PT281+ Ultramarathon 2023. Porque há mais vida além da corrida...
Olá amigos,
Hoje dedico-me à prosa. Tinha
esse hábito há uns anos, mas seja por circunstâncias da vida, seja acima de
tudo por falta de dedicação da minha parte, deixei de o fazer. Será que lhe
ganho o gosto novamente?
Deixei passar uns dias propositadamente
para tentar assimilar tudo aquilo que se passou no último fim-de-semana. É
terça-feira e apesar de já ter algumas noites bem dormidas, penso que já
consigo fazê-lo com objetividade (e emoção).
É difícil para mim sentar-me
ao computador e escrever o quer que seja sobre isto. Porque isto não é só sobre
corrida, é quase que uma espécie de lição de vida.
Foi no passado dia 20 de
julho (que belo dia), pelas 18h, que os nossos três heróis se reuniram em
Belmonte na partida da PT281+ Ultramarathon 2023.
Citando a organização:
“Água de Julho no rio não
faz barulho.”
A opção pelo mês de Julho
prende-se com as nossas inspirações e aspirações. Para estarmos no patamar de
uma das provas mais extremas do mundo, precisamos de um factor externo bastante
importante: o calor. Na Badwater o calor atinge facilmente os 50º no
Californiano Vale da Morte. Na BR135+ as percentagens de humidade no ar, em
Minas Gerais, podem atingir os 90% e o
calor subir até aos 40º. Ou mesmo ultrapassar!
Na PT 281+ Ultramarathon
Portugal ficaremos entre as duas. Durante o mês de Julho, nos locais de
passagem da prova, os termómetros passam facilmente dos 40º num calor seco,
sufocante, ardente. Este é um factor que facilmente coloca a PT 281+
Ultramarathon Portugal num patamar de dificuldade extrema.
Os atletas
Falei há pouco dos nossos
três heróis que se apresentaram na linha de partida. Creio que já todos os
conhecemos, mas porque não revisitarmos os seus “currículos”?
Carmen Ferreira
A Carmen começou nisto das
corridas há pouco mais de meia dúzia de anos. Apesar de sempre ter tido alguma
atividade física, rapidamente se “viciou”, primeiro
intercalando a estrada com o trail e, nos últimos anos, competindo maioritariamente
em trail.
Escuso-me a sistematizar a
quantidade de pódios de escalão (e de geral femininos) que a nossa mulher do
apito tem no currículo. Destacaria apenas as participações em provas Endurance na
última época desportiva: ALUT – Algarviana Ultra Trail (303 KM), Trail de
Conímbriga Terras de Sicó (178 KM), MIUT – Madeira Island Ultra Trail (115 KM),
UTSM – Ultra Trail de São Mamede (108 KM) e 24 horas de Mem Martins (161 KM).
Luiz de Ramos
O Luiz foi aquele que, dos
três, começou nestas andanças há menos tempo. Vindo da orientação, apaixonou-se
pelas provas de Backyard , não tendo ainda falhado nenhuma que tivesse
ocorrido em Portugal. E dos Backyards ao Trail Endurance, foi um pequeno passo…
Conheceu o clube através das
duas edições do Monsanting Backyard Ultra que ocorreram no ano passado. Iamos
trocando algumas reações por contas das publicações e das partilhas que íamos fazendo
e aos poucos foi perdendo a timidez. Depois de algum período de reflexão, aceitou
o desafio e é nosso atleta há cerca de um ano. Parece inacreditável, não é?
A presente temporada tem
sido repleta de desafios e igual número de conquistas. ALUT – Algarviana Ultra
Trail, Terra de Gigantes, Trail de Conímbriga Terras de Sicó, Trotamontes
Backyard Ultra, MIUT – Madeira Island Ultra Trail, Horizontes Backyard Ultra, Voltas
do Impossível, Oh Meu Deus (Viriato). Chega à marca dos 3 000 KM percorridos
antes do final de julho, acho que isso diz tudo.
Teodoro Trindade
Se o dicionário tivesse
fotografias, quando procurássemos por “calma” e “sabedoria”, iríamos encontrar
a fotografia deste homem. Além de tudo o resto é, dos três, aqueles que faz
parte do clube há mais tempo - uma dúzia de anos. Durante esse período de tempo
completou, até ao final de junho, cento e oito maratonas / ultras. Cento e
oito.
No último ano completou “apenas”:
ALUT – Algarviana Ultra Trail (303 KM), Trail de Conímbriga Terras de Sicó (178
KM), TAUT – Terras de Ansião Ultra Trail (103 KM), UTSM – Ultra Trail de São
Mamede (108 KM), 24 horas de Mem Martins (129 KM), UMCT – Ultra Maratona Caminhos
do Tejo (144 KM).
A prova
Não serei a melhor pessoa
para falar sobre a prova, no entanto posso partilhar algumas coisas que me fui
apercebendo.
Penso que não será justo comparar esta prova com qualquer outra que exista em Portugal ou em qualquer outro lugar. Não é apenas uma prova de Endurance XXL, é outra coisa. Por vários motivos:
- Julho. Acho que é autoexplicativo.: fazer uma prova de quase trezentos quilómetros na beira baixa, na segunda metade de julho, é uma maluqueira. Tal como é, por motivos totalmente “opostos”, o Terra de Gigantes. Este ano teve a particularidade de o dia de sexta-feira ter sido mais “amigo” dos nossos atletas. Pelo menos até meio da tarde. Mas as dificuldades estavam lá todas. Entre percurso acidentado, bolhas nos pés, desconforto na digestão, assaduras na pele, o longo percurso entre Lentiscais e Vila Velha de Ródão…
- Bases de apoio. Mixed feelings aqui. Por um lado, é notória a falta de condições que existiram em algumas bases de apoio. Houve relatos de falta de comida, falta de alimentos quentes, chá… Casos em que não era possível sequer tomar um banho ou descansar convenientemente, tal a quantidade de barulho… Mas se isso é verdade, também é verdade que o era para todos os participantes (ou pelo menos uma maioria). Será que isso também faz parte da experiência? Não é bom, não é agradável e despoleta reações em quem participa e apoio… mas será que isso também não faz parte do espírito desta competição?
Poderia continuar em apreciações,
mas acho que os atletas que nela participam saberão fazê-lo melhor que qualquer
um de nós.
A equipa
Mais do que aquilo que cada
um fez, a título individual, importa destacar tudo aquilo que temos (e
desculpem-me a utilização da primeira pessoa do plural, mas sinto que também
sou parte integrante) conquistado durante os últimos meses:
Foram estes nossos heróis
que fizeram equipa no ALUT e Sicó e permitiram a classificação da equipa no
Circuito Endurance XL. Tal como a Marina Marques e o HDP Fernandes também fazem
parte do lote restrito que deram o seu contributo. O clube e os seus atletas
devem reconhecer esse feito que vai muito além das conquistas a nível
individual.
O Luiz participou, em nome
do clube, em provas pertencentes aos cinco circuitos nacionais de trail. Tal
como a Carmen e o Teodoro deram o seu contributo nos “Ultras”. Embora esta
prova não pertencesse aos circuitos, era um desafio que sabia que iam encarar
com toda a força, dedicação e sabedoria que vos são tão características. São
uns vencedores.
Não obstante o facto de a
Carmen ver a sua participação interrompida em Idanha-a-Nova, esta mulher é uma
vencedora a todos os níveis. Confesso que fiquei assustado aquando do nosso
primeiro encontro em Alcafozes, alguns quilómetros antes de desligar o tracker.
Tenho a certeza que a Carmen deu tudo de si e voltará à Beira Baixa em 2024
para arrasar. E nós vamos lá estar para ver.
Como é habitual em algumas provas com esta distância e de acordo com o regulamento, "(...) No último trecho, entre a última Base de Apoio e a Meta de Chegada, era permitido a qualquer pessoa correr com o atleta. (...)". Como tal, aí fomos nós na última etapa.
As emoções
E a equipa… bom a equipa vai muito além daqueles que usaram dorsal durante a prova:
- Sofia, Rui e Guida (ainda que remotamente) – por trás dos nossos heróis, estão outros tantos. Estes são os pilares, o apoio, e o equilíbrio a todos os níveis. Se isto foi possível, deve-se acima de tudo a vocês que têm atu… apoiar em toda e qualquer hora. Por isso estou-vos também profundamente grato;
- Lafonso, o nosso participante na PT281+ Ultramarathon na vertente Run & Bike, como o Luiz tão bem mencionou. Onde o homem aparece (e aparece muito), é sucesso garantido. Além das participações nas muitas provas esta época, esteve no apoio no ALUT, no Terra de Gigantes, no PT281+ e decerto que em muitas mais que não me ocorrem agora. A tua sagacidade e boa disposição foram determinantes, principalmente nos momentos em que as forças poderiam começar a faltar. Obrigado;
- Manso, um atleta invulgar. Apesar da falta de material (t-shirt do clube, frontal, etc) e às vezes fazeres perder a paciência a um santo (se eu tivesse em prova acho que te tinha mandado à fava), sei que tens um bom coração e foi bom estar contigo. Obrigado;
- Débora, não há muito mais a dizer. Sabes aquilo penso e quão importante és para mim e para a Choca. A tua amizade, o carinho e dedicação... Não desfazendo nenhum dos restantes, de atuais e anteriores direções, o Clube tem muita sorte ao ter-te a ti e à Ana como diretoras. Aceitaste o desafio de ir rumo ao “desconhecido” e apesar de não termos acampado, não é por acaso que onde armamos barraco, a motivação e boa disposição estão garantidas. Não é por acaso que já somos reconhecidos em tantos lugares. Minha afilhada 🧡;
- Ana Chocalheiro. A minha Choquinha. O meu porto de abrigo. O meu braço direito, o esquerdo, as pernas, a cabeça, os braços, as unhas, tudo, tudo. Só tu te aventurares comigo em tudo isto. Sou um verdadeiro privilegiado também por isso. Obrigado, obrigado, obrigado 🧡🧡🧡;
Amigo João, já disse e escrevi várias vezes mas nunca ficarei cansado de dizer e escrever, MUITO OBRIGADO.
ResponderEliminarSinceramente não sei como seria participar nestas Aventuras e não pertencer a este Grupo de Amigos, não sei nem quero saber, porque independentemente do que eu possa dar ao Clube como Atleta aquilo que recebo supera em larga escala o meu contributo como Atleta deste Clube Maravilhoso.
Eu sinto Orgulho em ser R4F.
O orgulho é todo nosso. Agora a tua próxima missão é fazer com que a Sofia seja nossa atleta eheh 🧡
EliminarAmigo João, é mais fácil fazer uma Ultra Endurance XXL.
EliminarEU NUNCA CHORO!
ResponderEliminarCambada de bebés chorões…
Bolas…
….
Mas….
….
Bolas….vou buscar um lenço.
Acho que só é possível compreender, totalmente, o que escreveste depois de participar nessas aventuras. Quer na prova quer no apoio.
Só depois se sente o que resulta daí e que se manterá para o futuro: amizade, emoções, orgulho imenso, a nossa laranjada, os nossos abraços, os nossos heróis.
Descreveste-o muito bem!
Obrigada João
Amém. Ou Ah Man!!
ResponderEliminarUm belo texto que enriquece ainda mais este blogue, o Clube, e orgulha todos aqueles que querem bem.
Espero também que voltes a prosa.
De fato isto não é só sobre corrida. Eu não me canso de dizer isto: "Quantas pessoas nos nossos círculos estão semanalmente em convívio com os amigos?!” Isto é uma cena brutal. “A maior parte das pessoas convive com aqueles amigos do coração algumas vezes durante o ano. E falo por mim, tenho amigos do coração nos RUN 4 FUN. Pessoas boas, com carater, com atitude, com sentimentos, com mimos e que sabem que a vida funciona bem a dar e a receber.
Tu a Chocalheiro a DJ, e mais alguma rapaziada entraram mais recentemente nesse “lote” de amigos. Respect!
Quanto a esses três “monstros” que que desafiaram a PT281 só tenho uma palavra:
Motherfuckers.
Rui Faria
Que maravilha, João. Muita admiração pelos 3x281 e pelo espírito de todos. Obrigado.
ResponderEliminarEstou banzado com o teu texto Joãozinho. É uma delícia.
ResponderEliminarTu sabes falar ao coração, colocar os assuntos no lugar certo e "agitar as águas". Maravilha.
Venham de lá mais uns abraços.
MUITO OBRIGADO!
Muito bom ler-te, João. Obrigada pela prosa. Parabéns a quem se desafia e é feliz nos trilhos.
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