EstrelAçor 2018
O DESAFIO
E O PLANO
O
Rúben Costa lançou o desafio: uma prova de 100 km com a aliciante da duração de
30 horas, superior ao normal limite de 24 horas.Aceitei o desafio imediatamente: depois da parva desistência no UTSM mantinha o projecto de fazer uma prova de 3 dígitos e, efectivamente, a perspectiva das 30 horas pareciam conferir uma almofada de tempo, à minha habitual morosidade. A que acrescia o facto de se fazer um troço do Ultra Trail do Piódão - prova que adorei – mas em sentido inverso percorrendo, depois, a Serra da Estrela, local que ainda me é muito desconhecido, a nível de trail.
Desconhecia a altimetria, o percurso, a dificuldade técnica ou o tipo de piso e deixei esses pequenos, e irrelevantes (!?!), pormenores para posterior estudo e preocupação.
O
Rui, outro inconsciente, também aceitou o desafio dos 100 km.
O planeamento incidiu em três pontos: reforço
muscular, no ginásio, plano de treinos de corrida e estudo da alimentação em
prova,
A execução
do reforço muscular foi um sucesso…durante uma semana…desde Maio que somos uns
beneméritos no incremento dos lucros do Solinca.
O
plano de treinos, para uma ultramaratona, foi cedido pelo Nuno Dias de Almeida
e iniciámo-lo em meados de Junho. Cumprimo-lo em 75%, no tocante à
distância, sem que tenhamos contemplado o factor da altimetria.
O
Rui fez um estudo a nível de carboidratos, sais minerais e das restantes
condicionantes, necessárias para aquele tipo de esforço, e para evitar os
habituais enjôos e sensação de fraqueza física, de que sempre padeço, a partir dos 18
km.
Avaliação
final: Treinos 75% / Praia 3%
A
PROVA
Composta
pelas seguintes distâncias: 180 km, 100 km, 43 km, 25km e 15 km, com início nas Penhas da Saúde, na Serra da Estrela, com excepção da prova de 100 km, que partiria do Inatel do Piódão, às 00h de sábado, com limite até às 6h de
Domingo, e termo naquelas mesmas Penhas da Saúde. Nesta prova estavam inscritas 165 pessoas e apresentava um grau de
dificuldade 6 na classificação ITRA.
O
INÍCIO:
A
noite estava excelente, com temperatura boa, céu limpo e estrelado. Optei
por uma camisola térmica, de manga curta, e manguitos, que rapidamente tirei.
A
prova inicia-se com uma subida longa e inclinada, com 3,5 km, pelo que
rapidamente fui posta no devido lugar: o último. O Rui atrasou o passo para acompanhar o meu
ritmo e a minha falta de ar.
Encontrámos
o Rúben e seguimos juntos até à famosa “serpente”, uma descida (horrível subida
no Ultra Trail do Piódão, a seguir às bifanas e às cervejas) técnica,
inclinada, com pedras pontiagudas que o Rui percorreu a correr, eu a trotar e o Rúben
mais cautelosamente, o que nos separou deste.
Mais à frente, no abastecimento,
o Rui mandou--me avançar, por forma a reagruparmos com o Rúben, mas
este disse-lhe que preferia seguir sozinho, no seu próprio ritmo, refilando com o Rui porque tinha permitido que eu seguisse sozinha na escuridão da mata 😆O percurso é feito em estradões longos e inclinados permitindo um power walking, ao qual se seguiu corrida quando chegámos à zona das antenas, no Pico Cebola.
Ao amanhecer, já na descida para Teixeira de Baixo, deparámo-nos com o privilégio de viver um momento especial, de
absoluto deslumbramento e de comunhão total com a natureza: o silencioso e perfeito despontar da madrugada.
Em
Teixeira de Baixo começa a contagem do 1,5 km vertical até à Torre, mas até Alvoco da Serra a permanente subida tem uma ligeira inclinação que nos permitiu andar e trotar,
alternadamente.
No
Alvoco, às 09h.40, éramos esperados pelo sorriso e calor do Gonçalo Melo, que distribuía abraços, segurava nos bastões, ia buscar comida e, acima de tudo, transmitia-nos a sua felicidade pelo nosso contentamento e determinação para cumprir o objectivo.
Sendo aquela a primeira base de vida trocámos para roupa mais fresca, comemos sopa, o Rui tomou um duche de água fria e optámos por descansar, retomando a prova às 10h.20, o que permitiria chegar à Torre, e sair da barreira horária, dentro do horário permitido: 14h.30.
Sendo aquela a primeira base de vida trocámos para roupa mais fresca, comemos sopa, o Rui tomou um duche de água fria e optámos por descansar, retomando a prova às 10h.20, o que permitiria chegar à Torre, e sair da barreira horária, dentro do horário permitido: 14h.30.
Esta
é a parte mais dura da prova, ou de qualquer outra prova feita, por nós, anteriormente: uma subida de 7,5 km com 1253m de desnível
positivo, permanentemente inclinada, sem qualquer troço de alívio, e pautada por pedras que dificultavam a estabilidade dos pés, e por pedregulhos, que tínhamos que subir içando o corpo, com esforço acrescido, que culminava na altitude máxima de 1980m, o ponto mais alto de Portugal continental
Demorámos
3 horas e percorrer 7,5 km, tendo chegado à Torre com a folga de 1h.30, antes do tempo limite.
https://www.facebook.com/sandra.simoes.98/videos/10213493741599508/?l=6458779916079999989https://www.facebook.com/sandra.simoes.98/videos/10213493910763737/?l=7336382875916168348
Na Torre, lá estava novamente o Gonçalo Melo, de braços no ar, a gritar e aos pulos, completamente orgulhoso e feliz. No abastecimento descansámos, comemos e bebemos cervejas (uns) e chá quente (a outra). Não havia sopa 😔.
Retomámos
o percurso às 14h.00, integrados num grupo de 6 pessoas, na perspectiva de
fazer a descida de 20 km, para Manteigas, em ritmo de corrida. Ingenuidade…ou
falta de estudo da prova!
Os primeiros 2 km são horizontais, com tufos e trilho corrível e percorrem-se numa zona de beleza perfeita - rochas marcadas em tons de verde, duas lagoas, sol, céu azul forte com algumas nuvens brancas - que segue até ao início da Garganta de Loriga, um dos sítios mais bonitos da Serra.
Mas somos, então, surpreendidos com uma descida...lindíssima...perigosíssima, com rochedos inclinados, pedras soltas, pedregulhos altos, que assusta tanto quanto atrai, e que foi percorrida em fila indiana, de forma lenta e cautelosa. Seguiu-se-lhe uma subida inclinada, com 200 metros, que nos obrigou a trepar rochas ate que este troço terminou no abastecimento, situado no Covão da Ametade (que marca o início do Vale Glaciar do Zêzere que percorremos a seguir).
https://www.facebook.com/sandra.simoes.98/videos/10213493339909466/?l=1621458377487791892
Demorámos 3 horas para fazer estes 10 km de descida e as consequências condicionaram o resto do percurso: quadríceps esgotados e pés martirizados impediram 7 pessoas (juntou-se mais uma ovelha tresmalhada) de correrem no facílimo estradão descendente, de 10 km, até Manteigas, onde chegámos às 19h, 3 horas antes da hora de corte, marcada para as 22h.
-se em novo afastamento, testando a resistência mental do grupo, que tinha aumentado para 9 pessoas.
O silêncio foi-se instalando, por força do cansaço, da escuridão e do frio, e determináva-
-nos a convicção de terminar.
Optámos por acelerar o passo de caminhada, enquanto conversávamos e gozávamos, euforicamente, os últimos momentos e a sensação indescritível da aventura cumprida e vivida por ambos, de forma tão intensa.
Chegámos à meta, às 03h.32, com 27:32:17 de prova, cujo limite era de 30 horas.
Na classificação geral ficámos em 112 e 113, dos 165 atletas inscritos.
Os 100 km, previstos, converteram-se em 106 km tendo o desnível positivo passado dos 5100 m anunciados para os 5628m reais.
Nunca tivemos dores violentas e apenas acusámos cansaço, e desgaste, forte e irrecuperável, nos últimos 8 km.
Até então, a sensação de morte física, que se segue a uma subida violenta, extinguia-se com o reforço de comida e com o tempo de descanso no qual apostámos, e bem. Dessa forma, apenas parámos nos abastecimento, andando, trotando ou correndo em todo o percurso da prova.
que si rendirme es una opción no voy a seguirte
Las ganas de luchar son más fuertes, pueden más
que todo lo que incluso yo
podía imaginar”
E é um pragmático: é preciso treinar, vamos treinar. É preciso fazer a prova, vamos fazer a prova. Não há "ses" nem "mas"!
Finalizou a terceira prova de 100 km
Não sei se volto a fazer outra…mais plana….menos técnica. Esta, não, com toda a convicção: diz que é das que tem mais desistências. Ahhhh, mas não me apanharam na estatística! Nem ao Rui! E juntos...vamos até ao fim do mundo
Os primeiros 2 km são horizontais, com tufos e trilho corrível e percorrem-se numa zona de beleza perfeita - rochas marcadas em tons de verde, duas lagoas, sol, céu azul forte com algumas nuvens brancas - que segue até ao início da Garganta de Loriga, um dos sítios mais bonitos da Serra.
Mas somos, então, surpreendidos com uma descida...lindíssima...perigosíssima, com rochedos inclinados, pedras soltas, pedregulhos altos, que assusta tanto quanto atrai, e que foi percorrida em fila indiana, de forma lenta e cautelosa. Seguiu-se-lhe uma subida inclinada, com 200 metros, que nos obrigou a trepar rochas ate que este troço terminou no abastecimento, situado no Covão da Ametade (que marca o início do Vale Glaciar do Zêzere que percorremos a seguir).
https://www.facebook.com/sandra.simoes.98/videos/10213493339909466/?l=1621458377487791892
Demorámos 3 horas para fazer estes 10 km de descida e as consequências condicionaram o resto do percurso: quadríceps esgotados e pés martirizados impediram 7 pessoas (juntou-se mais uma ovelha tresmalhada) de correrem no facílimo estradão descendente, de 10 km, até Manteigas, onde chegámos às 19h, 3 horas antes da hora de corte, marcada para as 22h.
Nesta
segunda base de vida trocámos para uma roupa mais quente, e para ténis mais leves, comemos sopa e esparguete à bolonhesa. Decidi tomar um Brufen, porque sentia uma dor na
palma do pé esquerdo, que receava converter-se num problema sério, e um comprimido de cafeína, dado que começava a acusar alguma falta
de energia pela carência de sono: havíamos começado às 00h do dia 6, estávamos em prova há 20h, tendo acordado às 09h do dia 5/10 (ah pois, fui "brutalmente" acordada, e a adrenalina, e a viagem para o Piódão, não me deixaram retomar o sono).
Sabíamos que o resto do percurso, de 30 km, maioritariamente a subir, era feito através de estradões inclinados e pedregosos, mas tendo uma parte técnica e bastante perigosa: o Poço do Inferno.
Este trilho, com 40 cm de largura, é feito de pedras soltas e tem um precipício do lado esquerdo.
Entrei em pânico e fiz o troço muito lentamente, agarrada às rochas da direita, atrasando a progressão de todo o grupo…mas conheço a minha tendência para tropeçar e, neste caso, o resultado não seriam meros arranhões cicatrizáveis.
O trilho entrava numa mata, que se adivinhava ser muito bonita, mas, que na escuridão se resumia a um single track inclinado e extremamente técnico, onde evoluíamos lentamente, mas com entusiasmo, ao mesmo tempo que trocávamos histórias, brincadeiras e piadas. E histórias de vida, bonitas e humanas, entre pessoas que, até então, pouco ou nada se conheciam. Gosto muito desta faceta.
A partir daí, e até à meta, estradões monótonos, de piso irregular, com intermináveis “esses”, simulando
aproximação à meta, e convertendo-Sabíamos que o resto do percurso, de 30 km, maioritariamente a subir, era feito através de estradões inclinados e pedregosos, mas tendo uma parte técnica e bastante perigosa: o Poço do Inferno.
Este trilho, com 40 cm de largura, é feito de pedras soltas e tem um precipício do lado esquerdo.
Entrei em pânico e fiz o troço muito lentamente, agarrada às rochas da direita, atrasando a progressão de todo o grupo…mas conheço a minha tendência para tropeçar e, neste caso, o resultado não seriam meros arranhões cicatrizáveis.
O trilho entrava numa mata, que se adivinhava ser muito bonita, mas, que na escuridão se resumia a um single track inclinado e extremamente técnico, onde evoluíamos lentamente, mas com entusiasmo, ao mesmo tempo que trocávamos histórias, brincadeiras e piadas. E histórias de vida, bonitas e humanas, entre pessoas que, até então, pouco ou nada se conheciam. Gosto muito desta faceta.
-se em novo afastamento, testando a resistência mental do grupo, que tinha aumentado para 9 pessoas.
O silêncio foi-se instalando, por força do cansaço, da escuridão e do frio, e determináva-
-nos a convicção de terminar.
Na realidade, os últimos
20 km caracterizaram-se pelo frio e vento cortante, tão fortes que tivemos que
colocar as mantas térmicas, sob os impermeáveis, e tapar a boca com o buff com o objectivo de aquecer a cara com o bafo quente. As
únicas palavras resumiam-se aos cálculos da distância restante até à meta. Mesmo que alguém pensasse desistir seria impossível fazê-lo naquelas condições atmosféricas e naquele local, absolutamente isolado e sem qualquer rede telefónica.
A 3
km da meta o Rui sentiu dores muito grandes nos pés e joelhos pelo que optámos por abrandar o
ritmo e abandonar o restante grupo. Um pouco mais à frente senti as mesmas dores nos pés, face à instabilidade e desconforto provocados pelas pedras, e as dores já eram tantas que fomos incapazes de correr nos últimos 2 km, que eram uma mera e suave descida, em alcatrão.Optámos por acelerar o passo de caminhada, enquanto conversávamos e gozávamos, euforicamente, os últimos momentos e a sensação indescritível da aventura cumprida e vivida por ambos, de forma tão intensa.
Chegámos à meta, às 03h.32, com 27:32:17 de prova, cujo limite era de 30 horas.
Na classificação geral ficámos em 112 e 113, dos 165 atletas inscritos.
Os 100 km, previstos, converteram-se em 106 km tendo o desnível positivo passado dos 5100 m anunciados para os 5628m reais.
AS SENSAÇÕES
O
Rui, rapaz optimista, previa a conclusão da prova em 24 horas. Eu apostei em 30
horas, “resvés Campo de Ourique” e, na melhor das hipóteses, 28 horas. Yes!!!
Nas horas que antecederam a prova, já no Piódão, estava uma pilha de nervos, sem
conseguir falar ou rir. Receava o cansaço e as dores insuportáveis e a forma de
lidar com elas. Tinha um sono enorme. E não queria desapontar-me, nem desiludir
o Rui, depois do investimento de tempo e esforço, de ambos. Mas o UTSM já me havia
ensinado a possibilidade desse desfecho. A desistência, em si, não me incomoda.
Mas já me incomoda “defraudar” o investimento e a expectativa de terceiros em mim.
O Rui estava eufórico e excitadíssimo com a antecipação da aventura.
Na
verdade, nunca se colocou a hipótese de desistência. Nunca nos sentimos mal,
fisicamente, acertámos totalmente na alimentação, na escolha dos ténis e da
roupa, para cada percurso.O Rui estava eufórico e excitadíssimo com a antecipação da aventura.
Nunca tivemos dores violentas e apenas acusámos cansaço, e desgaste, forte e irrecuperável, nos últimos 8 km.
Até então, a sensação de morte física, que se segue a uma subida violenta, extinguia-se com o reforço de comida e com o tempo de descanso no qual apostámos, e bem. Dessa forma, apenas parámos nos abastecimento, andando, trotando ou correndo em todo o percurso da prova.
Nos momentos mais extenuantes recorri um truque motivacional:
a história do Ramón Arroyo, o espanhol a quem foi diagnosticada esclerose
múltipla e vaticinada a incapacidade de andar, sequer, a distância de 100
metros, e que acabou por fazer, entre outras provas, o Ironman. Aí cantava mentalmente a letra
da música da Amaia Montero, integrada na banda sonora do filme (https://www.youtube.com/watch?v=A-BSe4FnbJ0)
“Y cada amanecer voy a
repetirme que si rendirme es una opción no voy a seguirte
Las ganas de luchar son más fuertes, pueden más
que todo lo que incluso yo
podía imaginar”
O percurso é lindíssimo, agreste, duro,
com paisagens a perder de vista. Os momentos de silêncio e de
observação da natureza fazem-nos agradecer o facto de estarmos vivos e a hipótese de
podermos vivenciar aqueles locais, aquela imensidão e aquela integração e harmonia com a Terra; de seres vivos e animais enquanto partes integrantes de um todo. As sensações anulando a racionalidade.
São momentos em que apenas é relevante a nossa primária condição de seres vivos.
Não consigo totalmente traduzir, por palavras, a felicidade que estas situações me proporcionam e a convicção de que são únicas e especiais.
Guardo-as nas caixinhas que contêm a minha vida, às quais posso aceder (e preciso de aceder), para reviver, e para voltar a sentir, obtendo o bem-estar e a energia positiva, e o sentido da vivência, para o resto do dia, e para o resto dos dias.
Mas existiram pontos negativos. Partimos para uma prova, com a consciência das dificuldades, que residiam na distância, na altimetria e na existência de partes técnicas. Mas não consigo conceber a necessidade de introduzir longos quilómetros de descidas totalmente técnicas, ou precipícios perigosos, que implicam riscos físicos, e que não permitem qualquer progressão mais rápida. Em 2015 fiz um treino com o Nuno Gião, que descia da Torre, em direcção ao Vale Glaciar, passando pelo Covão da Ametade, que tinha algumas partes técnicas, mas, também, com vários troços corríveis, e que seria uma excelente alternativa ao track escolhido. Porém, a prova já lá estava....e foi esse o pack que comprei.
Não consigo totalmente traduzir, por palavras, a felicidade que estas situações me proporcionam e a convicção de que são únicas e especiais.
Guardo-as nas caixinhas que contêm a minha vida, às quais posso aceder (e preciso de aceder), para reviver, e para voltar a sentir, obtendo o bem-estar e a energia positiva, e o sentido da vivência, para o resto do dia, e para o resto dos dias.
Mas existiram pontos negativos. Partimos para uma prova, com a consciência das dificuldades, que residiam na distância, na altimetria e na existência de partes técnicas. Mas não consigo conceber a necessidade de introduzir longos quilómetros de descidas totalmente técnicas, ou precipícios perigosos, que implicam riscos físicos, e que não permitem qualquer progressão mais rápida. Em 2015 fiz um treino com o Nuno Gião, que descia da Torre, em direcção ao Vale Glaciar, passando pelo Covão da Ametade, que tinha algumas partes técnicas, mas, também, com vários troços corríveis, e que seria uma excelente alternativa ao track escolhido. Porém, a prova já lá estava....e foi esse o pack que comprei.
Os
abastecimentos também pecaram pela contínua repetição dos alimentos e faltou uma canja em alternativa
às sopas com legumes que provocavam intolerância em alguns atletas.
Acresce a crítica de, tendo questionado um elemento da organização sobre a distância restantes, este não soube indicá-la, falhando a estimativa por mais de 8 km, numa altura em que já havíamos percorrido 80 km. Esta incerteza é negativa para a gestão da restante distância e inerente esforço físico e mental.
Por
estas razões, e pelo esforço físico, não repetirei esta prova. Mas nada, mas mesmo nada, me tira o imenso orgulho da superação e da conclusão. Acresce a crítica de, tendo questionado um elemento da organização sobre a distância restantes, este não soube indicá-la, falhando a estimativa por mais de 8 km, numa altura em que já havíamos percorrido 80 km. Esta incerteza é negativa para a gestão da restante distância e inerente esforço físico e mental.
O RÚBEN
O
Rúben é o Rúben. E isso é fantástico. Pediu para ser barrado na Torre e
contará, pela sua própria voz, os episódios hilariantes, que trouxe na bagagem,
e que já nos provocaram as maiores gargalhadas. Felizmente tomou a decisão de “ser
barrado” porque iria fazer, sozinho, o troço perigoso e isso não seria, sequer, uma hipótese.
Fez 52 km dos quais se sentirá, naturalmente orgulhoso. E nós também. E já tem 100 km na
bagagem.
O
RUI
O
Rui é a pessoas mais generosa que conheço: fez os 100 km abaixo do seu ritmo, e
adaptando-se sempre ao meu, redobrando o esforço físico da prova e forçando músculos
diferentes. Durante meses fez planos de treinos e ainda aturou a minha
resmunguice, naqueles dias, em que não me apetecia cumpri-los. Fez quadros de
Excel e analisou os nossos esforços. Estudou a alimentação, fez encomendas e
dirigiu todas as experiências necessárias.
Fez
a prova integralmente sem bastões sendo o único do grupo final de 9 pessoas a
usar apenas as pernas, em 5600m de desnível positivo, sem uma queixa ou uma exigência.E é um pragmático: é preciso treinar, vamos treinar. É preciso fazer a prova, vamos fazer a prova. Não há "ses" nem "mas"!
Finalizou a terceira prova de 100 km
O
GONÇALO
O Gonçalo
é o Gentleman a pessoa que mantém sempre a compostura, a calma e que pouco se
manifesta quanto à performance desportiva. Mas a verdade é que chegou, viu e
venceu: 1º lugar do escalão!!!
Isto
depois de se ter disponibilizado para dar boleia, de Lisboa até ao Piódão,
passando por Coimbra, onde apanhámos o Rúben, e de ter ficado sem local para
dormir, num raio de 25 km, pernoitando nos sofás do Inatel, depois de ter
pedido autorização à gerência. Parece que se instalou confortavelmente, fez
zapping e viu filmes.
No dia seguinte cirandou pela Serra, deslocando-se ao Alvoco e à Torre, para nos dar mimos e alento, apesar das esperas de várias horas
E, às 04h.00 ainda teve que acordar e abrir a porta a dois enregelados, embrulhados em mantas térmicas, com ar de Ferrero Rocher, apesar de ter uma prova no dia seguinte, de 43 km, que venceu (no escalão) com grande pinta!
E
também já tem duas provas de 100 km nas pernas. No dia seguinte cirandou pela Serra, deslocando-se ao Alvoco e à Torre, para nos dar mimos e alento, apesar das esperas de várias horas
E, às 04h.00 ainda teve que acordar e abrir a porta a dois enregelados, embrulhados em mantas térmicas, com ar de Ferrero Rocher, apesar de ter uma prova no dia seguinte, de 43 km, que venceu (no escalão) com grande pinta!
Não sei se volto a fazer outra…mais plana….menos técnica. Esta, não, com toda a convicção: diz que é das que tem mais desistências. Ahhhh, mas não me apanharam na estatística! Nem ao Rui! E juntos...vamos até ao fim do mundo
Belo relato de uma "epopeia", cuja dificuldade não em atrevo sequer a imaginar.
ResponderEliminarDescrita pela Sandra até parece que não foi tão difícil, exceptuando a última dezena de kms.
Uma bonita demonstração de capacidade de planeamento, tenacidade, companheirismo, solidariedade e amizade entre a Sandra e o Rui. Extensiva ao Gonçalo e ao Rúben.
Todos excelentes pessoas que admiro e a quem desejo felicidades.
Obrigado Sandra pelo relato, as tuas palavras transportam-nos contigo durante a prova. Adorei.
ResponderEliminarTerminar uma prova de 100 km não está de imediato ao alcançe de todos, mas terminar o Estrelaçor como tu o fizeste é só para alguns, bravo. Parabéns.
Tem de haver basófia da rija, exijo :-)
Sandra, espetacular! Por tudo: a prova, a coragem, a honestidade e humildade e por este texto maravilhoso. Grande inspiração! Que continues sempre assim!
ResponderEliminarFui eu :-)
ResponderEliminarAna Melo
Obrigada a todos. Na verdade, se definirmos o objectivo, e o caminho para lá chegar, quase todos nós conseguimos. E consudero fundamental o grupo de pessoas que nos rodeiam, dado o apoio e o conhecimento partilhado. Aquele filme a que faço referência, 100 metros, fez-me reflectir sobre isso: o ser humano é capaz de coisas extraordinárias. Um homem com esclerose múltipla faz o Ironman. E isso motiva-nos a fazer as “nossas pequenas coisas extraordinárias”. Coisas que são mínimas, comparadas com grandes feitos, e dado que não temos condicionantes físicas graves. Mas, por uns tempos, marcam-nos e fazem alguma diferença no nosso pequeno mundo interior. É giro. Mas acessível a todos e a piada reside nisso mesmo. P.S.- Chorei que nem uma Madalena a ver o filme, no momento em que o Rámon corta a meta. Qualquer um de nós compreende exactamente aquela sensação, quando somos levados ao limite
ResponderEliminarBeijos enormes
Uma descrição extremamente fantástica e com que nos faz reviver todos os maravilhosos momento passados nessas belas serras do Acore da Estrela.
ResponderEliminarParabéns.
Forte abraço e até um próximo trilho.
Orgulhoso!
ResponderEliminarÉ a palavra que para mim define após ler este magnifico relato.
Que grande equipa que se juntou neste fim de semana, naquel magnifica Serra.
Parabéns Ultra Sandra, sem duvida uma mulher de Fibra.
Ao grande Rui, que está sempre disposto a qualquer desafio e aventura e que foi o teu farol.
Ao Rubén, pela loucura.
E ao grande Gonçalo, pelo apoio e pelo primeiro Lugar.
Obrigado a todos os laranjas, magnifica epopeia.