Mais do que a
relatar, vou enquadrar a minha prova. Nunca me considerei uma pessoa desportiva
e muito menos atleta. Mas lembro-me de ser pequenina e de ver a Maratona na
televisão, e ficar fascinada. Como é que era possível que aqueles haver pessoas
a correrem aquela distância, quase Lisboa- Ericeira?
A primeira vez
que corri foi com a minha amiga Vanda por brincadeira, na Ericeira, com uns 17
anos. Fazíamos uns passeios ocasionais para mantermos a forma, e era muito
divertido. Casei aos 18 com um desportista, e ele incentivou-me a correr.
Comecei a correr sozinha pelas ruas de S. João do Estoril aos 19 anos, e
adorei. Mas tive um acidente ao fim de muito poucas corridas… levei com um
portão de ferro de uma garagem quando estava a correr num passeio e fiquei
estendida sem sentidos no chão. Fui levada para o hospital com um traumatismo
craniano e nunca mais corri na rua.
Voltei a
correr muitos anos mais tarde no ginásio. Inscrevi-me num ginásio em 2000 e
nunca de fazer exercício físico desde então. Fazia 4 a 7 vezes por semana, e um
dia um dos meus professores disse-me: “vejo-te cá muito, mas gostava de te ver
correr numa passadeira 40 minutos a 10 km/h sem parar”. Fiquei a pensar
naquilo. Pensei “ah, com a minha preparação, consigo de certeza”. Estava aí em
2007-2008. Comecei a correr na passadeira. Claro que, a primeira vez aguentei
uns 10 ou 15 minutos, a 8 km/h e “ia morrendo”. Mas rapidamente comecei a
correr 1 hora a 8km/h, depois 9, depois 10. E fiquei-me por ali. Sempre na
passadeira. Mas era um sacrifício. Era chato… Só que gostava da sensação que
tinha a seguir.
Enchi-me de
coragem e recomecei a correr na rua. Na Ericeira, claro, onde é mais seguro (e
onde eu não tinha ginásio aos fins-de-semana ou nas férias). Mas nada de
especial… treinos de 30 minutos, ir à Foz e vir. Correr distância lá é chato.
Sempre foi, e ainda é. Ser mulher e mãe não ajuda. Requer muita
disponibilidade…
Correr mais “a
sério”, ou seja, com mais frequência, comecei no início de 2011, com o meu
divórcio. De raiva. Na Expo. Sozinha. Cerca 9-10 km em 1 hora, done (estimativas de distância via
Google Maps, pois não tinha nada que medisse distâncias comigo). Por mim, estava
muito bem… Corria aí duas a três vezes por semana. Quando instalei o Runkeeper no Verão do ano passado progredi
e a velocidade aumentou para os 11 km/h.
Acabou o Verão
e queria correr. Voltei à passadeira e percebi que nunca mais correria indoors.
Mas correr na rua sozinha à noite era coisa que não me agradava. Então pedi
ajuda aos Run 4 Fun. E nesse dia o César lá me convenceu a ir treinar com um
grupo de malucos essa noite... O César, o Teodoro, o Jorge Esteves, o Alfredo,
o Tempera, o Serafim, o Zé. Esqueci-me alguém? Só sei que levei com um baptismo
de mais de 20km repartido em 3 pequenos treinos: Vela Latina-Largo do Camões,
Luna Run, Largo do Camões – Vela Latina! Aqueles últimos quilómetros no
regresso, depois das docas, pareceram-me intermináveis. No entanto, não parei.
E no final fiquei muito orgulhosa. Mais… nessa noite aconteceu-me uma coisa
extraordinária: apercebi-me que conseguia correr muito mais do que alguma vez
pensei!
Os Run 4 Fun
“adoptaram-me”, embora nem sempre conseguia (nem consigo) dedicar-me o tempo
que quero a correr. Apareço quando posso, e as outras mães divorciadas
entendem-me perfeitamente.
Em Setembro
deste ano aventurei-me no treino Expo-Católica, Corrida da Católica,
Católica-Expo e adorei! Senti-me bem durante e no final. Não gosto de correr
depressa. Nunca gostei. Custa muito. Mas nesse dia apercebi-me que teria
corrido mais… e a Maratona ficou-me plantada num cantinho recôndito do cérebro
(porque no coração, ela sempre esteve).
Restou-me
arranjar pernas e treinar a cabeça. As pernas foram mais difíceis, porque ainda
apanhei um susto no joelho direito uns dias depois desse longão, e fiquei “de
molho” durante umas semanas. Fui a um médico ortopedista, pai da minha melhor
amiga, que me conhece de bebé perguntou-me na consulta:
-“Joana,
fizeste algum esforço grande nessa semana? Alguma coisa de especial?”…
-“Bem, tio,
sou capaz de ter corrido uns… 30 kms assim
meio à bruta…”
De olhos
arregalados, deu-me um anti-inflamatório e indicações de que se não passasse
teria de fazer uma RM. “Posso correr?” Perguntei eu… e os olhos iam-lhe saltando
das órbitas. “Se te dói, não!!!” Bem, escusado será dizer que corri. Corri a
Meia do Rock n’ Roll e de Amesterdão. Pouco depois lá fiz a RM… foi carga!
Entretanto a
ideia da Maratona foi germinando. Andava a correr mais do que nunca com o
núcleo Sintra-Oeiras. Sentia-me bem e capaz… Entretanto a Mónica também começou
a falar comigo sobre fazermos a prova. Decidi que se não tivesse lesão, iria
corrê-la já em Dezembro. Porque não?
Restou-me
alterar a inscrição de Meia para Maratona e fazer 3 mais longões. O primeiro de
30km com os Run 4 Fun, o segundo de 33km sozinha (considero essencial
habituarmo-nos a correr sozinhos) e o terceiro de 35km com o Nuno Tempera.
Agora a prova
em si.
Não estive
nada nervosa. Estive contente, uns dias antes e hoje. Adoro correr devagar mas
muito tempo. Estava em boas condições físicas, embora nestes últimos quase 2
meses tenha engordado 2,5kg por causa do tipo de treinos (longões abrem-me o
apetite e requerem mais descanso do que estou habituada). Podia não fazer um
tempo espectacular (as 4 horas de que toda a gente fala), mas era a minha
prova. Era a minha corrida, tal como me dá gozo: a ouvir música, a cantar, a
rir, a meditar. Ainda por cima acompanhada por todos, e pelo Nuno.
Na véspera
dormi bem, acordei bem-disposta e estive sempre bem-disposta durante a corrida.
Não gosto muito é de falar durante treinos longos (excepto de jóias, César).
Gosto de ir “em transe”… a pensar, a cantar ou a ouvir o corpo para me
corrigir. Falar, só nos treinos.
E pronto, foi
assim que corri a minha primeira maratona. Vou correr muitas mais, haja saúde!
Mas sempre como me dá prazer ou seja, descontraidamente. Claro que tenho alguns
pormenores técnicos a ajustar. Mas com quilómetros nas pernas, os resultados
virão.
Continuo a não
me considerar uma atleta, apenas gosto de correr.
Agradeço aos
Run 4 Fun por tudo. Sem vocês, por diversas razões, nunca teria conseguido este
feito. E repito os agradecimentos que fiz no FB.
Joana
Peralta
Obrigado pela partilha Joana.
ResponderEliminarBelo e histórico relato.
Tem sido um prazer ver-te evoluir e poder contar com a Tua fantástica companhia nos muitos treinos que fizemos em conjunto.
O que conseguiste atingir em tão curto espaço de tempo, foi simplesmente fantástico.
Muitos parabéns.
Vamos continuar a treinar e preparar as próximas aventuras :)
Runbeijo
Parabéns Joana.
ResponderEliminarGostei muito de ler o teu relato. Inspirador.
É claro que és uma atleta e de grande nível.
Quantas mulheres tens a fazer a maratona em Portugal e no mundo?
Continua assim.
Obrigado.
AC
Adorei o texto Joana. Queria agradecer a todos elementos do Run 4 Fun, as palavras de incentivo que tive durante a maratona. o meu muito obrigado
ResponderEliminarSe quem corre a Maratona não é atleta o que será um atleta :)
ResponderEliminarParabéns e que venham muitas mais!
Que lindo relato, Joana!
ResponderEliminarEu lembro-me de ti no meu primeiro treino com os Run 4 Fun, em meados de Janeiro.
Gostei logo de ti e claro que o tema da conversa foi"casamentos, divórcios e relações afins"! :)
E achei que corrias, que corrias bem!
Foi com muito orgulho que te vi cruzar a meta ontem, passados 42 km!
Espero acompanhar-te em muitas corridas futuras, longas ou curtas, rápidas ou lentas, em estrada ou em trilhos!
E podes sempre usar os meus elásticos!
Um grande beijinho!
Patrícia
Grande Joana! Parabéns. És atleta?!... não interessa nada, na minha modesta opinião. O que importa é que tenhas prazer naquilo que fazes, sejam os 10km,a Maratona ou uma ultra. Os treinos são mais uma fonte de prazer que antecipa e se prolonga pela corrida corrida seguinte. Have Fun, keep running.
ResponderEliminarParabéns Joana,
ResponderEliminarPela maratona e pelo belo relato que nos fazes.
Uma foto tua fica sempre bem e escolhi uma que, espero, gostes!!!
O teu exemplo e o da Mónica vão certamente ser o "incentivo" que faltava a mais umas quantas meninas da nossa equipa, para também se decidirem a fazer a "big one".
E agora venham as próximas que está já está.
Bjns e runabraços
Muitos parabéns. Agora já só falta fazeres a 2ªmaratona para te tornares MARATONISTA.
ResponderEliminarParabéns uma vez mais, Joana!
ResponderEliminarO teu relato é espetacular e emocionante do início ao fim.
A tua evolução tem sido surpreendente, nota-se nos treinos e provas. Com a preparação física e psicológica que estás a obter, aplicando estratégias para te aproximares às velocidades que obtens em distâncias menores, o teu potencial de evolução é grande.
Agora goza esta sensação que sentiste ao terminar a Maratona. A seguir, começa a preparar a próxima.
RunBjs.
Fantástico Joana,
ResponderEliminarCompreendo perfeitamente as dificuldades e a falta de tempo.
Depois daquele longão da Católica cresces-te bastante como corredora.
Que determinação e dificuldade demonstrados.
Uma palavra de reconhecimento ao NT, o padrinho...
Correr está mesmo no Teu sangue.
Venha a próxima e lá fora, vais arrasar!
RunBeijo,
NDA
Obrigado Joana, és um grande exemplo para todos. Não tens limites e estou certo que esta vitória foi só uma etapa. O que vem a seguir?
ResponderEliminarMuitos parabéns, é um enorme prazer correr a teu lado (o Nuno que o diga).
Bjs
Obrigada a todos, só agora é que me lembrei de vir cá ver! :) Bjs!!! NEXT!!
ResponderEliminarJoana Peralta
Obrigada a todos, só agora é que me lembrei de vir cá ver! :) Bjs!!! NEXT!!
ResponderEliminarJoana Peralta
Parabens grande atleta...foi uma maneira diferente de ler a maratona...mais o antes do que o durante...agora antes durante e depois claro que és maratonista e atleta
ResponderEliminarGostei muito do relato. E da determinação. "Now, you are one of the specials ones".
ResponderEliminarBendita a hora em que te "recrutei" numa vigilância na Catolica...!
Que venham mais, sempre com o mesmo espírito! E que tragas mais contigo!