Oh Meu Deus 57K - 100K - 155K - 2024

 





“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”  
— Charles Darwin


No meu caso, garantidamente não é ser o mais forte nem o mais inteligente mas talvez ser um dos mais teimosos. Enfim, um autêntico asno de casmurrice...




É sempre bom colocar uma citação motivadora no início de uma crónica, e essa costuma ser minha abordagem. Mas, na verdade, se há coisa que eu aprendi nesta prova foi esta pequena pérola de sabedoria:





北方/北方话官

Eu diria mesmo mais:

如果牛飛了屋頂上就會有糞便


(a preparação para esta prova está descrita num post anterior, que se pode ler aqui: UTAX 114K Preparação - S01E01)



Outra coisa que se reaprende cada vez que se participa nestas provas é que o ser humano é o primata que enlouqueceu.







A condição humana é marcada por uma dualidade profunda: a capacidade de raciocínio lógico e a propensão à irracionalidade. O ser humano desenvolveu civilizações complexas, tecnologias avançadas e formas de arte sublime. No entanto, essa mesma capacidade intelectual trouxe consigo a angústia existencial, as ansiedades e as perturbações mentais. Em busca de sentido e propósito, o Homo sapiens, de certa forma, enlouqueceu, tentando reconciliar sua natureza instintiva com as exigências de uma vida civilizada.

O progresso trouxe conforto, mas também alienação; o conhecimento expandiu horizontes, mas também desvelou o abismo do desconhecido. Assim, a humanidade, no seu esforço contínuo de compreender e dominar o mundo, enfrenta constantemente os limites da sua própria sanidade.

A felicidade não tem valor evolutivo. O que procuramos é a transcendência. E o que procuramos transcender é a nossa finitude, a nossa fragilidade, o nosso medo profundo.

Vivemos aterrados. Perdidos num universo que não compreendemos, no qual não encontramos lugar nem propósito para as nossas curtas existências. É o terror do vazio que nos empurra para a frente. Não avançamos à procura da felicidade; fugimos do vácuo.

Enquanto primatas que somos, não experienciamos de forma absoluta o momento presente, mas vivemos imersos num contínuo que nos mergulha no passado e nos projeta no futuro.

Por contraste, o lobo é muito mais um ser do presente, o qual vive de forma completa e inteira. Essa imersão no tempo leva-nos muitas vezes a esquecer o valor do processo e focamo-nos apenas no objetivo, que está sempre diferido. No próprio instante em que o cumprimos, esgota-se.

O lobo vive o processo. E os processos mais vitais são os mais viscerais, aqueles que envolvem a maior dose de êxtase, ligada inextricavelmente com extremos de agonia e desconforto. Por exemplo, quando corremos e damos o nosso máximo, durante um período prolongado de esforço ininterrupto e esgotante, o que sentimos? Sobretudo desconforto, mas também uma enorme exaltação. E sentimos isso tudo em simultâneo. São duas faces da mesma moeda que não são separáveis, experienciadas em uníssono. O que fica depois de acabarmos? O principal não é com certeza a marca atingida, mas antes a memória indelével e física do processo de correr. A corrida permite-nos, mesmo que seja apenas por breves instantes, escapar à condição humana.

(recuperação de um trecho de um texto anterior deste blog: porque corro?)


Em resumo, somos completamente chalupas. Pensamos demais. O cérebro humano está constantemente a produzir pensamentos, dos quais não conseguimos agarrar a origem. Estamos permanentemente a um passo de ser internados compulsivamente. Como disse Nietzsche: "Quem olha muito tempo para o abismo, o abismo olha de volta."

Para fugir ao abismo, corremos. Imergimos na natureza e deixamos o corpo mover-se. A cabeça esvazia-se de pensamentos para se concentrar apenas nos sinais que o corpo lhe envia: os pulmões a inflar ritmicamente, o bater cadenciado do coração, o impacto dos pés no solo, o chilreio dos pássaros e o "cri-cri-cri" dos grilos, a brisa nas folhas das árvores.

E então somos, enfim, livres.



Cheguei a Seia na quinta-feira à noite, pelas 22h20, no dia 6 de junho de 2024. Iria pernoitar no Alojamento Local Casa do Vidoeiro, onde tinha conseguido arranjar um quarto à última hora (mais precisamente na manhã de segunda-feira; mais tarde vim a saber que um colega desportista da CGD tinha desistido da reserva no dia anterior). O outro alojamento que se costuma usar é o Hotel Camelo, mas esse estava cheio.

Permitam-me um parêntesis: muito tempo perco eu a resolver problemas causados por mim próprio (por procrastinar). Julgo que somos todos um pouco assim.



A véspera

Na 6ª feira acordei para uma manhã nublada mas quente.



Seia



Os companheiros RUN 4 FUN que iriam participar na distância de 100 milhas (155 km) iriam partir às 11h00.







Como acordei cedo, resolvi tratar logo da minha logística para o dia seguinte (a minha prova partiria às 8h00 de sábado), para depois poder passar o dia sem preocupações.




Faz lembrar aquelas fotos de apreensão de droga...



Feitas as preparações dirigi-me para a zona do pavilhão desportivo, para me encontrar com a malta. A maioria dos amigos que encontro, sinto-os um pouco tensos, com alguma ansiedade face ao desafio que se lhes coloca. É normal e habitual face estes mega desafios. Um pouco de adrenalina na partida só faz bem. O único que está sempre na mesma é o Luiz Ramos. Pelo menos aparenta sempre um ar ultra calmo, de quem vai fazer um passeiozito ali à Serra. O Teodoro pareceu-me um pouco apreensivo. Ele tem andado com algumas mazelas físicas, talvez seja isso que o preocupa. Mas com a vastissima experiência que ele já tem, estou certo que irá tudo correr bem. A Carmen está igual a si mesma: faladora e um dinamo de energia. 




Luiz Ramos, Teodoro Trindade e Carmen Ferreira na partida




Malta da Matilha: Rui Azevedo, Telmo Velez, Paulo Correia e eu próprio




Linha de partida




Pelas 15 horas conduzi até Sazes da Beira, com o intuito de me juntar ao Rui e à Sofia para ver passar os companheiros. 

Uma nota para o Rui e para a Sofia, que dormiram pouquíssimo nas 2 noites em que os seus companheiros estiveram em prova, seguindo-os em todos os abastecimentos e prestando-lhes um apoio inestimável. Também eles mereciam medalhas por esta ultra que fizeram.

Mesmo de carro, as deslocações de um ponto para outro nesta serra não são fáceis. Para fazer uns 15 km às vezes é necessária uma meia-hora.



Sofia e Rui



Estava um dia muito quente e abafado e malta que passava no abastecimento vinha com um ar um pouco desidratado.




Teodoro e Luiz




Rui e Carmen




Rui e Paulo




Como a hora prevista para a passagem deles no próximo abastecimento era pelas 21 horas, resolvi voltar para Seia, com a intenção de ver a partida do João e da Débora nos 100K, pelas 22h.



Ana, João, Pedro e Débora no 1º abastecimento em Sandomil



Eles andaram sempre muito bem acompanhados pela fantástica equipa de apoio da Ana e do Pedro.



Sábado


Preparações para o mau tempo:

Antes de sair do hotel para ver partir a malta dos 100K, resolvi descansar um pouco. Só acordei com o ribombar de um trovão pelas 5 horas da madrugada. Isto começa bem, pensei eu. Vou mesmo necessitar levar bastante roupa na mochila.

Nestas coisas não costumo facilitar. Montanha é montanha, e a Serra da Estrela é imprevisível. Tanto pode estar calor como muito frio. 

É muito importante prevenirmo-nos com material que nos permita continuar a progredir e a gerar calor apesar de algum contratempo.

Vesti os calções de licra, a t-shirt do R4F, luvas sem dedos, perneiras, meias, os ténis e um boné. 

Dentro da mochila levava duas térmicas, uma de mangas curtas e uma de mangas compridas, manguitos, luvas com dedos, umas luvas daquelas para lavar a loiça, que se podem colocar sobre as outras luvas para as tornar impermeáveis, calças impermeáveis, buff, gorro quente e casaco impermeável.

Para além disso tinha a obrigatória manta térmica, um velinha daquelas pequenas redondas e um isqueiro para a acender. Em caso de emergência fazemos uma pequena tenda com a manta térmica e acendemos a velinha. Ligadura elástica para o caso de sofrer uma entorse e assim poder continuar em movimento. Um pequeno canivete. Ibrufeno & imodium rapid para uma emergência (quanto a isto convém verificar quais as substâncias permitidas no site da ADOP).

Outra prevenção fundamental é isolar cada peça em saquinhos de plástico para que não se molhem dentro da mochila quando chove. Senão adianta muito pouco ter peças de roupa para trocar.

E por fim: ter sempre o track no relógio. Com nevoeiro cerrado as fitas de balizagem adiantam muito pouco.

(podem encontrar estas recomendações neste post: A minha preparação para o mau tempo no Trail em Montanha)



Pelas 15h apanho o autocarro para Sazes da Beira. No autocarro encontro a malta da CGD, o Paulo Pires, o José Santos, o Pedro Fontoura e mais alguns. Encontro também a malta do Monsanto Running Team, o Didier Valente, o Nelson Graça, e mais uns tantos. Tudo gente da velha guarda, que já corre desde sempre, e vários do meu escalão. A competição é dura (mas eu não tenho qualquer veleidade em fazer um tempo competitivo; ainda estou longe disso).

Às 8h é dado o tiro de partida.





Percurso




Percurso





1º Troço - accelerare





Até ao Alvoco são 17 km de um sobe e desce não demasiado acentuado, exceto num corta-fogo inicial muito empinado.









Corta-fogo









Uma vez chegados lá acima, temos pela frente sobretudo descidas suaves até passarmos pela Loriga, um pouco abaixo da povoação. A paisagem é sublime. Tudo muito bonito.



















Neste ponto dá-se a separação entre a prova dos 50K e as provas de 100K e 100M. A partir do Alvoco irão todas percorrer o mesmo trilho, mas aqui separam-se.





Mais tarde vim a saber que houve vários atletas das 100 milhas que se enganaram e seguiram o percurso dos 50K. No final da prova existiam vários atletas muito descontentes com a organização.

Contornamos Loriga e subimos.



Loriga - Alvoco



Faço este primeiro troço (de Sazes ao Alvoco) bastante rápido, a um ritmo de 5,9 km/h. Sinto-me muito bem. A preparação efetuada nos últimos 4 meses, embora ainda não com o volume que eu gostaria, teve a qualidade necessária para abordar esta Ultra de quase 60 km e 3.600 mD+ (desnível positivo). Apostei em menos volume mas maior qualidade, com cross-training de natação, reforço muscular e uma aposta em alguns treinos mais velozes para ganhar potência. Já não recupero tão bem dos treinos como quando comecei a correr, no inicio dos meus 40 anos, mas se no dia seguinte não estiver capaz de correr, faço uma caminhada intensa.

Também deixei de fazer tantas provas com no ano de 2023. Hoje em dia, cada fim de semana de Ultra implica a semana anterior de descanso e a semana posterior de recuperação. São duas semanas inteiras de treino que ficam comprometidas. Mas claro que é importante ter objetivos intermédios e ir fazendo provas. Aliás, isso é que é divertido. Tem que se encontrar um equilíbrio entre o treino eficaz e eficiente, e o usufruir da corrida.

O meu volume ideal de treino são os 400 km por mês, com cerca de 12.000 mD+. Lá chegarei.







Cheguei ao Alvoco da Serra pelas 10:48, quase uma hora mais rápido do que a minha previsão.

Tinha previsto um ritmo de 13:30 min/km neste troço e consegui manter um ritmo de 10:00 min/km.

E sobretudo ainda me sinto fresco, agora que vou ter que enfrentar a dura subida para a Torre.

17 km com 1.000 mD+ já cá cantam.

Demoro-me pouco tempo no abastecimento. Apenas o suficiente para ingerir fruta (melão e laranja), beber coca-cola e alguns hidratos de carbono. Encho os 2 flasks (meio-litro cada), coloco uma pastilha de eletrólitos num e vitamina C no outro, e saio para a rua.




Abastecimento Alvoco da Serra




Em 2020, em plena pandemia, participei nos 180 km do Estrelaçor, que teve lugar em outubro: Insanidade nos tempos de Covid - Estrelaçor 180K.

Dessa vez tinha chegado muito bem ao Alvoco e preparava-me para conquistar a subida e depois avançar para Manteigas. A meio da subida para a Torre a tempestade cai sobre nós. Começa a chover e pouco antes da chegada ao planalto faz-se um nevoeiro tão cerrado que não se conseguia ver um metro à frente do nosso nariz. Mas deixo aqui um trecho da crónica da altura:

"A chuva e o frio começam a fustigar-nos à séria. Agora principio mesmo a sentir-me enregelado. O que vale é que estou preparado para tudo. Desde a partida que carrego comigo, na mochila, uma segunda camada térmica de mangas compridas, calças impermeáveis, dois pares de luvas com dedos, um segundo buff para o pescoço, um gorro quente, a manta de sobrevivência, uma velinha e isqueiro, ligadura elástica para garantir mobilidade em caso de sofrer alguma entorse, um pequeno canivete (com as mãos enregeladas torna-se difícil manipular objetos), segundo frontal com pilhas de substituição, para o caso do primeiro sofrer uma avaria. E alimento de reserva. No País Basco ia entrando em hipotermia e o que me valeu foi ingerir várias barras e géis energéticos de uma penada."


A previsão de tempo para a Torre também é de frio e tempestade. Na minha previsão chegaria lá a cima pelas 14:15, ou seja no inicio da tempestade, tal como em 2020.


 



No entanto, estou a sair do Alvoco mais cedo do que a previsão. E consigo avançar mais ou menos ao ritmo previsto.



2º Troço - sursum movere









Os primeiros 3 kms são uma subida relativamente suave, em que subimos uns 300 mD+. Os próximos 3 são um grande desafio à nossa resiliência. Termos que conquistar cerca de 900 mD+ em apenas 3 km. O ritmo de subida baixa drasticamente para uns paquidérmicos 30 min/km. Por fim temos apenas cerca de 700 m já no planalto.

O truque é nunca parar. Subir lenta mas firmemente, sabendo que em breve este obstáculo estará ultrapassado. Começa a chover mas logo para. Coloco o impermeável. Tiro o impermeável. O tempo vai mudando rapidamente.

Passo pela Débora que vai descansando pelo caminho pois não se sente lá muito bem. Vai mais lenta mas há-de chegar lá acima. O João vai mais à frente,



km vertical




Alvoco-Torre





Nota-se bem a dificuldade dos últimos 3 km até à Torre


Finalmente chego ao planalto e vejo a torre. É uma visão que me enche de alegria!








Débora a chegar à Torre



Torre




Mais uns 500 metros e entro no abastecimento. Encontro a Ana, que me pergunta o que necessito. Eu sinto-me bem. Só tenho que ingerir algo e seguir.





Encontro também o Bruno Quitério que está muito animado (está na prova de 100km). De seguida entra a Sara Nogueira no abastecimento (está na prova de 100 milhas). Malta do grupo de treino do meu grande amigo João Mota, o Strendure coaching. 




A Sara e o Bruno, mais à frente na Lapa dos Dinheiros e aquecerem para que lhes seja permitido continuar a prova, ordens do médico.



Cumpri este troço mais ou menos como tinha planeado. Tenho 50 minutos de avanço sobre o plano. A tempestade ainda não caiu. Subi a um ritmo ligeiramente mais baixo do que o previsto. Em vez de 21 min/km foram 22 min/km.



Amarelo: esperado

Verde: real.




Torre: depois de eu já ter passado, ficou assim



O João saiu antes de mim:







3º Troço - lapsus











Os primeiros kms no planalto são feitos rapidamente. Esta zona é mágica. Cai algum nevoeiro.

Quando chego ao estradão de pedra solta que desce para a Loriga começa a chover com alguma intensidade. Visto o impermeável. As pedras começam a ficar muito escorregadias. Basta assentar o pé numa pedra ligeiramente inclinada para escorregarmos e cairmos.

Quanto a mim, a descida da Torre para Loriga estava tão perigosa e caí desamparado várias vezes (4 ou 5), felizmente sem consequências maiores do que pintura riscada, que acabei por ser bastante mais lento a fazer essa descida do que o que tinha planeado. Subi a um ritmo de 2,7 km/h e desci a um ritmo de 3,9 km/h. Ao longo da prova fui sempre a ganhar lugares na classificação, exceto neste troço. Tinha previsto um pace de 12:00 min/km e acabei por fazer 15:30 min/km.

Felizmente a parte final do troço é um estradão rápido e pelas 16:09 entro no quartel dos bombeiros em Loriga. Encontro o João, a Ana e o Pedro. Fico muito contente por ver que o João vai bem. Tem um ar tranquilo, como sempre, e a prova está sob controle, apesar das condições meteorológicas agrestes que apanhou na noite anterior e que se começam novamente a manifestar.

Numa das quedas poderia ter-me magoado mais seriamente, uma vez que aterrei com o peso do corpo em cima do cotovelo na dureza de uma pedra granítica. Devo ter os ossos duros de tanto bastonar. Apenas rasguei a carne. Sangrou abundantemente mas deverá ser uma zona particularmente irrigada e é mais fogo de vista do que estrago. Talvez merecesse 1 ou 2 pontos, mas eu não trouxe comigo o meu kit de Rambo e vai ter que ficar para outra altura.

Em Loriga, os bombeiros fazem um curativo ao corte no cotovelo e logo sigo no encalço do João que saiu primeiro do abastecimento.






4º Troço - adamastor






Agora teremos a subida do Adamastor. Não tão rude como aquela para a Torre, mas já estamos mais desgastados. A meio da subida começa a chover copiosamente. Os trilhos tornam-se riachos e temos que subir com os pés firmemente mergulhados na água. Até ao fim da prova nunca mais secariam.




O Adamastor é aquela subida do km 35 até ao km 40.

Quando cheguei lá acima tinha baixado um nevoeiro cerrado. Estou numa estrada de alcatrão mas não vejo as fitas. Cometi um erro. Não verifiquei se o track tinha mesmo ficado carregado no relógio e não o encontro. Tento sincronizar novamente a partir do telemóvel mas nada acontece (na verdade sincronizou mas demorou um bocado até estar disponível). Ando para a frente e para trás na estrada até que aparece outro atleta. Sigo-o e saímos à direita por um estradão.

Agora é sempre a descer por estradão rápido. 

A chuva é constante. Estou encharcado até aos ossos. Não há impermeável de 155 g como o meu Bonatti capaz de resistir a horas de chuva intensa e contínua.

Como consigo correr, vou mantendo a temperatura corporal. Sei que assim que entrar no abastecimento, depois será duro sair.

Às 18:54 entro no abastecimento de Lapa dos Dinheiros.

Fiz este troço de 13,5 km a um ritmo de 12:30 min/km (4,8 km/h). Sinto-me forte.

A Ana encontra-se lá dentro esperando o João, o qual entra pouco depois.

Eu alimento-me o melhor que posso e reabasteço os flasks. Visto as calças impermeáveis, as quais me irão dar um conforto acrescido dali até à meta. Poderia também trocar a térmica de mangas curtas pela térmica de mangas compridas que se encontra seca. No entanto sei que irei novamente ficar encharcado e não me apetece dar-me ao trabalho.

Saio para o frio. De facto levo uns 2 km a voltar a aquecer. São 2 km muito desconfortáveis. Deveria ter vestido a térmica seca. 

O João sai pouco depois de mim.

Mais tarde soube que a certa altura apareceu um médico em Lapa dos Dinheiros enviado pela organização para garantir que todos os atletas tinham condições para enfrentar os últimos 10 km sem entrarem em hipotermia.

A todos foi tirada a temperatura, e todos tiverem que mudar para roupa (camisola) seca e aquecer antes de sair novamente.



Trio RUN 4 FUN, seco e pronto para seguir para Seia


O trio RUN 4 FUN das 100 milhas deixou de considerar a possibilidade de serem Viriatos neste ano agreste (teriam que chegar a Seia em menos de 34 horas e depois seguir para fazer mais 40 km). Ainda bem que tomaram essa decisão, até porque neste ano ninguém foi Viriato. A ninguém foi permitido continuar depois de Seia, devido às condições atmosféricas.




5º Troço - vincere









Os últimos 10 km passaram depressa, mas não sem antes eu escorregar num trilho e cair para cima de umas silvas. A tónica desta prova foi para mim o "escorreganço"

Foram 10 km, quase sem história, percorridos a um ritmo de 11:00 min/km (5,5 km/h), até chegar à meta.

Fui ultrapassando vários companheiros das 100 milhas e dos 100 km, que já não conseguiam correr.

Às 20:46 ultrapassei a linha da meta, muito feliz, após de 12:46 de prova.





Pelas 21:04 chegava o João, após 23:02 de uma prova em condições muito agrestes. Está de parabéns! Excelente! Ainda me cruzei com ele nas ruas de Seia. Não pude esperar pois sentia-me encharcado e a ficar com muito frio. 





Infelizmente a Débora teve de abandonar, em Lapa dos Dinheiros, após ter palmilhado cerca de 90 km. Mas isto é mesmo assim, nem sempre corre de feição. O mais importante é ter a coragem de alinhar na partida.





O banho retemperador no Hotel soube-me muito bem. Depois deitei-me e adormeci que nem uma pedra.



Pelas 03:42 chegava o trio fantástico, após 40:37 na Serra. São enormes pela valentia e bravura de enfrentar tantos km nestas condições.











Domingo


No domingo pelas 10:30 teve lugar a cerimónia de entrega de prémios.





Carmen

 


Teodoro



Tanto a Carmen como o Teodoro fizeram primeiro lugar nos respetivos escalões (F55 e M60), o que já vem sendo hábito. Se não fizessem é que a gente estranhava.



Na distância das 100 milhas (155 km) a Sara Nogueira fez 2ª da Geral Feminina e 2ª do escalão F45:






E o meu amigo Paulo Osório fez 2º lugar do escalão M55 nas 100M




Eu fiz 7º e último do meu escalão. Esta malta é muito forte:




 






Finalmente estou a ultrapassar o Covid Longo.




RUN 4 FUN





Foto de família





Pelas 13:30 fomos almoçar ao Gouveia, em Oliveira do Hospital.


No final, o que fica é a companhia.






Luiz, Sofia, Carmen, Teodoro, 2 amigos,Débora, Pedro, João, Ana, Luis, Rui




E pronto. Mais uma vez este asno teimoso conseguiu completar uma distância Ultra. 

É a 70ª para a coleção, conforme registado no site Correr por Prazer.




















Foi um bom teste à minha preparação para os 114 km do UTAX. E sobretudo foi muito divertido.




Para alguns isto conta como diversão...





No dia seguinte não me sentia demasiado dorido...





Venha a próxima









Kurt Vonnegut tells his wife he's going out to buy an envelope:
“Oh, she says, well, you're not a poor man. You know, why don't you go online and buy a hundred envelopes and put them in the closet? And so I pretend not to hear her. And go out to get an envelope because I'm going to have a hell of a good time in the process of buying one envelope.
I meet a lot of people. And see some great looking babies. And a fire engine goes by. And I give them the thumbs up. And I'll ask a woman what kind of dog that is. And, and I don't know. The moral of the story is - we're here on Earth to fart around.
And, of course, the computers will do us out of that. And what the computer people don't realize, or they don't care, is we're dancing animals. You know, we love to move around. And it's like we're not supposed to dance at all anymore."





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