Maratona de Sevilha 2014 - A minha primeira maratona

Autor: Rui Santos
Data: fevereiro 25, 2014



Conforme prometido, aqui fica a partilha da experiência vivida na minha primeira maratona. Antes de avançar para a maratona, penso ser importante fazer um pequeno enquadramento, de como vim aqui parar, tanto para os/as que ainda não me conhecem, como também para os/as que já me conhecem e também para todos/as os/as que estão a começar a correr e que de alguma forma, o relato da minha experiência os possa ajudar neste mundo das corridas. Entre 2009 e 2010, com o objectivo de ter uma vida mais saudável, tomei a decisão de passar a ter uma alimentação mais cuidada, através da qual consegui ajustar o meu peso, ao peso ideal para a minha altura/idade. Mas faltava alguma coisa... Por forma a tirar o melhor partido desta decisão, decidi que a deveria complementar com uma prática desportiva. No final 2011 inscrevi-me num ginásio, mas face à minha agenda profissional acabei por me aperceber que esta não era a melhor opção. Já não me lembro quem, mas houve um amigo que na altura me sugeriu começar a correr, era algo que poderia começar a partir de casa e controlar mais facilmente o pouco tempo livre. Em Agosto de 2012, decidi começar a correr. Quando comecei a correr, houve alguém, que também não me lembro quem, que me sugeriu começar a inscrever em corridas, porque dessa forma iria assegurar um plano de treino mais regular. Como tinha a corrida agendada, era forçado a treinar. Em Setembro de 2012 fiz a minha primeira prova, os 5,5 Km da Mini Maratona Vodafone Rock'n'Roll. Recordo-me que na altura me causou bastante nervosismo, que me custou a completar a corrida e também me recordo de ter pensado "Grandes Malucos" aqueles que estão a fazer a meia maratona, jamais me vão "apanhar" a fazer uma meia maratona. Entretanto fui evoluindo, fiquei com o "bichinho" das corridas, aumentei a fasquia e passei a fazer corridas de 10 Km. No final do ano, por sugestão da Sandra Correia e do Eduardo Correia, surgiu a possibilidade de entrar para os Run 4 Fun. Na altura fiquei com algumas duvidas se deveria ou não aceitar o convite, fui inclusive investigar se estaria à altura do grupo, não queria fazer má figura. :-) No inico, lembro-me de fazer um dos primeiros treinos com várias elementos, entre os quais o João Ralha, que me tentou aliciar para as maratonas e que na altura lhe disse que não, que não fazia parte dos meus planos, ao mesmo tempo em que pensava "Grandes Malucos" já mais me vão convencer. Lembro-me ainda de fazer um outro treino, de 32 Km, com o os Run 4 Fun, treino de preparação para alguns elementos que iriam fazer uma maratona e novamente o mesmo pensamento "Grandes Malucos" aqueles que vão fazer a Maratona. Quanto muito posso fazer uma meia maratona, agora uma maratona, não, nem pensar. Voltei a aumentar a fasquia e passei a fazer também meias maratonas. Um ano depois, em 2013, para celebrar a data, em vez de fazer a mini, já fiz a Meia Maratona Vodafone Rock'n'Roll. Novamente várias pessoas me tentaram convencer a fazer a maratona e novamente o mesmo pensamento "Grandes Malucos", nem pensar. Mas, por outro lado, recordo-me também de ver a dedicação e rigor do António Arede no seu plano de treinos para a maratona e não posso negar o quanto para mim foi motivador. Também foi bastante motivador ler todos os relatos de quem fez a maratona de Lisboa, de como superaram as adversidades com que se depararam e como conseguiram chegar ao fim. A excelente marca obtida pelo Daniel Vilabril, meu colega de trabalho, também foi para mim um elemento motivador. E eis que, ainda não sei bem como é que aconteceu, mas que tomei a decisão de que 2014 ficaria assinalado como o ano da minha inicialização à Maratona. Pesquisei na Internet, quais as maratonas mais próximas e qual delas a mais indicada para quem se vai iniciar na distância. E assim surgiu no topo das opções a Maratona de Sevilha. Apressei-me a fazer a inscrição, não fosse a vontade desaparecer, elaborei um plano de treinos a quatro meses e comecei logo a treinar.




A motivação era tal que acabei também por me inscrever na maratona de Madrid, na maratona do Monsanto e na Maratona do Porto. A maratona de Lisboa também foi seleccionada, mas encontra-se em standby à espera da abertura das inscrições. Os dois primeiros meses foram repletos de treinos, os quais deram frutos, batendo todos os meus PBTs. Infelizmente já não posso dizer o mesmo dos dois últimos meses, nos quais por motivos profissionais e também devido às condições climatéricas, o número de treinos caiu drasticamente. De acordo com a preparação que estava a fazer e com o site McMillan Running , com base nos tempos das minhas provas anteriores e treinos, eu teria capacidade para correr a maratona a um ritmo de 4:55 para um tempo total de 03:27:58. Apesar de muito ambicioso, na altura pareceu-me ser possível, uma vez que as mesmas orientações serviram para fazer PBT nos 10Km e nos 21Km. No entanto, no dia da prova, com o nervoso miudinho a atacar e por ter a consciência que não tinha cumprido o plano de treinos, mudei o objectivo para terminar a prova entre as 03:30 e as 03:45. Após uma caminhada de 2 kms até ao ponto de partida, dirigi-me à minha caixa de acordo com a identificação do dorsal. Pelo caminho encontrei vários Run 4 Fun, assim como constatei que a presença Lusa se fazia representar em grande número. Na mesma caixa de partida encontrei o Fernando Rosete, o Orlando Ferreira, o José Magalhães e o Jorge Paulo. Cada um com o seu objectivo estabelecido, assim que se deu a partida, só nos mantivemos juntos nos primeiros metros.



Cada um imprimiu os seus ritmos e rapidamente deixei de ver o Fernando Rosete, que pôs logo o pé no acelerador. O Orlando ainda o fui vendo nos primeiros kms, mas depois também acabou por carregar no acelerador. Quando comecei, como o tempo estava fresco e me sentia muito bem, procurei manter uma média entre os 05:05 e os 05:10, a ideia era fazer os primeiros 5 km a esse ritmo e depois avaliar. Feitos os primeiros 5 Km, como me estava a sentir bem, mantive até aos 10 Km, e depois até aos 15 Km, agora o objectivo era manter até aos 21 km e reavaliar. Assim teria a possibilidade de corrigir até aos 05:20, por forma a completar no intervalo definido. Recordo-me, no final do km 9, de ser passado por um grupo que seguia o balão das 03:30. O balão das 03:30? Ainda vai aqui? Olhei para o relógio para confirmar os tempos, mas estava tudo ok, eram eles que estavam atrasados, não era eu que estava adiantado. Estávamos a correr junto ao rio e à minha esquerda, do outro lado do rio, consegui ver o meu hotel. Repentinamente a rua estreitou e ficámos completamente envolvidos num estreito túnel de pessoas que incentivavam e apoiavam os atletas. "fuerza campeones", "animo" gritavam eles, batiam palmas, agitavam cartazes e bandeiras, sopravam apitos e tocavam buzinas. Contagiado por toda esta energia e motivação, decidi acompanhar o balão das 03:30, só para ver qual o ritmo da passada. 04:53, estavam nitidamente a recuperar caminho. O meu ritmo cardíaco subiu e na minha cabeça os alarmes começaram logo a tocar. Decidi não arriscar, deixei-os seguir e voltei à minha passada. No km 17 resolvi tirar o pé do acelerador, uma vez que comecei a sentir uma impressão nos gémeos da perna esquerda. Saltou-me à memória um treino recente no Monsanto onde tive que parar no km 15 pelo mesmo motivo. Na altura pensei, "vou abrandar e isto vai passar". "Não pode acontecer o mesmo que no treino." "Não vai acontecer." Tentei mentalizar-me que não iria acontecer o mesmo, mas infelizmente a impressão começou a aumentar, nos Kms seguintes passou a desconforto e no km 20 a dor instalou-se. Pensei que teria que desistir, estava perto de atingir metade da prova e ainda faltava mais outra parte igual. Mas eis que reparei que nos pontos de assistência, os enfermeiros estavam a colocar um spray aos atletas que o solicitavam. Ok, antes de desistir vou tentar e assim foi, parei e pedi para colocarem o spray. Devo dizer que não funcionou muito bem, mas como estava de calças pensei, daqui a 2 Kms, levanto a perna da calça e a aplicação vai ser directa. Consegui chegar ao km 22 onde fiz uns alongamentos e depois solicitei a aplicação do spray. Funcionou e assim fui eu avançando neste ritmo de corre, alonga e aplica spray. Houve Kms muito complicados em que fiz parte a correr e parte a andar até ao próximo ponto de assistência. Os Kms 33, 35, 40 e 42 foram complicados de gerir. Do Km 20 até ao fim foi uma autentica guerra psicológica, sempre a pensar "tu nunca desistis-te de uma prova e não vai ser hoje que o vais fazer", "esta é a tua primeira maratona, não podes falhar", "vieste até Sevilha para fazer uma maratona e vais fazer até ao fim"… Valeu o apoio da minha esposa Teresa Coelho, que me foi ligando ao longo do percurso, com apoio e incentivo. Valeu o apoio dos colegas da nossa Super equipa Run 4 Fun. Valeu o apoio de outros atletas tugas. Valeu o apoio das multidões. Vi passar o balão das 03:45. Vi passar o balão das 04:00. Não me recordo bem a que km foi, mas encontrei o Rui Ralha com a sua GoPro ao peito. :-) No final consegui reunir forças para entrar no estádio a correr. Na ultima curva antes da recta da entrada para o estádio recebi o apoio da Maria Antunes que se encontrava a fazer a reportagem fotográfica. Na recta de entrada para o estádio recebi mais um apoio do José Carlos Melo, que nunca imaginei encontrar ali, uma vez que não sabia que ele também ia fazer a maratona. Quando entrei no estádio a emoção foi tanta que por momentos me esqueci da dor. Foi com muita emoção que cortei a meta do que me pareceu ser uma never ending story.
Foi sem duvida uma experiência a repetir mais vezes, mas sem o pormenor da dor nos gémeos. :-) Agora também sou Maratonista. Agora também faço parte dos "Grandes Malucos". Um Grande Obrigado à minha esposa Teresa Coelho, por todo o apoio e motivação que me tem dado, e também pela paciência em esperar muitas vezes por mim para almoçar e jantar. Um Grande Obrigado à Joaninha também pela motivação e paciência em esperar muitas vezes por mim para almoçar e jantar. Um Grande Obrigado à minha mãe, por todo o apoio e motivação e também por ter estado a acompanhar a prova via web. Um Grande Obrigado ao Jorge Caldeira por todo o apoio, motivação e também pelo acompanhamento e relato via web. Um Grande Obrigado a todos os que prescindiram um pouco do seu tempo para colocar um like e/ou para expressarem as suas mensagens de apoio e felicitação. Um Grande obrigado a todos os Run 4 Fun, que de uma forma ou de outra colocaram o "bichinho" da corrida e alimentaram esta vontade de continuar a treinar, participar em provas e estabelecer novos objectivos.



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