Maratona... de palavras...
Três dias depois assenta a poeira... Já
consigo andar e pensar. Talvez já avido para outra aventura. Vou tentar
partilhar com o grupo esta experiência maratonista. “De Golfista a Maratonista”
tá na moda. Parafraseando o nome de um grupo musical “Dead Can Dance”
Fica já abraços e beijinhos aos bravos,
valentes e destemidos aventureiros recentes maratonistas. Um sincero obrigado
aos fervorosos, atentos e grandes companheiros RUN4FUN, incluindo também
aqueles que agora só o são por sentimento, e que nos apoiaram antes, durante e depois
desta brincadeira. Prostro-me perante a vossa disponibilidade.
Fica também já o recado para todos os futuros
maratonistas. “É duro... treina... principalmente da cintura para baixo.”
Partilho principalmente o motivo porque embarquei
nesta aventura, alguns momentos e pensamentos durante e depois da prova e
eventualmente os efeitos pós maratona. Espero não me esticar muito.
(Já
olhaste para baixo e viste a extensão do texto? Deixo a versão curta para os
mais apressados: Foi difícil, gostei de ter atingido objectivos, muito cansaço
no final, grande apoio dos RF4, para o ano vamos ver se ha mais.)
Não é motivo para pedir desculpa, mas fica a
nota porque não fiquei indiferente, ter feito Aaaaa.... MARATONA (haha) sem
partilhar minutos com os “nossos” que me fui cruzando. Estava em ritmo
diferente. E tem tudo a ver com Almonda.
“Que puta de maluqueira 4h”. Transcrita a
mensagem que enviei a Filipa logo após ter terminado. Descalçado e deitado no
chão tentava abrir a dura casca do gelado. (Já agora podiam entregar o gelado
já descascado. Que falta de profissionalismo) Estava todo roto.
Tinha aqui um draft todo catita que escrevi na
2ª Feira para postar aqui a experiência, mas vou antes seguir o felling do
momento.
Uma vez um rapaz foi surpreendido pelo excesso
de cansaço quando trilhava uma tal de prova do Almonda. Cansado e desesperado e
com a sua miúda sofriam muito nos últimos quilómetros. O rapaz pela primeira
vez praguejava como nunca havia feito em nenhuma prova anterior. Foi tão
difícil que para ele desistir nos últimos 500m não estava fora de questão,
bastava que houvesse uma boleia.
Nos dias seguintes ainda praguejava aquela
prova, de tal forma que até nos treinos o rapaz vestia a tshirt alusiva ao evento.
Ao fim de poucos dias percebeu que para
enfrentar algumas aventuras precisava de ter disponibilidade física extra, ou
pelo menos o mínimo exigido.
A ele normalmente não importa o cronometro ou
a distancia. Desde que seja bom.
E descobriu que podia ajudar a rapunzel na sua
subida a terras do Porto para concretizar o objectivo de fazer a maratona. Uma
formula mágica. Era preciso enfrentar uma dificuldade identica, e ter a noçao
do que é preciso para tentar concretizar com sucesso. Só assim podia mandar
bitaites. Para isso precisava de deixar de lado a preguiça e fazer a maratona
de Lisboa perto do meu limite.
Foi este o motivo principal de se ter inscrito
nesta maratona. Inscreveu também a Filipa.
Foi por isso também que não abrandou para
confraternizar com os outros R4F durante a prova. Evitava ficar folgado.
Dias antes: Mal viu o percurso pela primeira
foi assolado pelo pensamento “isto é muito longo. É uma loucura.” E sempre que
lhe mostravam o mapa tentava minimizar esse pensamento.
Foi fazendo uns treinos aqui e ali mais
assiduamente, e tentou não claudicar na alimentação.
A maratona: Teve momentos interessantes.
Começou tranquilo como sempre. Acompanhado da rapunzel, também ela tranquila que
ainda hoje nem se deu conta que não fizemos aquecimento. Mesmo depois de no dia
anterior estar com algumas maleitas estava bem.
No Km 3 aumentou o ritmo e sentiu fluir a
passada. O primeiro pensamento e foi constante durante quase todo o percurso.
“Falta buéééé. Ordena lá ai as prioridades. Nunca te esqueças disso.”
No km12 estava muito confortável. Em plena
corrida tirou e abriu o “camelo bag” e atendia uma chamada di mamãe. Havia
fôlego para dois dedos de conversa.
Passou por alguns companheiros R4F. O
cumprimento da ordem e seguia.
Lembra que passou pelo único R4F que não
cumprimentou. A Joana Barros ia do outro lado da rua concentradissima na subida
e de phones, que deviam estar a bumbar, por causa do ritmo. (tens uma passada
particular Joana. Os pés levantam bastante do chão)
O César Moreira, preocupado e atento (imagino
o pensamento “este gajo está louco. Numa primeira maratona nesse ritmo?!!” eu
sei que não foi assim César.), deu-lhe o toque para ver se o demovia daquele
ritmo. Para logo depois dar o seu aval. “Se te sentes bem assim... Vai”. “Vai”
é diferente de “Força”.
Foi logo a seguir que meteu conversa com um
atleta transeunte que se mostrou disponível para a palheta e acertar passadas.
Armindo, o homem com um artefacto artificial no coração e que tinha que
controlar o ritmo cardíaco abaixo das 160 pulsações por minuto. Sem recurso à
tecnologia, olhou para o Armindo e disse-lhe que ele parecia estar bem e não
devia de estar com mais de 150ppm. O Armindo confirmou, no seu big relogio que
estava 150 exatas.
Foram na palheta alguns bons kms.passaram sem
esforço a bandeira que marcava as 3:45h
Hora de continuar sozinho, Shake hand no
Armindo, a 5.05km/m, as pulsaçoes dele subiram para as 160 constantes.
Laranjinha no asfalto. João Veiga. (Deduzo que
tenha vindo sempre abaixo das 3:45h). Trocaram galhardetes e o “De Golfista a
Maratonista” continuou cheio de vontade. E o pensamento... “Falta buéééé”...
hahah
Recorda-se de ver as vistas, mas não consegue
precisar, quando passou nem quando.
Até ao km 28 sentia-se bem. Já tinha parado
duas vezes para atar os atacadores. Coisas simples como dar dois nós nos
atacadores não tinham lugar naqueles momentos. Básico.
Desse vez, na 24 de Julho em Santos, parou
para aliviar a bexiga. Recomeçar já não foi a mesma coisa.
Pela primeira na prova surgiu-lhe a palavra
“Parede” “Wall”. Se iria acontecer ou sentir? Focou-se na estratégia de
antecipar esse momento caso surgisse. Antecipar significava estar atento aos
sinais do corpo e mente e reagir antes do descalabro.
(há uma musica do Jorge Palma com uma letra
muito fix. Oiçam. Alguns vão sentir um arrepiozinho se associarem a momentos de
superação que já tiveram na vida. Chama-se “Passos em Volta” Trauteei para a
Filipa, no primeiro dia das nossas vidas)
Chegada triunfal ao Cais do Sodré. Se ainda
não era já a meta parecia. Os laranjinhas em massa. Rostos amigáveis, felizes e
sorridentes alegraram-lhe e encheram-lhe o ego. Forte apoio moral. (Gracias)
Nuno Tempera, vindo não sei da onde, chegou-se
a ele um pouco mais a frente. Falou-lhe das dores e do peso que sentia nas
pernas nesse momento. Eram fortes mas nada de mais.
O Nuno lembrou-lhe que os ténis que tinha
trazido para a corrida tinham esse efeito.
Ele, “o maratonista” já os tinha testado antes
da prova e sabia que não era só isso. Aliás, até aí estavam excelentes.
Na entrada na Praça do Comercio o Nuno
abrandou e criaram distancia.
30km... não sentiu a “a parede” mas a visão de ver muitos atletas a andar e a
parar foi má vibração. O primeiro pensamento que teve foi “vou também parar de
correr e andar um pouco” Foi o que fez, na viragem nos restauradores. Havia
algum publico atento ao esforço dos atletas e estavam fortes nos incentivos.
Foi o sentiu.
Foram poucos passos a andar, e retomou a
corrida.
Antes de chegar à praça do comercio outra vez,
pensou que se trocasse as sapatilhas pelas que trazia no camelbak seria uma
forma de quebrar a monotonia e as ideias menos positivas e talvez ainda
aliviasse os músculos que até ai estavam a carburar.
Sentou-se no passeio e trocou as sapatilhas.
Nos primeiros passos sentiu logo que tinha podia ter errado. As pernas pareciam
duplamente mais descalibradas do que com as outras.
Ficou a dúvida. Seria uma questão de metros
até a adaptação. Foi o que pensou.
Mentira. Nunca mais sentiu adaptação nenhuma.
Aceitou que tinha errado. E aproveitou para soltar a língua. Praguejou.
Foi sempre a perder força e aumento de dores.
Só andou mais uma vez numa troca de
abastecimentos. Para ele esta parte foi um grande esforço mental. Mais que
físico.
Pensamentos relâmpago, outros que demoravam
eternidades porque eram em câmara lenta.
Felizmente os pés, em passadas lentas, saiam
do mesmo sitio.
Havia 3 pensamentos no meio daquilo tudo.
Evitar pensar “Falta buéééé” não era altura para ele ter esse pensamento.
“Tens que aguentar isso e chegar ainda com
forças no final para voltares atrás”.
E havia um que tentava organizar tudo isto e
arranjar pequenos estímulos.
Por exemplo sincronizou-se numa passada rápida
com mais dois atletas e o som das passadas era musica. tum...tum tum..tum...
Estava giro. Acho que ele aguentava aquilo até fim. Infelizmente para ele o da
esquerda saiu da parada, mais a frente o do meio, e ele ia pelo mesmo caminho.
Não sei o que se lhe passou na cabeça, mas
contrariou isso com um poderoso arranque de pés, que lhe valeram um arrepio na
espinha dorsal. Dorou 500m talvez, o arranque. O arrepio foi instantâneo.
(pena)
Os 3 pensamentos levavam-no para mais perto da
meta.
Novo animo laranjinha. Km40 acho eu.
Duas fortes presenças. Alinharam-se os dois
com ele. João e Jorge... Esquerda e direita. Nessa altura, falava, e corria mas
era tudo vago. Lembra-se da dar a garrafa de agua que trazia ao João. Na outra
mão trazia geis. O gesto de carregarem aquela garrafinha de água por ti parece
irrelevante. Mas não é.
O João sugeriu que jogasse agua para dentro do
chapéu e colocasse na cabeça. Estava tudo bem. Voltaram ao ponto de apoio e ele
continoou.
Mais a frente novo animo laranjinha. Apoio
feminino RF4, numa curva, tipo rally. Cá está... meta a vista... as pernas
pesavam... cheio de animo...
Os pensamentos negativos nesta fase querem
protagonismo. Já tinha corrido 41km. Como é que o facto de estar a chegar e não
ver a meta num alcance de 400m podia influenciar?!
(Estou cansado só por me lembrar...).
Depois foi chegar a meta, comer o gelado, dois
dedos de conversa com outro atleta, iam chegando laranjinhas, visivelmente
cansados como ele.
E foi com motivação que voltou atrás no
percurso para acompanhar a sua raponzel...
Run Abraços
Que estreia em grande...chegaste bem e para primeira ias folgado...tenho pena de não me ter conseguido colar a ti mas as pernas tavam aos berros...até à próxima prova pelos vistos contigo em grande forma
ResponderEliminarObrigado João. Fazemos um dia destes uma corrida juntos. Noto que estas cheio de potencial e cheio de vontade de melhorar. Força nos treinos. Ainda não tinha comentado, mas vi os teus videos a tocares guitarra. Tocas bem. Eu dou uns toques mas muito fraquinho.
ResponderEliminarRui,
ResponderEliminarBelo, emocionado e detalhado relato de um maratonista que logo na sua 1ª ficou abaixo das 4 horas e ainda teve forças para voltar atrás para "rebocar" a companheira nos km finais.
Fantástico casal Rui e Filipa que fizeram ambos no Domingo, a sua 1ª maratona.
Parabéns a ambos e descansem pois fazer duas maratonas quase de seguida, não deve ser fácil.
Runabraços
PS
Falta a foto no relato!!
Obrigado João Ralha. É bom sentir a tua presença no momento certo. Espero poder retribuir sempre que for possivel.
ResponderEliminarPS: Excelente escolha da foto
VAI.... é bem melhor que força :)
ResponderEliminarvai, significa que tens força e capacidades. Dizer força, muitas vezes podia ser interpretado como achar que não tinhas capacidades :)
Por isso, VAI que esta já está.
Parabéns Maratonista
Abraço
Obrigado grande Cesar. VAI... Foi isso que interpretei. VAI, no sentido que estamos a falar ainda associei ao teu aval de confiança. Por isso gostei de ouvir. (no porto é que vai ser tramado. BAI) Abraço
ResponderEliminarParabéns pelo resultado. Agora já só falta completares a segunda maratona para te tornares MARATONISTA
ResponderEliminarParabéns Rui,
ResponderEliminarGostei imenso de ler o teu relato e de te acompanhar ao longo dos 42km!! ... o que ias sentindo, o que ias pensando, sensações positivas e outras menos agradáveis que tu ias superando.
E no fim foste buscar a Filipa!! Impecável!!! Gostei!
Beijinhos
Obrigado Miguel San-Payo. Irei tentar certamente completar uma segunda maratona em outro registo.
ResponderEliminarObrigado Manuela. A ideia é um pouco essa. No fundo quem lê as cronicas dos novos maratonistas, percebe um pouco o ambiente mental e fisico para completar esse feito.
ResponderEliminarJá agora... achei curioso este texto:"
Correr os 42.195 metros de uma maratona já foi considerado como o maior limite da resistência do ser humano. O significado quase místico dessa prova originou-se com a desventura do soldado grego que morreu após percorrer tal distância."
Beijinho