Trail do Almonda – Uma visão diferente de um inexperiente
Caros Amigos,
Como todos bem sabem, adoro ler os relatos que
aqui se escrevem sempre que temos participações em “trails” ou “ultra-trails”.
Normalmente muito bem escritos, sob muita
emoção e transmitindo sempre um ambiente que nos dá vontade de estar presentes.
Na maioria dos casos, a escrita é tão
agradável, que nos consegue transportar para o meio da aventura que foi
percorrida.
Também como a maioria de Vós sabe, sou dos
tais que adoro ouvir ou ler as aventuras vividas, mas a paixão dos “Trilhos”
ainda não me atingiu.
Reconheço que tenho algum receio de quedas e
lesões, que gosto de correr mais do que caminhar, que ainda tenho vontade de
melhorar determinadas performances no dito alcatrão e que as experiencias que
tive em trilhos (principalmente treinos, provas apenas fiz duas), estão longe
de me dar o prazer que obtenho em outros ambientes.
O ano passado, um dos organizadores e
principal dinamizador do “Trail do Almonda”, amigo de longa data e conterrâneo
Aníbal Godinho, convenceu-me a ir até ao Almonda, participar no referido
“Trail”.
Não fui capaz de dizer que não...afinal era da
minha terra e de gente amiga que estávamos a falar.
Pedi conselhos aos nossos mais experientes
(que muito me ajudaram) e lá fui receoso, sem saber bem o que iria apanhar.
Foram 28Km, serra acima e abaixo, concluídos
com um honroso tempo de estreia de 3:31.
Adorei o ambiente, a organização estava
fantástica e retornei contente, prometendo que voltaria e traria amigos.
Este ano, lancei o desafio à nossa armada e a
resposta foi muito superior ao que eu poderia esperar.
Fiquei muito feliz com a adesão e não posso
deixar de agradecer a todos os que me presentearam com a presença e decidiram
vir correr e caminhar junto às minhas gentes, à minha serra e ao meu rio.
Tenho perfeita consciência que muitos de Vós
estiveram presentes por o desafio ter partido de mim e pela insistência da
minha parte, para fazerem parte da aventura.
Dia da prova - preparativos
Fui de véspera e dormi em casa dos meus sogros
(não dista mais que 10Km do Vale da Serra).
Foi levantar sobre o cedo, equipar e arrancar
para o local onde tudo iria começar, revi alguns “velhos” amigos, tratei da
parte administrativa e entretanto a “Laranjada” começou a aparecer (o Jorge
Pinheiro já lá estava com os filhos...madrugaram ;) ) .
Tive alguns minutos de mais “stress”, quando
percebi que 5 dos nossos companheiros tinham tido um pequeno percalço e
chegariam uns minutos após o inicio da prova.
Resolvi o tema com a Cris, que tinha tudo
controlado, por forma a que quando chegassem se pudessem colocar a caminho.
Começou a aventura.....
Prova – trajeto, adaptação e a minha
performance
Em 2011, adaptei-me muito bem e o piso, apesar
de algumas pedras soltas e bastante acidentado, permitiu-me correr e bem (tive alguns
Kms baixo dos 5min/km).
Este ano, talvez pela qualidade dos ténis que
usei, pela menos boa preparação com que estou ou simplesmente porque foi mesmo
assim...o trajeto pareceu-me muito mais difícil, demasiado técnico, em algumas
zonas perigoso e longe...muito longe do que esperava.
A determinado momento após alguns sustos,
torcedelas nos pés e joelhos, decidi abrandar e apenas não desisti, porque
desistir é uma palavra que não gosto nada.
Juntei-me ao José Magalhães e viemos com muita
calma...nos únicos Kms que nos separámos, foi exatamente quando dei a queda
mais aparatosa que só não teve outros resultados, porque as silvas apesar de
“espinhosas” deram uma ajuda.
A partir desse momento desisti mesmo de correr
e decidi que o resto faria a caminhar (ainda faltavam uns 6 Kms).
Terminei com 5:35....mas como tinha o relógio
em auto-pause, como puderam ver (os que viram) no meu controlo do Garmin,
apenas tenho contabilizados 26Kms com um tempo de 4:00...ou seja, arredondando,
tive entre parado e 4Kms de marcha lenta 1:35 de tempo consumido...é
demasiado e comprova o que antes Vos referi.
Sinceramente....foi um autentico pesadelo e sofrimento
e enquanto me lembrar, só alcatrão vou pisar :-) .
Imagino que alguns dos que foram e que gostam
de trilhos devem ter adorado e provavelmente estarão neste momento a “gozar”
com este relato :-) .... terão havido outros, que a meio da prova já me estariam a chamar
nomes e a perguntar a si próprios “porque carga d’água se tinham metido
naquelas andanças”...a esses peço desculpa e que Vos sirva de consolo que eu
próprio pensei o mesmo de mim.
Decididamente, ainda não estou
preparado para estas aventuras, vou-me manter no alcatrão e preparar as
maratonas da próxima época....talvez me esqueça do sofrimento deste ano e em
2013...reapareça.
Sobre a organização....
Na minha opinião,
esteve muito bem no que foi todo o apoio logístico durante a prova
(abastecimentos, bombeiros, marcações, apoio médico e mais uma data de coisas)
e de uma forma geral, no que é mais importante para os atletas esteve exemplar
deixando a Kms de distância a maioria de provas de alcatrão que estou habituado
a fazer....mas....existe sempre um mas, e neste caso, parece-me que tivemos
alguns pontos que deveriam ter tido outro tipo de atenção e que podem ser
melhorados :
- No inicio logo um Single-track em direção à descida (muito acentuada e técnica) para a nascente do Almonda que provocou um autentico congestionamento humano.
Os primeiro devem ter perdido menos tempo, mas por exemplo no meu caso, em função de ter estado a aguardar até à última hora a chegada dos companheiros que vinham mais atrasados, provocou que fosse dos últimos do pelotão a ter chegado ao "funil de descida" (onde tudo estava incluído, desde "caminhantes a trilhistas").
Perdi cerca de 30min
e voltei a arrefecer(apesar do calor) toda a parte muscular que já estava
"preparada".
O inicio deveria, tal como o ano passado, ter permitido um "alongamento" do pelotão e seguramente que esta situação não teria acontecido.
O inicio deveria, tal como o ano passado, ter permitido um "alongamento" do pelotão e seguramente que esta situação não teria acontecido.
- A falta de
informação e apoio no local de partida, logo após a mesma...
Parece-me que em qualquer prova, seja natural que por dezenas de motivos diferentes, existam atletas que se atrasem.
Era fundamental estar presente alguém da organização que desse apoio a esses atletas.
Parece-me que em qualquer prova, seja natural que por dezenas de motivos diferentes, existam atletas que se atrasem.
Era fundamental estar presente alguém da organização que desse apoio a esses atletas.
Ter-se-ia seguramente
evitado por exemplo, que os nossos companheiros que chegaram mais tarde se
tivessem completamente perdido, alcatrão fora....nem sequer estava alguém que
pudesse dar a indicação da saída da estrada para o “Trilho” propriamente dito,
o que permitiria seguramente, que com o atraso provocado pelo “funil” ainda nos
tivessem conseguido apanhar e concluir os 30Kms, que tinham como objectivo de
fazer.
- Em 2011, se bem
recordo, a banhoca estava morna...este ano a água era mais fria que a que
bebíamos nos abastecimentos :-) .... ok já sei, mariquices da minha
parte.
Mas aqui o rapaz, água fria só mesmo para
beber :-) .
Estava tão sujo, que necessitava mesmo de um
belo banho....fiquei pelo intermédio...lavei-me a “correr” :-).
- Estacionamento....em 2011 o local da partida
era muito mais amplo e de muito mais fácil acesso.
- WC’s idem...em 2011, não havia filas
nenhumas para os “apertos” normais antes da prova...este ano, foi menos
simples.
- Chegada...eu sei que já fui dos últimos, não
sei como foi com os que chegaram primeiro.
Só me apercebi que tinha passado a “meta”, que
não tinha qualquer indicação de “meta”, porque alguém da equipa (não me recordo
quem), nos avisou que já tinha-mos acabado...
Alguns pequenos pormenores, que podem ser
melhorados e ajustados, mas que na minha opinião, em nada beliscam a generalidade
do que foi a fantástica organização.
Depois de toda esta aventura....depois veio a
merecida festa.
Bela almoçarada, muito boa disposição, boa
paparoca e ainda tivemos direito ao lançamento oficial do hino “R4F”, escrito e
interpretado pelo nosso sempre simpático, bem disposto e disponível, João
Veiga.
Um final de tarde Runtástico e só ao nível deste grande grupo que somos.
Resumindo, que a história vai longa....
Um muito e sentido obrigado, da minha parte
pela vossa presença.
Um pedido de desculpas a todos os que se
sentiram totalmente enganados pela dureza da prova (eu senti) ou por algum
motivo ou situação que tenha corrido menos bem.
Um obrigado especial final a todos os
fotógrafos presentes que permitiram uma “cobertura” fantástica de todo o
evento, principalmente ao nosso Zé Carlos, que apesar de impossibilitado de
fazer o que mais gosta...lá esteve, de principio ao fim, sempre incentivando e
com a permanente boa disposição todos lhe reconhecemos.
Bem-hajam e um grande Runabraço
Caro Nuno,
ResponderEliminareu também não sou muito de trails, não por desgostar mas porque nesta fase quero simplesmente fazer mais as tradicionais provas de estrada.
De qualquer forma, os trails são provas com características diferentes, até umas das outras (em tipo de piso, desníveis de altitude, dureza, etc).
Quem quer experimenta, quem gosta volta, quem não gosta não volta.
As organizações não são perfeitas e existe sempre espaço para melhoria.
Relativamente a esta prova, também para mim foi mais uma caminhada. Calhou mesmo bem porque não tenho treinado corrida e fui fazer o meu primeiro treino longo do ano.
A companhia foi ótima, e para mim isso era o mais importante. No inicio com a Luísa Ralha, Jorge Esteves, Teodoro Trindade e João Veiga. Depois do primeiro abastecimento, sempre com o Teodoro em alegre cavaqueira.
O percurso tinha partes lindíssimas. Como tenho muito pouca experiência de trails não sei avaliar a dificuldade mas consegui perceber que o desnível acumulado positivo foi bastante elevado e que o piso era muito técnico.
Os abastecimentos estavam muito bons, com fruta e bebidas frescas. A melancia estava divinal (pelo menos foi assim que me soube).
Depois da prova, o percurso para o almoço também foi bastante bom na companhia da Patrícia Calado, Jorge Paulo, Miguel Serradas Duarte e o Cesar Moreira.
O almoço permitiu mais partilha de informação, assim como o caminho até Lisboa na companhia da família Ralha, Hilário Torres e João Veiga.
Um dia bem passado.
Abraços,
AC
Eu podia me queixar do pouco que correu mal....vou preferir elogiar quem nos levou lá e a organização optima, dizer que realmente custou e muito mas que isso deveu-se também a ter sido a prova que levei mais tempo a fazer e isso é um ponto positivo porque mal ou bem está feito e conseguimos.
ResponderEliminarO texto está óptimo tal como é hábito no nosso grupo só não era precisos os elogios à minha pessoa porque tal como qualquer um neste grupo faço por gosto e também gostei de vos ouvir comigo na nossa música.
Se vou voltar aos trails? de certeza porque gostando mais ou menos foram sempre os maiores testes à minha capacidade fisica
Belíssimo relato, Nuno! Muitos de nós foram por ti e certamente que o fariam de novo (dá-lhes só algumas semanas de recuperação)! Gostava de acrescentar que o meu duche foi muito quentinho! Não sei se era por ser o balneário feminino ou se por ter sido mais cedo (fiz apenas o mini-trail). Para mim foi um dia fantástico, companhia do melhor que há e excelente repasto! A organização, com excepção das 3 múmias na linha de chegada, esteve bem e o vigilante dos balneários foi um querido pois deixou-me desligar a arca congeladora do bar para ligar o secador de cabelo! O que mais se pode pedir? Run 4 FUn no seu melhor!
ResponderEliminarNuno,
ResponderEliminarExcelente crónica! Descreves com pormenor tudo o que aconteceu e não tenho muito mais a acrescentar.
Concordo com as críticas que fazes nomeadamente o "funil de descida" que me parece facilmente evitável.
Já fiz cerca de 20 trail e nunca fui a nenhum com um piso destes. Foi pisar pedra do principio ao fim!
Quando o piso tem estas características a prova perde muito da sua piada. Temos que estar sempre a olhar para o chão e não podemos distrair-nos com nada: falar com os companheiros,ver paisagens, enfim correr descansado!
Os trail merecem uma 2ªoportunidade! Não desanimem!
Por último o meu agradecimento ao Nuno, que mais uma vez nos proporcionou um excelente dia!
Runabraços
Nuno,
ResponderEliminarBelo relato, ao nível dos melhores que temos tido aqui no nosso blogue. Concordo no geral com as tuas opiniões.
Neste momento a minha perspetiva é de não voltar a fazer este trail, pois foi mais andar que caminhar. Gostei mais da Geira Romana que permitia correr, muito mais que caminhar.
Mas talvez regresse no próximo ano!!! Para melhorar o meu tempo...ehhehehheheh
De realçar que ficámos no 17º lugar entre 31 equipas masculinas, nada mau!!! Equipa composta por Rúben Silva, Hilário Torres e Miguel San-Payo, os nossos melhores.
A Luísa ficou em 3º lugar do escalão das mulheres com mais de 50 e não foi receber o prémio, pois não sabia. A Claire ficou nuns magníficos 15º da geral e 8º do escalão.
Eu fiquei num honroso último lugar do meu escalão 50-54, com a consolação de ter ficado à frente de uns quantos atletas de escalões inferiores. E assim fico satisfeito ...eheheh :)
Para finalizar em beleza, um bom almoço em fantástico convívio com a "cereja no topo do bolo" que foi a 1ª apresentação pública do nosso "hino" made by João Veiga, mais coro razoávelmente afinado
Runabraços
PS
Nuno,
Fala pf com o teu amigo Aníbal Godinho para ele te entregar o prémio da Luísa, caso exista, numa próxima oportunidade.
Nuno,
ResponderEliminarFoi o meu primeiro trail e adorei. Volto para o ano. Qualquer coisa diferente disto vou chamar de pista lisinha!
Obrigado pelo convite.
Grande abraço.
Nuno, eu também tenho evitado entrar no mundo dos trails, pelo menos enquanto não souber o suficiente sobre corridas e não tiver segurança nas minhas capacidades físicas para resistir ao esforço e enfrentar os perigos da irregularidade do terreno. Ainda tenho muitos objetivos no asfalto para cumprir. Não te preocupes por isso com o nosso treino de Palmela, que dos trails praticamente só tem a parte boa :-)
ResponderEliminarRunabraço
Caros amigos
ResponderEliminarEsta corrida foi o pior pesadelo que tenho memória. Rectifico, eu não consegui participar na corrida mas sim na caminhada, e mesmo nesta com muita dificuldade.
Mas em quase tudo existe uma compensação. Eu não podia ter desejado melhor companhia, o António Cruz acompanhou-me durante quase todo o percurso. Muito mais do que acompanhar, ele abdicou da sua prova e arrastou-me, em particular nos últimos 6 km onde eu já estava “de gatas”. Foi um sofoco, mas ao António nunca se esgotaram as palavras de ânimo (obrigado, é verdade tudo o que dizias, hoje estou orgulhoso e já não me doi quase nada. Ha, e amanhã começo a dieta).
Achei o percurso bonito e não muito dificil, seguramente demasiado pedregoso e com poucas zonas onde fosse possivel alongar a passada sem ter necessidade de uma postura cabisbaixa.
Adorei o cozido. E em tão boa companhia temos de voltar para o próximo ano, nem que seja só para esta segunda parte.
Para finalizar, um obrigado a todos, muito especialmente ao Nuno (grande crónica) e Cristina pelo convite e pela excelente organização, ao Jorge Esteves pelo desafio, e ao António pela inexcedivel camaradagem. Um abraço especial ao Zé Carlos que mesmo lesionado não falha uma (rápidas melhoras).
RunAbraços
I was thinking of all you doing the Almonda trail this Sunday, and reading now this and some others reports leaves me scratching my head. First of all, congratulation for finishing and for writing such an honest and deep essay about it. It seems it was a very tough and technically demanding course, and maybe it was not the best idea for those who are "sceptical" about trails to do the longest distance in Almonda. Nuno Sentieiro Marques and others, don't give up on trails for ever and for good, do it occasionally, do shorter and easier versions - as a cross-training and experience without any time pressure (for those who are usually more competitve) - this makes you more flexible and better prepared for the type of the run that is your favorite and your priority. And some experience with trails will be more and some less positive - however in the end it can only make you to return to roads as a stronger and more experienced runner, giving you even more joy for running on asphalt. Well, at least this approach works well for me, just with reversed roles of asphalt and trails. Boas corridas e beijinhos :-)
ResponderEliminarCom descrições destas até sentimos dores nos pés sem lá termos estado!
ResponderEliminarNa minha opinião, para quem gosta de correr, como nós, o gosto pelos trails tem a particularidade do convívio, das paisagens e também do piso diferente do habitual. Mas nós gostamos é de correr... caminhar e saltar não é bem a mesma coisa...
Obrigado pelas vossas excelentes e pormenorizadas descrições e parabéns pelos excelentes tempos efectuados.
Boas corridas.
Caro Nuno,
ResponderEliminargostei da prova pelos magníficos estradões (tipo autoestrada) e por ser uma prova praticamente plana. Para o anos lá estarei.....