A MINHA PRIMEIRA
A Maratona... 😏
Para quem tiver
paciência de ler, este meu testemunho será mais para explicar como é que uma
maçarica como eu concluiu a sua primeira maratona, até porque percebi que a
minha participação surpreendeu muitos dos meus amigos (e até a mim própria).
Quem já se cruzou
comigo nos treinos ouviu-me dizer que eu não tinha grande interesse nem
motivação para fazer uma maratona. Não gosto de passar horas seguidas a correr
e muito menos em estrada (eu gosto mesmo é dos trilhos). O gosto pela corrida
não tem muitos anos e aumentou exponencialmente com a descoberta deste grupo
incrível de pessoas que fazem do Run um grande Fun. A decisão de fazer A PROVA
surgiu como muitas das decisões que vou tomando na vida: uma vozinha interior
que começa a falar comigo e a inquietar-me... Eu acho que essa voz é Deus, por
isso confio sempre nela e nunca me arrependi.
Em junho deste ano, a 4
meses da maratona, comecei um plano de treinos, mas sem qualquer pressão. Às
vezes comentava com algumas pessoas a minha ideia, mas sem grande alarido. O
período de férias permitia-me treinar mais e fazer distâncias mais longas e,
conforme corresse, logo decidiria se me inscrevia ou não. Se não corresse bem,
existia sempre a hipótese de ir à Maratona de Sevilha. Percebi que tinha muita
dificuldade em fazer treinos de mais de 21kms e ainda mais se treinasse
sozinha. A Carla Rebelo e o Luís Matos ainda fizeram uns treinos longos comigo,
mas a verdade é que nunca passei dessa distância e isso, para mim, era um
entrave à minha participação. Maratona concluída, mantenho essa minha opinião:
seria impensável participar na maratona sem fazer um treino de 30kms. E esse
treino surgiu a duas semanas da prova, quando eu já não pensava ir (nem
inscrita estava), através do treino organizado pelo Nuno Dias de Almeida, nos
Heróis do Mar. Foi fundamental ultrapassar a barreira dos 21kms para depois
terminar os 30 com a sensação de que, se quisesse, podia continuar a correr.
O Rui... No domingo
anterior à prova, eu queria muito ir ao Trail do Magoito (25kms, 950D+), mas
receava que esse esforço não fosse boa ideia... Tenho a sorte de ter um super
padrinho, sempre disponível para dar uns conselhos: “Ana, até 1000D+, não tens
qualquer problema. Força!”. E, claro está, lá fui eu! Para além de ter corrido
muito bem, comprovei que estava com uma forma física melhor do que a habitual.
Tenho de realçar a importância que o Rui Faria tem tido desde que entrei para o
grupo. Para quem, como eu, não percebe muito do assunto, não participava em
provas e encarava a corrida apenas como uma maneira de se exercitar (hoje é
muito, muito mais do que isso), ter um padrinho sempre pronto a ajudar e a
desafiar-me constantemente é mesmo um presente caído do céu. Obrigada Rui!
A Carla... A Carla é
aquela amiga, companheira, super atleta que disse “bora lá!” de todas as vezes
que a desafiei para treinar, nem que fosse só por meia hora ou que já fossem horas
de estar em casa a dormir. A Carla decidiu que ía acompanhar-me na maratona e
assim fazia um treino longo de preparação para a Maratona de NY. Mas eu
garanto-vos que esse argumento não teve peso nenhum na sua decisão. A Carla
correu por mim... Correu ao meu lado, sofreu e emocionou-se comigo e nunca me
deixou desanimar. Obrigada Carla!
A malta da Expo... O
Luís Matos que, para além das suas qualidades de atleta, tem um coração enorme,
desafiou-nos para uma almoçarada em sua casa, na véspera da prova... Eu, que
sou uma pessoa muito disciplinada com a alimentação e o descanso, fiquei
apreensiva, mas não se pode recusar um convite destes! Lá fui, com a condição
de que não beberia alcool nem abusaria dos doces. Não cumpri... 😏 Mas, ir a este almoço foi, também, a
melhor decisão que podia ter tomado. Estar rodeada de amigos, num dia em que só
se falava da prova e do furacão, foi a melhor maneira de descontrair. Um grande
“obrigada!” ao Luís, ao Zé, ao Serafim e ao Nuno, que acabaram por ganhar umas
jolas e uns pregos, tal como lhes tinha prometido se terminasse a prova J
Depois, foi chegar a
casa já de noite, apanhar os ténis que estavam a secar no parapeito da janela e
já tinham voado com o vendaval, preparar tudo para o dia seguinte e, por fim,
deitar-me a ver o filme que o Rui já me tinha falado e que a Sandra Simões me
aconselhou a ver antes da prova: “100 metros”. Top! Quantas vezes, nos últimos
kms da maratona, me lembrei daquela personagem e da sua atitude perante as
adversidades da vida... Obrigada Sandra!
Dia M
Madrugar, encontrar a
Carla e o Manuel Romano, apanhar o comboio no Cais do Sodré a tempo de irmos
comodamente sentados, chegar a Cascais a horas de fazer 3 idas à casa de banho,
cumprimentar os amigos que iam chegando e checkar o equipamento e as cenas que
o Rui me tinha dado para tomar. Estava apreensiva porque, em vez dos géis que
estou habituada a tomar, tomei umas coisas novas e este não era o dia certo para
experiências destas... Mas, claro está, o padrinho não é Deus mas também não
falha 😉 e tudo correu da
melhor maneira!
Toda a gente me dizia para
não stressar nem ficar nervosa, ter muito respeito pela prova e encarar isto
como “um passeio” mas, a verdade é que eu estive sempre calma até ao momento em
que entrei na box de partida... Aí, comecei a tremer de tal forma que até os
dentes rangiam! Mas não durou muito tempo porque a partida foi logo de seguida
e arranquei a pensar: “Já está...! Agora é até ao fim e não há volta atrás!”
Parti com a Carla (um funcionário simpático deixou-a entrar na box) e o Miguel
San-Payo e logo a seguir juntaram-se o Adalberto Grilo e a Paula (uma amiga que
também fazia a sua estreia). Eu mal conhecia o Miguel mas foi um prazer correr
ao lado de alguém com muitos kms nas pernas e muita experiência nestas
loucuras. Sempre calmo e bem disposto, fiquei com pena de não o ter visto no
final da prova (penso que foi traído pelas cãibras...).
O Adalberto... Toda a
gente conhece o Adalberto Grilo. Eu já tinha tido o prazer de participar em provas e treinos
com o Adalberto e conhecia a sua boa disposição. Mas, digo-vos uma coisa: esta
prova não seria a mesma sem a companhia, do princípio ao fim, do Adalberto...
TODA A GENTE CONHECE O ADALBERTO!!! É como correr ao lado do Papa! O Adalberto
não se cala nem por 5 minutos, excepto quando a amiga Paula lhe dá umas
palmadas! 😂 Diz tanto
disparate, mete-se com toda a gente, é uma lufada de ar fresco tão grande que
transformou uma provável tortura numa aventura hilariante! Muito obrigada
companheiro!
A prova
Da corrida em si, não
tenho muito a contar... Foi tudo perfeito! Até o vento nos empurrou pelas
costas! Um tempo espetacular, uma paisagem deslumbrante e abastecimentos na
dose certa. Para mim, a maratona foi uma viagem para se ir fazendo sem pressas,
desfrutando de cada km, de cada recta e curva,
subidas e descidas e a maravilhosa paisagem da marginal. Eu não gosto de
subidas, no entanto, a alteração de percurso que nos fez subir o Alto da Boa
Viagem não me fez qualquer diferença. Estava muito focada nos kms, no nº42, e
estabeleci para mim mesma objectivos de 5 em 5: chegar ao km5, km10, etc, e o
km35 era a barreira que precisava ultrapassar. Sabia que se lá chegasse havia
de chegar à meta, mesmo que fosse a caminhar. Foi uma explosão de alegria
quando passei aquela placa! Nunca, em momento algum da corrida, achei que não ía
terminar. Mas a grande surpresa para mim foi conseguir fazer os 42kms sempre a
correr e abaixo do tempo por mim estipulado (treinei para fazer 4h30 mas não
pensei que conseguisse). Creio que o único ponto negativo que tenho a referir é
a falta de apoio dos portugueses durante o percurso. Poucos ou nenhuns,
observavam em silêncio e, como dizia alguém do grupo, o português é aquele
indivíduo que está dentro do carro a barufustar porque tem a estrada cortada e
não pode passar... No entanto, estou
muito feliz pela decisão de me estrear em Lisboa!
Os Run 4 Fun...
O que eu guardo verdadeiramente
desta prova são as pessoas, os laranjinhas... Os dias vão passando e eu
continuo a pensar naquele dia e em tudo o que aconteceu. Qualquer maratona que
eu volte a fazer nunca será tão especial quanto esta. Este grupo é incrível a todos
os níveis.
No início da prova,
ainda em direcção ao Guincho, foi com um enorme orgulho que vi passar atletas
como o Luís Carvalho, o Luís Matos, o Fernando Rosete, não muito distantes do
pelotão da frente. Faço sempre um grande estardalhaço quando os vejo passar J! Depois, completamente esbaforido,
aparece-nos pelas costas o Nuno Dias que começou a prova com 10´de atraso! J Que espetáculo! Atrasado, acelerado,
mas ainda abrandou para falar connosco e lá seguiu ele cheio de energia e
determinação para fazer mais um grande tempo! Ainda vi passar o Manuel e o
Orlando Ferreira a grande velocidade. Fomos sempre concentradíssimos mas, ao
mesmo tempo, num ambiente descontraído e animado. Nem precisei de parar nos abastecimentos
porque a Carla trazia tudo o que eu precisasse.
Não sei precisar em que km (penso
que depois dos 21) vejo ao longe o Francisco Afonso. Foi aqui que começou a
festa! O Francisco veio para dar força aos laranjas em prova. Surgiu cheio de
energia e com a sua habitual boa disposição. Filmou-nos, conversou com todos,
fez-nos o relato dos atletas que já tinham passado e acompanhou-nos durante uns
bons kms. Este episódio fez com que surgisse uma nova dinâmica no grupo e na prova
e ajudou bastante a superar mais uns kms. Um pouco mais à frente, surge o João
Barreira. João, fiquei tua fã! 😃 O João, que quase podia ser meu filho 😏,
tratou-me como se fosse meu pai! A mãe já eu tinha (era a Carla). Os dois
ladearam-me e tinham como objectivo que não me faltasse nada. Davam-me água,
laranjas, suplementos, iam conversando de forma a que eu não desmoralizasse e
mantivesse o foco.
Uns kms depois, surge o
grupo das bikes: a Sandra, a Rute Fernandes, o Rui e o Pedro Ribeiro. Também eles
estavam à minha espera, depois de já terem passado pelos outros laranjas. Mais
uma onda de boas energias! A Sandra fotografava e o Rui filmava. O padrinho
quis certificarsse que estava tudo bem e deu-me mais uns hidratos para eu
beber. Lembro-me que a uma determinada altura lhes pedi que não me dessem mais
nada porque já estava a afogar-me em tantos líquidos! Mais à frente (talvez no
km 30) passamos pelo António Estrela que, como habitualmente, fazia parte do
staff num dos postos de abastecimentos. O Estrela, com o seu grande sorriso,
passou-me uma garrafa de água. Quando a Carla e o João aparecem com outra
garrafa cada um tive que lhes dizer que já era água a mais... 😂 Ainda vimos o Paulo Raposo a correr na
direcção oposta e o Alfredo com o Gico a falar com um atleta que estava a
sentir-se mal (viémos a saber que já tinham acompanhado os nossos aceleras). Surgiam
laranjas de todo o lado! Algures na Av. Brasília surgem a Manuela Machado e o
Pedro Machado. Estava a festa completa! A Manuela é aquela simpatia atlética e
o Pedro, já se sabe: “É Run, é Fun, é Run 4 Fun!” a toda a hora e com toda a
pujança! J Senti-me a
pessoa mais importante do mundo! Parecia uma atleta VIP, com uma comitiva de
guarda costas à minha volta a abrir caminho para a minha passagem.
Lembro-me que foi pouco
depois (algures entre os km35/37), que as pernas começaram a dar sinal. Não
posso dizer que tenha sentido “o muro” pois não foi nada assim tão forte que me
fizesse questionar ou parar, mas as dores surgiram e foram aumentando
gradualmente. Aqui, tenho praticamente a certeza que teria começado a caminhar
se não estivesse acompanhada... Mas também sabia que, se parasse, seria difícil
obrigar as pernas a voltar a correr. Comecei a queixar-me das dores e do
cansaço e todos me incentivaram a continuar e pensar que já faltava pouco. E
assim foi. Abrandei o ritmo mas não parei. A ideia de fazer algo para mim
inimaginável, fazer uma maratona completa sem parar e poder contar aos meus
filhos o meu feito, foi a cenourinha que me levou até à meta.
Normalmente, quando
já estou em grande esforço e desejosa de terminar uma prova, o meu humor muda
bastante... J A Margarida Gonçalves
é das poucas pessoas que sabe do que eu falo... Ela viu a minha cara feia no
Trail dos 10 Vulcões J
Foi também o que aconteceu aqui. A partir desta altura todos falavam comigo e
eu já não conseguia ouvir ninguém... Só me apetecia dizer palavrões e terminar
a prova o mais rápido possível! Mas alguns dos meus companheiros também já
vinham em esforço... No último km surgiu-me uma dor no pescoço que se estendia
para as omoplatas. Quando me queixei, a Carla e o João gritaram em uníssono
“NÃO DÓI NADA!!!!”, de tal forma que eu encolhi-me, não disse mais nada e até
esqueci a dor... 😂 Nessa altura vejo aparecer o Nuno Silva que, após terminar a Meia Maratona,
veio ao meu encontro certificar-se que eu acabava a prova.
A chegada ao Cais das
Colunas foi emocionante... Ía terminar! A adrenalina estava de tal forma que
até eu gritava: É Run, é Fun, é Run 4 Fun! Mesmo nos últimos metros, as ruas
estavam cheias de pessoas a assistir em total silêncio... Foi preciso o Pedro Machado
usar o seu vozeirão para alguns reagirem e aplaudirem. E foi assim. Depois de
uma longa caminhada em grande companhia, termino a prova passando a meta
sozinha e agradecendo ao meu amigo lá de cima por tudo. Depois, só queria
voltar para junto das minhas pessoas e festejar esta vitória. Só depois de
abraçar alguns (Marina, Andreia... 😍)
é que me parti toda... Desatei num choro que nem sei explicar bem... Mas foi
tão bom, depois de tudo, ainda encontrar os laranjas que tinham feito a Meia (a
malta fixe da margem sul! J),
outros que apenas tinham vindo para celebrar, e sentir a alegria genuína de
todos pela minha vitória. Muito, muito obrigada a todos, não só os que
estiveram presente neste dia mas também tantos outros que me têm acompanhado e
incentivado nos treinos e provas.
Termino com a ideia que
fiquei de que a Maratona depende essencialmente de três factores: 45% de
treino, 50% de cabeça e 5% de outros pequenos factores (sorte?) que nem sempre
controlamos e que podem fazer toda a diferença. No meu caso, eu tinha muita
coisa nestes 5% para que esta prova pudesse não correr bem, mas foi tudo
maravilhosamente perfeito! Sempre pensei que quando terminasse a maratona
juraria a mim mesma nunca mais repetir esta loucura. Mas não. Terminei cheia de
vontade de me inscrever na próxima! Não sei o que se passa comigo... J
Acho que a melhor analogia que encontro
para a Maratona são as dores de parto: um sofrimento atroz, que depressa
esquecemos para voltarmos a repetir a dose! 🏃
MARATONA DE LISBOA - 14 de outubro de 2018
Ana, que orgulho e alegria senti ao ler isto - és uma inspiracao - agora tb ja m decidi!
ResponderEliminarParabéns Ana. Fica para a posteridade.
ResponderEliminarBelo relato,com razão e muita emoção, enriquecido com bonitas fotos ilustrativas do texto.
E já temos uma decisão (blogic) inspirada na tua "história".
Runabraços
Parabéns Ana, que grande Post!
ResponderEliminarMelhor ainda essa estreia na tua primeira Maratona.
Momento inesquecível que ficará para sempre gravado, habitualmente digo que nunca serás a mesma.
Muito orgulho em ter sido uma parte dessa experiência, os trilhos ainda trazem melhores recordações.
Agora tem um longo menu para experienciar cheio de emoções e momentos inesquecíveis.
Obrigado pela partilha.
Sevilha será inesquecível.
Muito bom Ana, PARABÉNS.
ResponderEliminarÉ um relato inspirador que iremos gostar de recordar.
O Ndda nunca falha: "Sevilha será inesquecivel"
:-)