É incrível - MIUT - Madeira Island Ultra Trail
Pedi ao chatgpt para me escrever um texto catita como se
tivesse vivido a aventura de fazer a prova MIUT (Madeira Island Ultra Trail).
Pois está claro que não pedi. E provavelmente ele, o chato, teria respondido
que como é uma prova de emoções não iria conseguir.
Mas também, enquanto der, bem ou mal, eu escreverei as minhas aventuras.
Eu por exemplo posso decidir começar a escrever sobre esta prova
do MIUT pelo fim e dizer assim:
Consegui concluir a prova dos 115km. Foi incrível.
E pronto, ficava por aqui. Tá dito.
...
Só que não. Eu consigo abrir uma laranja.
Por exemplo desta
forma:
1.
“Conseguir acabar”.
Acabei de escrever “Consegui
concluir”. Não disse que concluí em “X” horas. Isso seria para me posicionar
num patamar de atleta mais restrito.
O meu patamar é o dos atletas que conseguiram acabar a prova. E acredito até que por diversas razões alguns
atletas mais treinadas que eu não puderam acabar.
2.
“A prova dos 115km” e 7230 metros de desnível positivo.
A corrida em trilhos é uma
modalidade desafiante, emocionante, deslumbrante, técnica, libertadora,
solidária, e quando se deseja pode ser lixada, perigosa, tramada, arrebatadora,
desgastante, … a “pain in the ass”.
Mas temos escolha. Podemos
escolher uma prova que é mais deslumbrante e menos técnica. Ou uma prova para
ir a ripar e pouco nos importa a qualidade dos trilhos e da paisagem em redor.
Acho que por aqui já se percebe a
ideia.
MIUT 115km.
Faço uma retrospetiva da prova e a conclusão imediata é que a prova tem uma
dificuldade acima da média.
Já nem digo “a prova é Dura” porque agora parece que só quando a prova é dura é
que “bom”.
A prova é muito difícil. Porque
acaba por ter todas as caraterísticas da corrida em trilhos numa só. No caso da
perigosidade tenho que ressalvar que existe um perigo natural associado a possíveis
quedas nas várias descidas ingremes, com pedras, raízes ou troncos
escorregadios. Mas não é perigosa se formos cautelosos o suficiente para tentar
evitar as quedas.
No meu caso, quando os meus
sensores me alertam para perigo que não sei dominar eu abrando até a um ritmo que
considero seguro.
A laranjinha Carmen Ferreira fez
uma observação e tendo a concordar. O MIUT é uma prova de trilhos. E sendo uma
prova de trilhos seria de evitar troços em alcatrão.
Mas penso que dada a necessidade de haverem zonas de abastecimentos em
condições decentes para os atletas, juntamente com o objetivo da organização de
fazer a prova ter um perfil altimétrico bruto com subidas sem tréguas e muito
longas, faz com a prova efetivamente tenha muitos troços em alcatrão ou
estradões desinteressantes.
Uma definição da ITRA (Associação
internacional de Trail Running): “trail running é uma corrida a pé realizada em
ambiente natural (montanha, deserto, floresta, planície,etc) com o mínimo
possível de estrada asfaltada ou pavimentada (que não pode exceder 20% do
tamanho total do percurso).”
Mas não haverá nenhum atleta de
Trail que seja capaz de dizer que o MIUT não é uma prova de trail. É de trail e
é das provas mais difíceis em Portugal e em qualquer parte do mundo.
2.a. Partida e primeira subida e
1ª Barreira Horária.
Com a experiência de 2019 sabia que a primeira, segunda e quarta barreira
horárias eram apertadas. Sobretudo porque as três grandes subidas fazem o ritmo
ser muito baixo.
Portanto havia que partir no meio do pelotão e dar o máximo até chegar ao
afunilamento que seria ao fim de +- 3km após a partida.
Objetivo cumprido sai a meio do
pelotão. Pow.. pow. Saí bem, cheio de força e á bastonada no alcatrão até a incrível
zona de apoio na Ribeira da Janela.
Na Ribeira da Janela terra estão centenas de pessoas a apoiar incessantemente.
Incentivam com palavras de apoio, tocam sinos, música,… miúdos e graúdos
esticam a mão para um five que na maior parte das vezes até é mal sucedido por
causa de tantas mãos.
Olhei para a descida que acabamos de fazer e é um espetáculo fantástico ver as
luzes dos atletas que ainda vinham a descer em zig zag.
Voltamos a subida em direção ao primeiro
abastecimento. Aos 14km e barreira horária era de 3h:30.
Parece fácil cumprir. Só
que por essa altura já se subiu mais que 1km na vertical. (1150m verticais).
Cheguei ao abastecimento com 2h:45 e cheio de pica.
Que putedo. Estou a sentir-me
lindamente. Demoro muito pouco tempo nesse abastecimento e dou corda as
sapatilhas La Sportiva Lycan II. Escolhi levar estas sapatilhas para os
primeiros 62km porque são as melhores que tenho em aderência a pisos molhados
em terra, barro, ou mato. E são de uma segurança brutal nas descidas.
Arranco do abastecimento feliz e contente.
Ainda olhei a minha volta e só vejo atletas todos fit. Alguns acusaram a subida
mais do que eu. Notei muito desgaste na expressão deles.
Alá que aí vou eu. Mais uns 3 ou
4 km e começa uma descida. Ui…ui… ia caindo. A descida é muito inclinada e maioritariamente em forma de degraus. O chão são pedras lisas e ... Bolas!!! Estão molhadas!
Conheço os ténis que levo calçados e penso para mim. Se te pões armado em
esperto a descer feito maluco como gostas não vai correr bem.
Ainda tentei uma abordagem de saltar para zona de terra em vez de pisar nas
pedras.
Essa forma de descida é possível e eu sei faze-la bem. Só que não seria boa
ideia fazer isso numa prova como o MIUT. É preciso treinar muito os músculos para
o impacto prolongado dessa técnica. Treino esse que eu não fiz.
Se rebento os quadríceps tão cedo vou-me arrepender.
Então abrandei a descida para níveis
de menino. Eu próprio não me reconhecia a descer tão lento e com algum receio.
Apesar da cabeça estar constantemente a mandar ir mais depressa consegui
frear esse meu ímpeto.
Foram uns 4km e 40 minutos naquela descida.
Ao chegar próximo do abastecimento de
Chão da Ribeira vejo uma zona de parque com um wc limpinho e quase a estrear.
Aproveito o momento para tratar desses assuntos.
No abastecimento, para além de
encher um dos flaskes com água e comer alguma coisa, troco a pilha do frontal.
Saio dali feliz e contente. Mas antes pergunto a um membro da organização se agora
era Estanquinhos. Ele responde-me que não. E balbuciou uma coisa qualquer.
Fiquei baralhado. Tinha quase a certeza que Estanquinhos seria a próxima subida. Mas ok. Não me interessa o
que é. É para ir e ponto final.
Mais um pequeno troço de estrada e mais a frente entramos num trilho a subir.
Bem… um
troço de escadaria feita de troncos de madeira a suportar a terra… curvas e
contracurvas apertadas e inclinação elevada.
Mau! Esta porra é a mas é a subida para Estanquinhos. O tipo não percebe nada disto.
Estou a sentir-me feliz. Estava a subir Estanquinhos e ainda cheio de energia.
Analiso a situação.
Ainda dá tempo de mandar uma foto ao companheiro Gonçalo Melo. Cá vai, saquei
uma selfie, que não se vê nada para além da escuridão e de mim, ligo os dados e
envio com dedicatória ao Gonçalo.
Tento filmar, mas não dá.
Arrumo os apetrechos e meto-me a
caminho.
No tempo que parei ali passaram vários atletas, também cheios de
ganas.
Segui-lhes no encalço e mais a cima consigo encostar a um grupo.
Só que o meu ritmo está mais ritmado
e mais forte que o deles.
Mas numa subida com aquela inclinação é quase uma
estupidez ultrapassar alguém que tem quase o mesmo ritmo.
É meio caminho andado
para ultrapassar e depois irmos em esforço para não parecermos parvos.
Mas arrisquei, aliás nem foi preciso pedir passagem. Os dois últimos encostaram
na berma. Eu disse boas e passei.
No MIUT é complicado falar com alguém. Porque a maior parte dos atletas parece
que são estrangeiros e não percebem nada de tuga. Não são como aqueles turistas
que já entendem algumas palavras de Português.
Estava super motivado a fazer a
subida. Foi uma altura em que apesar de ir focado e em esforço consigo pensar com
mais ou menos clarividência.
Pois foi… pensar com clarividência pode não ser assim tão bom.
Pensei que teria que estar atento
as horas para telefonar a Sandra quando ela estivesse a caminho da prova dela.
O Rui Gonçalves ia leva-la por volta das 6h:30 para a partida.
Pensei também nos dois companheiros que estavam na prova comigo. E como se teriam
saído naquela descida perigosa.
E depois, inevitavelmente pensei no
Francisco. Estava “no território” dele. Fisicamente mais perto dele do que é costume.
Tinha feito uma tentativa para tentar estar com ele. Falei antecipadamente com os
responsáveis do Espaço de Família para saber se seria possível agendarem o convívio.
Ficaram de me responder para uma
eventual possibilidade as 17:30 de sexta-feira.
Entretanto, até as
18:00 ainda não me tinham contactado. Deduzi e aceitei que não teriam conseguido agendar o convívio.
Por volta das
18h:30 telefonaram a dizer que estiveram em conversa com o Francisco mas que
não podia haver o convívio porque ele não queria. Sentia-se nervoso, apreensivo
porque já passou muito tempo.
Conversei um pouco com o técnico do
Espaço de Família sobre o assunto e desliguei. Eu já esperava mais ou menos que não iria aconetcer. Foi só mais uma tentativa. E já foram tantas as vezes que apesar de fazer moça já não me afeta da mesma forma que no no inicio.
Mas na subida de Estanquinhos bateu esse momento. E chorei um bocado. O tempo para perceber e dar conta do silêncio que havia ali mesmo com os atletas a matraquilhar a montanha com os bastões.
O tempo suficiente para também
perceber que a montanha não é minha inimiga. Nem me quer mal. Pelo contrário. Proporcionou-me
aquele momento na solidão para pensar.
Durante esse tempo nunca parei de manter o ritmo. Não tenho a noção exata de
quanto tempo se passou.
Voltei a prova e continuei a
trepar.
Mais a frente lembrei-me que em 2019 nessa subida haviam muitos atletas encostados as bermas com ar de zombeis. Alguns até a vomitar. Essa é uma das imagens
que eu e o Gonçalo temos dessa subida de Estanquinhos.
Mas este ano não estava ninguém nesse estado caótico. Talvez porque vou mais adiantado.
Acabo de pensar isso e pow… um atleta que ia a minha frente párou! Virou a cabeça para o
lado e lá vai alho. Mesmo a minha frente um jato de vómito. Quase que me
salpica os pés.
Olhei para o rapaz e vi que ia sobreviver.
Segui caminho.
Até ao cimo passei por outros atletas que encostaram para descansar.
Quando a subida endireitou... eu comecei a trotar.
É aqui que eu percebo que o meu treino
resultou bem.
No final daquela tareia, sai a trote e a passar por outros atletas.
Alguns ainda tentavam acompanhar mas desistiam. O meu ritmo estava muito bom.
O dia estava a nascer. E foi altura de telefonar a Sandra para lhe desejar boa
prova. A Sandrukas ia fazer a prova de 60km. Falamos e fiquei ainda mais
animado.
Cheguei finalmente a Estanquinhos. Cheio de coragem. Cheio de ideias. "Agora vai
ser aquela descida mais ou menos fofinha". Estou bem e não me vou poupar muito.
Penso que demorei uns 15 minutos no abastecimento mesmo incluindo mais uma ida ao wc.
Saio do abastecimento em bom trote.
"Cautela com a descida rapaz que é pedregosa e não preciso torcer
pés".
Mas tinha que filmar aquele amanhecer. A trote mas com muito cuidado.
Até ao inicio da subida para o abastecimento na Encumeada fui sempre ligeirinho.
A subida para a Encumeada era a 3ª subida daquelas que dá luta. Fiz esta subida
com uma perna as costas. Terminei na Encumeada com 10h de prova. Tinha o limite
da barreira as 13h e cheguei as 10h.
A organização dizia que alí eram 48.4km com desnível positivo
2840mD+
O meu relógio e de vários atletas estava a marcar 49.8km.
Demorei uns 25 miutos no abastecimento. Depois sai para o tal troço que fizeram alterações
devido ao PR12 estar fechado.
Mais uma vez um troço em alcatrão para ir apanhar a subida.
Subida que me surpreendeu por ser tão inclinada e longa.
Esta subida aumentou em 130 metros o desnível D+ daquela que antes subia pelo tubo
de água (pipeline).
A primeira parte da subida até contornar o pipeline e apanhar o PR12 quase que
me arrasou. Trilho feio sem história, muito inclinado e mais longo do que eu estaria a espera.
Mas cheguei finalmente troço do PR12 as pernas voltaram ao ativo. Fui em bom ritmo até onde dava
para trotar.
Por causa da demora da subida "inesperada" (Esta parte do percurso não foi disponibilizada aos atletas porque está vedadao o acesso ao publico. Não tivemos por gpx, nem em formato de perfil), fiquei inesperadamente com pouca água e tive que ir a racionar.
Não fui o único que ficou sem água.
Já perto da descida para o Curral da Freiras, eu e vários atletas aproveitamos uma das três ou quatro nascentes que existem ali para fazer o refil de água.
Eu estava muito adiantado em relação ao tempo da barreira horária definida para o Curral das Freiras. Foi nessa barreira que em 2019 ultrapssei o tempo e fui barrado sem puder continuar a prova nesse ano.
Mas desta vez cheguei ao Curral das Freiras com
14 horas de prova e o meu relógio marcava 65km e 3970D+.
Muito feliz. A Barreira horária era as 16h.
Troquei de roupa. E ainda deu para tomar um duche rápido. Tratei de colocar os
meus abastecimentos na mochila para a próxima etapa. Troquei de sapatilhas. A partir daqui ia levar agora umas sapatilhas mais pesadas mas mais confortáveis
e com melhor aderência a pedra molhada. Umas La Sportiva Akira.
Mas houve uma coisa não correu como eu queria.
Como tive que fazer a reposição de proteína e carboidratos em pó, fiquei sem
vontade de comer.
Mesmo assim petisquei algumas coisas. Mas queria poder ter comido sopa e
massa. Mas não comi e fiquei a pensar que não era uma boa decisão.
Fiquei menos preocupado porque levava dois flaskes com carboidratos Maurten. Levava barritas e proteína também. Acabou por não me parecer uma falha assim tão grave.
Estive no abastecimento 48
minutos. Demorado mas nada mau! Isto considerando a muda de roupa e reposição total
do stock da mochila e alimentação.
Sabia que a próxima subida ia ser
tramada. A mais longa de todas as subidas da prova.
Mais uma vez um troço de +- 3km em alcatrão até chegar a zona de trilho.
A história desta subida começou a desvendar o motivo por que eu devia ter
comido bem no abastecimento anterior.
Para
além disso este trilho não teve nenhuma fonte de água.
E eu precisava alguma água. Tinha os flaskes com água com carboidratos mas não
era a mesma coisa. A água com carboidratos é obviamente adocicada e as vezes fico farto. Mas claro que sempre ajuda beber.
O fato é que passado 2/3 da subida eu já não tinha nem metade da pica que
tive nas subidas anteriores.
Podia ser por vários motivos. Pode ter sido pagar a fatura pelo ritmo que
fiz até aos 65km.
Finalmente cheguei ao Pico Ruivo.
Cheio de sede e alguma fome também. Bebi de tudo.
Primeiro água, depois cola, água com gás e café.
Comi chocolate,
queijo, marmelada, batatas e bolo.
Sentei-me um pouco a digerir tudo e a ganhar coragem para o próximo troço.
Apesar daquele
abastecimento estar muito animado com música e pessoal bem-disposto e sempre
pronto a ajudar acabei por ficar ali pouco tempo. Arraquei.
O próximo ponto agora era subir até ao Pico do Areiro. Era para concluir a subida mais alta da
prova.
O perfil altimetrico da prova dizia que depois desse ponto a prova deixava praticamente de ter subidas.
Desço os vários lances de escadas de ferro (três escadas de ferro separadas por
alguns km).
Quando, termina a parte emq ue tinhamos que descer e começa a parte da subida, deparo-me com uma situação estranha. Não consigo usar os bastões para me
auxiliar a subir porque não consigo produzir mais energia do que que tenho nas
pernas.
Sempre que tento utilizar os bastões parece que atingi o conhecido muro
nas maratonas. Não há baterias.
A experiência diz que não há muito para inventar. Sem energia não há progressão. Talvez alguma substância proibida pudesse ajudar. Só que não.
Quando forço e procuro gerar energia fico
nauseado. Tá bonito isto!!
Calmaaa!! Consigo utilizar as correntes de ferro que ladeiam ao longo das
subidas para me auxiliar a subir. E passo a utilizar essa opção até chegar ao Pico.
Sempre que era a direito ou a descer aliviava e aumentava um pouco o ritmo para
compensar a desgraça da lentidão a subir.
Foi muito difícil chegar ao Pico
do Areeiro. Muito mesmo. Mas cheguei. Havia muita gente a apoiar no final da subida. E fotografos a tiraram fotos.
Finalmente no topo! O Rui Gonçalves está por lá. Tira umas fotos e dá-me algum animo e alento para os 4km que faltavam até ao próximo abastecimento(Chão da Lagoa).
Estes 4km foram dramáticos. Percebi que estômago já não estava a carburar. Tentei
forçar a ingestão de uma barra de proteína mas não consegui. Tentei puxar o vómito para ver se podia desbloquear. Nada funciou. Segui a passo mais ou menos apressado.
O problema é que estava sem
energia e sempre que forçava ficava nauseado e tinha que voltar a andar. Trote
era simplesmente para esquecer.
Cheguei ao abastecimento e fui a
enfermaria explicar a situação.
Precisava recuperar o estomago para poder comer
uma sopa ali no abastecimento.
A enfermeira fez umas quantas perguntas e deu instruções a assistente para me
dar um comprido qualquer.
Meteu-me debaixo da língua e derreteu em alguns minutos.
Uns 10 minutos depois com algum esforço consegui comer a
sopa.
Meti-me a caminho para o próximo troço. Senti que a energia estava a voltar aos
poucos e a sensação náusea pouco me incomodava e estava a desaparecer.
Cheguei ao abastecimento seguinte
já recuperado. E ainda tive um boost extra. A Sandrukas já tinha terminado com
sucesso a prova dela e foi ali dar a beijoka da ordem.
Comi novamente sopa e hidratei bem.
Arranco em direção ao último abastecimento.
Já consigo voltar a correr e sempre que não é a subir corro com alma.
O nosso organismo é muito inteligente.
Como não conseguia produzir energia desativou-me o gasto de energia para os minimos. E assim
que conseguiu voltar a produção energetica libertou-me as pernas.
Até chegar ao abastecimento seguinte foi um instante. A Sandra e o Rui
Gonçalves já lá estavam também quando cheguei.
Comi novamente e sai bem animado.
A Sandra viu o meu entusiasmo e espertinha medrosa fez-me prometer que não ia
correr na Vereda do Larano. Ainda torci o nariz, mas a palavra tem que valer
mais que uns minutos ganhos numa prova.
Assim foi. Fiz o raio da Vereda toda a passo. E de vez em quando fazia uma
paragem. Aquilo estava a dar-me um sono misturado com irritação de ser tão
longa.
A interminável Vereda do Larano. Não se via nada para além do chão e das fitas de
marcação.
Muitos atletas passaram por mim neste troço.
Desejoso de correr quando a vereda terminasse.
E assim que terminou, voltei ao
ativo.
A primeira parte era a descer. Tinha algumas partes com pedras e meio que era técnica. Mas fui torte. E acabei por passar a maior parte dos atletas que me passaram no Larano.
Faltavam 5km e chego a última parte da prova. Já se vê Machico ou pelo menos parece Machico.
O troço é sempre ao lado de uma levada. Os primeiros 2km tenho atletas a minha frente. Consigo corro e trotar para passar-los.
Os últimos 3km foi sempre a "dar" até chegar a meta. Mesmo na última descida que ainda era ingréme não desmontei do cavalo.
3. 3. Foi incrível!
O incrível nisto não foi só concluir.
O incrível nisto foi tudo que aconteceu desde o dia que me inscrevi nesta
prova.
Foi uma inscrição de uma forma meio parva e que deu origem a muitas
coisas incríveis e boas.
Quando efetuei a inscrição, a minha performance para fazer uma prova destas
estava quase no zero.
Dediquei-me nos treinos, mas nunca abandonei os convívios
no Clube nem nos treinos semanais.
É incrível a quantidade de conselhos que fui recebendo quando falava no meu
plano de treino.
É incrível o apoio e os incentivos dos companheiros RUN 4 FUN durante a preparação.
Mesmo de atletas que hoje ainda não sabem o que é fazer provas ultras em
trilhos ou provas com 100km.
A eles digo que vale a pena a aventura de ir atrás dos ultras. E depois ir atrá dos três dígitos.
Muitas coisas incríveis acontecem e espero que um dia
descubram isso.
Foi tão bom ter dois Incríveis atletas Cármen Ferreira e Luiz Ramos nesta
aventura.
Apesar de terem feito a prova praticamente sempre juntos, cada um
deles tem uma história incrível para contar.
Foi incrível o apoio da Piturra durante mais de 36 semanas. Baldou-se um pouco
aos treinos que fiz que tnham mais altimetria. Mas está desculpada por causa dos
batimentos.
A Sandra Simões é uma companheira fora de série. E concluiu de
forma funtástica a sua 50 prova com 42km ou mais.
Parabéns minha querida. Tu não és a maior. És mais, muito mais. És aquela!
Digam lá se isto não roça mesmo o incrível?!
E pode parecer que tudo isto foi um processo e que entretanto terminou.
Humm.. hummm.
Fico com a pulga atrás da orelha por causa de alguns acontecimentos.Desde logo
porque me inscrevi feito tolo nesta prova na Madeira?! E sobre os detalhes de não ter
conseguido o convívio com o Francisco?!!
A vida é incrível.
E acabo como comecei. Consegui concluir a prova dos 115km.
Rui Faria
O comentário possível: extraordinário relato. Obrigado Rui Faria pela partilha e pelo incentivo para fazer provas que nunca na vida pensaríamos conseguir fazer.
ResponderEliminarE aqui fica uma resposta do chatGPT à informação que lhe dei:
"És um corredor de provas em trilhos. Concluíste a MIUT (Madeira Island Ultra Trail) que foi realizada na ilha da Madeira, com partida às 0:00 de sábado passado. A prova foi muito difícil pelas enormes subidas e descidas, por vezes em zonas de grande perigo. Faz um relato emocionado das tuas experiências a fazer 115 km em 28:12:40 horas
Relato da MIUT (Madeira Island Ultra Trail)
A MIUT (Madeira Island Ultra Trail) foi uma corrida desafiante, extenuante e emocionante de 115 km, que partiu à 0:00 de sábado passado. Eu corri sem parar durante 28 horas e 12 minutos, com muitas subidas e descidas íngremes, que me exigiram muita força e vontade.
No começo foi difícil deixar o chão firme e correr em trilhos tão íngremes, mas isso rapidamente se tornou menos difícil. O cenário era deslumbrante e me mantinha motivado a subir cada vez mais.
À medida que a prova avançava e me aproximava do fim, enfrentei algumas perigosas descidas. O terreno difícil e as curvas estreitas exigiram que eu colocasse toda a minha precaução e concentração para me manter seguro.
Logo após a linha de chegada, tive a sensação de ter alcançado algo que muitos não conseguem. Passei por momentos incríveis, superando meus limites e enfrentando os mais difíceis obstáculos. Esta corrida me ensinou a nunca desistir, independentemente do que me parecia impossível. Foi uma experiência de vida inesquecível."
___________
Como se vê, nada a ver com o relato que fizeste, Com uma diferença abissal, só tu é que sabes o que se passou e as emoções que experimentaste. Grande abraço amigo Rui
João, muito obrigado!
EliminarÉ muito bom contar sempre com o teu apoio.
Grande abraço.
Muitos Parabéns meu Padrinho , e Parabéns pela aventura!
ResponderEliminarExcelente, muito boa descrição! Muitos parabéns pela prova e pelo texto. Boa recuperação!
ResponderEliminarObrigado mestre Filipe Torres (42).
EliminarOs teus relatos ajudaram-me. Só por exemplo a parte em que aconselhas a não sair na cauda do pelotão por causa do afunilamento.
Essa dica é fundamental para não não perder uns 10 a 15 minutos naquele simples single track aos 3km.
Abraço
Piturro…és incrível! Tenho uma enorme admiração pela forma como abordas o trabalho de preparação e como o enfrentas no terreno.
ResponderEliminarE que terreno! Repito: como é que pessoas como uma vida normal, com ocupação profissional, a quem restam algumas horas semanais para treinar, num terreno totalmente distinto do da prova, se aventuram 30 horas num esforço intensivo ?
Pessoas normais mas incríveis.
Quando penso nisso lamento profundamente que o Francisco esteja privado de admirar esses feitos incríveis do pai, e de conhecer a personalidade que os permite levar a cabo. Na mesma medida que lamento que estejas privado dos feitos da vida dele.
Mas as personalidades mantêm-se e apuram-se e poderão dar-se a conhecer no futuro. Histórias para contar, conhecimentos para aprofundar.
Obrigada por poder acompanhar e admirar mais uma das tuas trabalhosas, sofridas e admiráveis vitórias.
❤️❤️❤️❤️
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