 2 km. Placa antes da  praia, indicando que esta era desaconselhada e perigosa. Márcia e eu molhámos os pés e regressamos ao Hostel. Estivemos perto da piscina no relax e depois fomos jantar ao restaurante do ecoturismo Ria de Lires, excelente. Comecei com um Daiquiri com manga, que não apreciei. O polvo à Vieira estava muito bom e o arroz com leche, sobremesa, também . Acabei com um ”oruxo” muito bom. Jantar de alta qualidade, por 27 euros.

 6ª feira- Lires a Finisterra, Campelo (Apartamento Casa Tambo, Campelo, Pontevedra, 19,5 € / pax), 24,5 km

Ao km 4 encontrámos 2 belgas de Anvers ou Antuérpia, a Rita, 64 anos e a Simone, 62 anos, que vêm de St Jean de Pied de Port desde 9 maio, ou seja, 38 dias, em direção a Muxia, depois de terem passado por Santiago e Finisterra. Voltamos a encontrar, em Benxu, depois do banho de mar em Rostro, o grupo de estudantes americanos da U. Amherst a quem o Chris e a Penélope, de Brisbane, se tinham junto. Já perto de Finisterra encontrámos na paragem para comer, um casal de simpáticos americanos de San António, no Texas, o John, 80, e a Laurie, 67, que vinham de Burgos com alguns troços feitos de camioneta . Eles conheceram-se na China. A Laurie ainda fala mandarim. Falei-lhes da experiência da Guigas (a minha filha) em Tianjin. Já em Finisterra, encontramos de novo, o Salvo. Que talvez faça para o ano, o nosso Lisboa Santiago. Finalmente, no autocarro que nos levou de Finisterra de volta a Santiago, conhecemos o Pere (Pedro) Munoz que começou a caminhar em finais de abril no mosteiro de Montserrat em Barcelona (foi abençoado pelo padre) e que fez perto de 1.100 km. Mais uma pessoa de coragem.

Chegados a Santiago, de camioneta, partimos para Campelo, Pontevedra, onde chegámos por volta das 23 horas aos apartamentos Tambo. O Google Maps levou-nos para um caminho muito estreito onde tive que sair do carro e dar instruções à Luisinha para não riscar o carro nas paredes. Conseguiu escapar incólume. Bom apartamento onde consegui dormir até às 6 da manhã.

Sábado - de Pontevedra a Lisboa

 Pequeno almoço e passeio em Sanxenxo, local célebre para férias dos galegos. Feitas algumas compras, rumámos a O Grove, porto pesqueiro no final de uma península, perto de A Toxa. Visita ao mercado municipal, com bom aspeto e muita gente. Compras de pão e queijo. Visita ao local com passagem numa alameda de glicínias, planta de que gosto muito.

 Seguimos para Arcade, 12 km a sul de Pontevedra, para uma mariscada no restaurante Avenida. Após alguns enganos no percurso lá chegámos as 13:00 horas, tendo antes marcado por telefone, para as 14:00, por supostamente não haver vaga para as 13:00. Fiz-me de totó e disse que não tinha reserva. Disseram que em 5 a 10 minutos teria mesa, o que se confirmou. Até às 13:45 praticamente não apareceu ninguém. Enfim. Fomos servidos pelo Alberto, amigo do meu grande amigo de infância, o Armando Montes, que me tinha indicado o Avenida.

 Só três comemos marisco, a Teresa e a Luisinha fizeram outra opção, salada e chocos, respetivamente. A mariscada estava muito boa, acompanhada por 2 garrafas de Ribeiro branco, para 3 comensais. Excelentes sobremesas, o meu flan estava soberbo. E as outras sobremesas também estavam muito boas. Paguei a conta e seguimos para Baiona, onde não íamos há  quase 20 anos. Estava muito bem, muita gente e animação. Passeámos pela vila, tomamos café e seguimos para Lisboa, com paragem para meter gasóleo em Vigo, mais caro do que em Lisboa. Paragem na estação de serviço da Mealhada e chegada a Lisboa pelas 20:30.

Excelente viagem, eu, mais quatro mulheres, a Luisinha e três amigas.

Para o ano, 2023, em junho, será Lisboa a Santiago de Compostela, 520 km, em 17 dias. Belo desafio

Comentários

  1. Belo relato João!
    Eu não tenho esse espirito peregrino mas fico tantado a alinhar em alguma etapa em 2023.

    Run abraço
    Rui

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