24h a Correr (Mem Martins)


Nunca tinha participado numa prova com este formato. Corresponde a uma corrida com duração fixa (24 horas) que decorre ao longo de um circuito curto (2.1 km) onde cada participante percorre a distância que entender, contabilizada pelo número de voltas, ao ritmo que julgue adequado para sí.

Não é propriamente o tipo de desafio que me entusiasme e por isso devo confessar-vos que as minhas expectativas não eram elevadas. Adicionalmente tratava-se da primeira edição da prova o que sempre coloca às organizações desafios acrescidos. O risco de alguma coisa correr mal é portanto mais elevado. Além disso previa-se um fim-de-semana de muito sol com temperaturas elevadas, o que é para mim um grande inconveniente, particularmente quando o percurso é pouco arborizados (como era o caso). Mas eu não podia faltar, não só pelo desafio mas porque a malta da Real Academia merece consideração e portanto todo o meu apoio.

(Jorge Esteves, Célia Azenha, Carlos Mendes e Teodoro Trindade)
 

A prova começou às 12 horas de sexta-feira (feriado de 5/10/2018) no Parque da Bacia de Retenção de Águas do Algueirão com perto de 25 participantes. O percurso possuía um piso constituído por alcatrão, passadiços de madeira, terra batida e zonas com alguma vegetação rasteira. O desnível era suave e não constituía obstáculo significativo, para mim o principal problema estava na irregularidade do terreno com troços com muitas covas e outros com sulcos acentuados.

Do R4F, além de mim participou o Jorge Esteves. A Elsa Mota também participou na prova de “3h a Correr” a qual teve início às 9 horas do dia seguinte (sábado dia 6/10/2018).

O espírito deste tipo de provas é efectivamente diferente da maioria. Não é só pelo facto de existir um limitado número participantes, é sobretudo pelas interacções que se estabelecem nos cruzamentos ao longo do percurso, as palavras de incentivo, os acenos, os sorrisos ou até simples olhares dão-nos alento e força para continuar. Nas paragens, no abastecimento ninguém resiste a dois dedos de conversa, a uma piada ou mesmo a um lamento, mas invariavelmente com espírito positivo. Aqui, quem estiver mais cansado pode descansar mais tempo e retomar o andamento um pouco mais tarde, portanto não há razões para ter pressa pois a meta está logo ali, a dois passos.

O dia estava quente, havia pouco vento que só se sentia num pequeno troço. Por isso comecei devagar e a parar regularmente para não “sobreaquecer” demasiado. Apesar disso, ainda não eram 6h da tarde e já estava estoirado. Com o final do dia a temperatura baixou e “renasci”, mas a menor visibilidade no percurso começava a ser um problema exigindo atenção redobrada. Felizmente foram instaladas lanternas, sobretudo nos locais mais escuros, o que veio atenuar o problema. E foi tão eficaz que nunca tive de usar o meu frontal.
(Jorge Esteves e Teodoro Trindade)


Sentia-me bem, rolava a ritmo constante, alternava a corrida com marcha em certos troços mais inclinados, e o tempo ia passando. O sono é que não me largava apesar de já ter bebido 3 ou 4 cafés. Virei-me então para o chá preto, enchia uma garrafa de meio litro que levava comigo e voltava a encher quando esta acabava. Perdi a conta aos litros de chá que bebi, mas o que é certo é que resultou, aumentei a frequência de paragens “técnicas” no WC mas o sono desapareceu.

O pior veio com o nascer do sol. Apesar de ter mudado de sapatos e de meias, comecei a notar um desconforto nos pés, sinal de aparecimento de bolhas. Tentei minimizar os estragos mas já era tarde. A cadência da corrida diminuiu bastante, e pelas 9h da manhã já era demasiado doloroso correr pelo que a partir dessa altura foi só caminhada lenta com paragens mais demoradas no abastecimento.

(Teodoro Trindade, Francisco Mira Gaio e Carlos Fonseca)

E pronto, lá completei a minha primeira “hamster” de 24h, com 149,1 km percorridos (71 voltas), 5º lugar da geral, e 2º lugar no escalão (ladeado por dois fantásticos atletas, o Francisco Mira Gaio e o Carlos Fonseca, o que muito me orgulha).



Não posso terminar sem os mais que merecidos agradecimentos.

Em primeiro lugar ao Jorge Esteves pelo companheirismo, pelo desafio que sempre coloca nestas “aventuras” e pela amizade. É um privilégio poder acompanha-lo nestas maluquices e sempre um prazer correr ao seu lado.
(Membros da equipa organizativa da prova)


Depois à excelente organização do evento. Ao Álvaro Pinto, António Vilela e restante equipa (desculpem não vos saber nomear). Todos são merecedores do meu agradecimento porque o vosso esforço e empenhamento foram enormes e sentido por todos os participantes. Não me posso esquecer do Francisco Pacheco, pelas excelentes massagens que me soltaram os músculos e ajudaram a ir mais longe. Uma boa fatia dos quilómetros que percorri devo-a ao Francisco. Obrigado. E, de propósito, deixei o melhor para o fim. A toda a equipa da “Base de Vida”, Adélia Pinto, Ana Maria Silva, Glória Vilela e Mariana Henriques, os meus maiores agradecimentos. Estas senhoras foram inexcedíveis em auxílio e simpatia. Sentia-se que a preocupação connosco era genuína, e tudo isto durante as 24h, incansáveis. Não tenho palavras suficientes para lhes agradecer, elas merecem tudo. Caro Álvaro, não te desfaças desta equipa, ela vale ouro.

E não vou terminar sem um agradecimento ao Orlando Duarte, pelas fotografias, pelo esforço de divulgação durante a prova e sobretudo pelo espírito abnegado que colocou no acompanhamento deste (e de outros) evento. MUITO OBRIGADO.

 

 (Vídeo do início da prova, filmado pelo Luís Palma. Obrigado pelo apoio).

Nota: Fotografias de Orlando Duarte.

Comentários

  1. São Gigantes estes 3.

    Obrigado Teodoro e jorge, estou sempre a aprender convosco.~

    Fico como existe alguém capaz sde abraçar tamanhos desafios com toda esta abgenação, apenas pelo Desporto.
    Quem sabe um dia lá chegarei ???
    Notável!!!!

    Obrigado e três palavras de Admiração:

    Elsa, Jorge, Teodoro.

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