RUN 4 FUN na Kilimanjaro Marathon

 Run 4 Fun na Kilimanjaro Marathon, ou uma aventura na Tanzânia

Introdução

Estou a trabalhar há um ano no Quénia e pela quantidade de trabalho e por alguma desmotivação, corria muito pouco.

Acresce o facto de não se poder correr á noite como em Portugal.

No início deste ano, tipo decisão de ano novo decidi que ia recomeçar a correr.

Como sou preguiçoso decidi que tinha que me inscrever numa prova (devia ser ao contrário, não é?).

Procurei provas na zona e vi a Kilimanjaro Marathon. Inscrevi-me! O Kilimanjaro tem qualquer coisa de mágico.

Bom, e comecei a treinar um bocadinho. No domingo por volta das 6h30 ia fazer uns treinos maiores. O máximo que fiz foi de 20 km... O calor e a preguiça não deixaram fazer mais.

Entretanto fechei a boca e consegui perder meia dúzia de kg, o que foi uma boa ajuda.

A viagem

Para vir à Tanzânia decidiu que era melhor vir integrado num grupo, pois era mais cómodo e poderia evitar problemas.

Informei-me e lá contactei um treinador que organiza viagens. Fui muito bem recebido e no sábado às 8h00 lá partimos de Nairobi, 2 autocarros com 60 pessoas.

Quer dizer não foi bem às 8 porque no Quénia as horas são muito flexíveis.

A viagem demorou 10h30 das quais mais de 2 na fronteira. Supostamente eu não teria que pagar visto de entrada, mas um branco nestes países não tem hipótese. Como estava muita gente não consegui resolver á maneira africana, ou seja dar dinheiro ao meu interlocutor. Paguei o visto e pronto, lá seguimos.

As estradas na Tanzânia são muito más e têm lombas de 500 em 500 metros. Ora fizemos cerca de 100 km... Imaginem como chegámos partidos!

Alojados no hotel, jantámos e foi preparar as coisas e dormir qualquer coisa.

A maratona

A maratona começou às 6h30 pelo que a alvorada foi muito cedo. O hotel simpaticamente deu pequeno almoço a partir das 4h00.

Na chegada ao estádio a confusão era muita e o facto de ainda ser noite não ajudou.

A partida foi dentro do estádio e eram aproximadamente 1000 inscritos.

Os primeiros 10 km sempre a subir, mas mesmo a subir a sério! Andar nem sequer foi opção!

A vista era brutal, estávamos a aproximar-nos do monte e porra nunca tinha visto nada tão grande! Impressionante!

Por volta do km 8 entrámos num trilho de terra batida no meio de um bananal (a propósito quase todos os abastecimentos tinham bananas e melancia). Após 2 km voltámos ao asfalto.

Do km 10 ao 20 foi sempre a descer. Mas o calor começou a atacar e não foi tão fácil como podem pensar.

Do 20 ao 40 foi numas estradas com trânsito e sem grande piada.

Os últimos 2 km foram perto do estádio e a meta foi no seu interior.

Histórias

Aqui é verão e faz calor e então em muitos abastecimentos havia uma zona de chuveiros para refrescar o pessoal. Acontece que ligaram a água muito cedo e depois quando fez falta já não havia água.

No km 30 acabou a água e foi um desespero. O calor apertava e o próximo abastecimento era aos 34. Ao fim de 2 ou 3 km vi uma loja e fui com o tanzaniano que estava ao meu lado, comprar água. Não me deixou pagar e disse que não queria que eu ficasse com má impressão do país dele.

Mais á frente estava caído no chão um corredor preto e parámos para ver o que podíamos fazer. Entretanto passa um carro da organização com 2 ingleses brancos e um deles sem se baixar pergunta ao caído no chão como estava! Eu disse ao fdp o que ele achava? Porque perguntava isso?

Entretanto alguém chamou uma ambulância e saíram 2 tanzanianos pretos que cuidaram do homem. Em muitas coisas ainda vejo muito racismo.

Conclusão

África tem um encanto próprio e acho que é uma experiência a não perder. Quem não corre, venha de férias e quem corre pode planear uma corrida no meio de umas férias.

No entanto aqui as coisas são muito diferentes da europa e é preciso vir com mente aberta e alguma paciência.

Quanto a esta prova, o saldo é muito positivo e ficará sempre na minha memória.

Alguém disse que não se corre para ter mais anos de vida mas antes para ter mais vida nos nossos anos.

E está tudo dito. Venham a África!