Há Experiências Fantásticas

No início do ano fui desafiado pelo Jorge Esteves e pelo Nuno Tempera, a participar na Corrida Espírito d’Aliança, 100 km ao longo das Linhas de Torres entre Lisboa e Mafra (http://espiritodealianca.org/).

Na altura achei uma boa sugestão pois seria um treino longo para os “Caminhos do Tejo” que pretendo realizar em Junho. Mas posteriormente fui-me apercebendo de algumas características que não tinha ponderado inicialmente. O Espírito d’Aliança é uma prova por etapas (12), as quais correspondem aos abastecimentos (Ronda tem 20). Cada etapa possui um intervalo temporal constante (ponderado pelo desnivel), o que impede cada corredor de efectuar a gestão do esforço de acordo com as suas características. Numa prova tão longa isto é uma enorme restrição. Mas como a duração proposta para a prova (15 horas) correspondia a um ritmo moderado, não pensei duas vezes. E assim, às 04h:30 de sábado (17/05/2014) lá estavamos no pavilhão central do Técnico: Jorge Esteves, Nuno Tempera, Joana Barros Peralta e eu.

O Espirito d’Aliança é uma prova não competitiva com propósitos solidários (Fundação Portuguesa de Cardiologia), cujo mentor/organizador é o António Carlos Teixeira Duarte (Clube do Stress). Nos 100 km existiam cerca de 40 inscrições, mas também havia uma ultra (Lisboa ao Forte do Algueirão: 47 km), uma maratona (Quartel General – Mafra: 42 km) e também inscrições em etapas (uma ou mais). Um dos inscritos na 1ª etapa foi o ministro Mota Soares que nos acompanhou, assim como um mar de gente, na partida às 5h até ao Trancão (início da 2ª etapa). Destaco a participação nos 100 km de um corpo de enginheiros militares britânicos e de uma representação mista do Regimento de Transportes português em inúmeras etapas.

A temperatura amena da madrugada e a frescura inicial fez com que a primeira meia maratona fosse percorrida sem dificuldades. Além desse ponto e apesar das bonitas paisagens, começaram a fazer-se sentir as dificuldades. Uma quebra numa etapa representava chegar ao próximo abastecimento perto do tempo limite, sem possibilidade de descanso ou alimentação suficientes o que se iria repercutir nas etapas seguintes. No entanto é de enaltecer a eficiente logistica da prova e o amplo apoio fornecido pela GNR.

No início, procuramos imprimir um ritmo cauteloso. O Nuno e o Jorge cheios de força, a Joana com uns contratempos iniciais e eu sentindo um crescente desconforto nos pés. Quando a temperatura começou a subir, por volta da 9/10h é que tudo se complicou. O grupo começou a alongar muito o que deu origem a atrasos em relação ao plano inicial. O piso dificil com pedras e muitas irregularidades não ajudava, originando “baixas” sucessivas. O Nuno esteve muito bem até aos 60 km onde foi obrigado a desistir. A Joana continuou até aos 77 km onde abandonou, mas poderia ter continuado porque ainda estava fresca. Ela é sem dúvida uma notável atleta. O Jorge estava “na boa”. E eu tinha queixas crescentes dos pés (bolhas). A passagem por dentro de um ribeiro foi o princípio do fim. A água e a areia nas sapatilhas aumentaram a fricção na planta dos pés e a dor da caminhada. Coloquei pensos, mudei as meia, calcei sapatilhas secas, mas não foi suficiente. Arrastei-me. Atravessar a Tapada caminhando sobre gravilha foi a “cerejinha”. A companhia do Jorge e de alguns membros do Clube do Stress, ajudaram a minimizar a desgraça e vencer os penosos 8 km finais.

A chegada em grupo dos 17 finishers dos 100 km, liderada pelo António Carlos, foi muito bonita. Mas ainda mais foi ser surpreendido com a elite das falanges de apoio, formada pela Margarida, pela Elsa e pelo João Ralha. Depois de ter andado perdido ao longo de 100 km por montes e vales (mais montes que vales), cansado e cheio de dores, ouvir estas três vozes antes da meta fez-me imediatamente esquecer todas as dificuldades passadas. Obrigado (x100), voçês são especiais para mim.

Mas também quero agradecer muito ao Jorge, à Joana e ao Nuno. Sinto-me bem quando estou convosco. 

OBRIGADO.


Posfácio:

Antes de esgotar a bateria, registei no meu gps 99.3 km em 16h:07, os quais incluem perto de 30 min de espera pela abertura do portão de saída da Tapada, 2681 D+ e 2469 D-, com um estimado dispendio de 7179 cal. É merecedor de uma costeleta de javali não acham?

Teodoro Trindade


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