É incrível - MIUT - Madeira Island Ultra Trail

 

Pedi ao chatgpt para me escrever um texto catita como se tivesse vivido a aventura de fazer a prova MIUT (Madeira Island Ultra Trail).

Pois está claro que não pedi. E provavelmente ele, o chato, teria respondido que como é uma prova de emoções não iria conseguir.
Mas também, enquanto der, bem ou mal, eu escreverei as minhas aventuras.

Eu por exemplo posso decidir começar a escrever sobre esta prova do MIUT pelo fim e dizer assim:

Consegui concluir a prova dos 115km. Foi incrível.

E pronto, ficava por aqui. Tá dito.

...


Só que não. Eu consigo abrir uma laranja.
Por exemplo desta forma:

1.       “Conseguir acabar”.

Acabei de escrever “Consegui concluir”. Não disse que concluí em “X” horas. Isso seria para me posicionar num patamar de atleta mais restrito.
O meu patamar é o dos atletas que conseguiram acabar a prova.  E acredito até que por diversas razões alguns atletas mais treinadas que eu não puderam acabar.

2.       “A prova dos 115km” e 7230 metros de desnível positivo.

A corrida em trilhos é uma modalidade desafiante, emocionante, deslumbrante, técnica, libertadora, solidária, e quando se deseja pode ser lixada, perigosa, tramada, arrebatadora, desgastante, … a “pain in the ass”.

Mas temos escolha. Podemos escolher uma prova que é mais deslumbrante e menos técnica. Ou uma prova para ir a ripar e pouco nos importa a qualidade dos trilhos e da paisagem em redor.

Acho que por aqui já se percebe a ideia.

MIUT 115km.
Faço uma retrospetiva da prova e a conclusão imediata é que a prova tem uma dificuldade acima da média.
Já nem digo “a prova é Dura” porque agora parece que só quando a prova é dura é que “bom”.

A prova é muito difícil. Porque acaba por ter todas as caraterísticas da corrida em trilhos numa só. No caso da perigosidade tenho que ressalvar que existe um perigo natural associado a possíveis quedas nas várias descidas ingremes, com pedras, raízes ou troncos escorregadios. Mas não é perigosa se formos cautelosos o suficiente para tentar evitar as quedas.

No meu caso, quando os meus sensores me alertam para perigo que não sei dominar eu abrando até a um ritmo que considero seguro.

A laranjinha Carmen Ferreira fez uma observação e tendo a concordar. O MIUT é uma prova de trilhos. E sendo uma prova de trilhos seria de evitar troços em alcatrão.
Mas penso que dada a necessidade de haverem zonas de abastecimentos em condições decentes para os atletas, juntamente com o objetivo da organização de fazer a prova ter um perfil altimétrico bruto com subidas sem tréguas e muito longas, faz com a prova efetivamente tenha muitos troços em alcatrão ou estradões desinteressantes.

Uma definição da ITRA (Associação internacional de Trail Running): “trail running é uma corrida a pé realizada em ambiente natural (montanha, deserto, floresta, planície,etc) com o mínimo possível de estrada asfaltada ou pavimentada (que não pode exceder 20% do tamanho total do percurso).”

Mas não haverá nenhum atleta de Trail que seja capaz de dizer que o MIUT não é uma prova de trail. É de trail e é das provas mais difíceis em Portugal e em qualquer parte do mundo.

 

2.a. Partida e primeira subida e 1ª Barreira Horária.


Com a experiência de 2019 sabia que a primeira, segunda e quarta barreira horárias eram apertadas. Sobretudo porque as três grandes subidas fazem o ritmo ser muito baixo.

Portanto havia que partir no meio do pelotão e dar o máximo até chegar ao afunilamento que seria ao fim de +- 3km após a partida.


Objetivo cumprido sai a meio do pelotão. Pow.. pow. Saí bem, cheio de força e á bastonada no alcatrão até a incrível zona de apoio na Ribeira da Janela.

Na Ribeira da Janela terra estão centenas de pessoas a apoiar incessantemente. Incentivam com palavras de apoio, tocam sinos, música,… miúdos e graúdos esticam a mão para um five que na maior parte das vezes até é mal sucedido por causa de tantas mãos.

Olhei para a descida que acabamos de fazer e é um espetáculo fantástico ver as luzes dos atletas que ainda vinham a descer em zig zag.


Voltamos a subida em direção ao primeiro abastecimento. Aos 14km e barreira horária era de 3h:30.
Parece fácil cumprir. Só que por essa altura já se subiu mais que 1km na vertical. (1150m verticais).
Cheguei ao abastecimento com 2h:45 e cheio de pica.

Que putedo. Estou a sentir-me lindamente. Demoro muito pouco tempo nesse abastecimento e dou corda as sapatilhas La Sportiva Lycan II. Escolhi levar estas sapatilhas para os primeiros 62km porque são as melhores que tenho em aderência a pisos molhados em terra, barro, ou mato. E são de uma segurança brutal nas descidas.


Arranco do abastecimento feliz e contente. Ainda olhei a minha volta e só vejo atletas todos fit. Alguns acusaram a subida mais do que eu. Notei muito desgaste na expressão deles.

Alá que aí vou eu. Mais uns 3 ou 4 km e começa uma descida. Ui…ui… ia caindo. A descida é muito inclinada e maioritariamente em forma de degraus. O chão são pedras lisas e ... Bolas!!! Estão molhadas!

Conheço os ténis que levo calçados e penso para mim. Se te pões armado em esperto a descer feito maluco como gostas não vai correr bem.

Ainda tentei uma abordagem de saltar para zona de terra em vez de pisar nas pedras.
Essa forma de descida é possível e eu sei faze-la bem. Só que não seria boa ideia fazer isso numa prova como o MIUT. É preciso treinar muito os músculos para o impacto prolongado dessa técnica. Treino esse que eu não fiz.
Se rebento os quadríceps tão cedo vou-me arrepender.

Então abrandei a descida para níveis de menino. Eu próprio não me reconhecia a descer tão lento e com algum receio.
Apesar da cabeça estar constantemente a mandar ir mais depressa consegui frear esse meu ímpeto.

Foram uns 4km e 40 minutos naquela descida.
Ao chegar próximo do abastecimento de Chão da Ribeira vejo uma zona de parque com um wc limpinho e quase a estrear. Aproveito o momento para tratar desses assuntos.

No abastecimento, para além de encher um dos flaskes com água e comer alguma coisa, troco a pilha do frontal.
Saio dali feliz e contente. Mas antes pergunto a um membro da organização se agora era Estanquinhos. Ele responde-me que não. E balbuciou uma coisa qualquer.
Fiquei baralhado. Tinha quase a certeza que Estanquinhos seria a próxima subida. Mas ok. Não me interessa o que é. É para ir e ponto final.

Mais um pequeno troço de estrada e mais a frente entramos num trilho a subir.
Bem… um troço de escadaria feita de troncos de madeira a suportar a terra… curvas e contracurvas apertadas e inclinação elevada.
Mau! Esta porra é a mas é a subida para Estanquinhos. O tipo não percebe nada disto.

Estou a sentir-me feliz. Estava a subir Estanquinhos e ainda cheio de energia.


Analiso a situação.
Ainda dá tempo de mandar uma foto ao companheiro Gonçalo Melo. Cá vai, saquei uma selfie, que não se vê nada para além da escuridão e de mim, ligo os dados e envio com dedicatória ao Gonçalo.

Tento filmar, mas não dá.

Arrumo os apetrechos e meto-me a caminho.

No tempo que parei ali passaram vários atletas, também cheios de ganas.
Segui-lhes no encalço e mais a cima consigo encostar a um grupo.

Só que o meu ritmo está mais ritmado e mais forte que o deles.
Mas numa subida com aquela inclinação é quase uma estupidez ultrapassar alguém que tem quase o mesmo ritmo.
É meio caminho andado para ultrapassar e depois irmos em esforço para não parecermos parvos.

Mas arrisquei, aliás nem foi preciso pedir passagem. Os dois últimos encostaram na berma. Eu disse boas e passei.

No MIUT é complicado falar com alguém. Porque a maior parte dos atletas parece que são estrangeiros e não percebem nada de tuga. Não são como aqueles turistas que já entendem algumas palavras de Português.

Estava super motivado a fazer a subida. Foi uma altura em que apesar de ir focado e em esforço consigo pensar com mais ou menos clarividência.

Pois foi… pensar com clarividência pode não ser assim tão bom.

Pensei que teria que estar atento as horas para telefonar a Sandra quando ela estivesse a caminho da prova dela. O Rui Gonçalves ia leva-la por volta das 6h:30 para a partida.

Pensei também nos dois companheiros que estavam na prova comigo. E como se teriam saído naquela descida perigosa.

E depois, inevitavelmente pensei no Francisco. Estava “no território” dele. Fisicamente mais perto dele do que é costume.

Tinha feito uma tentativa para tentar estar com ele. Falei antecipadamente com os responsáveis do Espaço de Família para saber se seria possível agendarem o convívio.

Ficaram de me responder para uma eventual possibilidade as 17:30 de sexta-feira.

Entretanto, até as 18:00 ainda não me tinham contactado. Deduzi e aceitei que não teriam conseguido agendar o convívio.

Por volta das 18h:30 telefonaram a dizer que estiveram em conversa com o Francisco mas que não podia haver o convívio porque ele não queria. Sentia-se nervoso, apreensivo porque já passou muito tempo.

Conversei um pouco com o técnico do Espaço de Família sobre o assunto e desliguei. Eu já esperava mais ou menos que não iria aconetcer. Foi só mais uma tentativa. E já foram tantas as vezes que apesar de fazer moça já não me afeta da mesma forma que no no inicio. 

Mas na subida de Estanquinhos bateu esse momento. E chorei um bocado. O tempo para perceber e dar conta do silêncio que havia ali mesmo com os atletas a matraquilhar a montanha com os bastões.

O tempo suficiente para também perceber que a montanha não é minha inimiga. Nem me quer mal. Pelo contrário. Proporcionou-me aquele momento na solidão para pensar.

Durante esse tempo nunca parei de manter o ritmo. Não tenho a noção exata de quanto tempo se passou.

Voltei a prova e continuei a trepar.
Mais a frente lembrei-me que em 2019 nessa subida haviam muitos atletas encostados as bermas com ar de zombeis. Alguns até a vomitar. Essa é uma das imagens que eu e o Gonçalo temos dessa subida de Estanquinhos.

Mas este ano não estava ninguém nesse estado caótico. Talvez porque vou mais adiantado.
Acabo de pensar isso e pow… um atleta que ia a minha frente párou! Virou a cabeça para o lado e lá vai alho. Mesmo a minha frente um jato de vómito. Quase que me salpica os pés.
Olhei para o rapaz e vi que ia sobreviver.
Segui caminho.
Até ao cimo passei por outros atletas que encostaram para descansar.

Quando a subida endireitou... eu comecei a trotar.
É aqui que eu percebo que o meu treino resultou bem.
No final daquela tareia, sai a trote e a passar por outros atletas.
Alguns ainda tentavam acompanhar mas desistiam. O meu ritmo estava muito bom.

O dia estava a nascer. E foi altura de telefonar a Sandra para lhe desejar boa prova. A Sandrukas ia fazer a prova de 60km. Falamos e fiquei ainda mais animado.

Cheguei finalmente a Estanquinhos. Cheio de coragem. Cheio de ideias. "Agora vai ser aquela descida mais ou menos fofinha". Estou bem e não me vou poupar muito.
Penso que demorei uns 15 minutos no abastecimento mesmo incluindo mais uma ida ao wc.

Saio do abastecimento em bom trote.
"Cautela com a descida rapaz que é pedregosa e não preciso torcer pés".
Mas tinha que filmar aquele amanhecer. A trote mas com muito cuidado.

Até ao inicio da subida para o abastecimento na Encumeada fui sempre ligeirinho.

A subida para a Encumeada era a 3ª subida daquelas que dá luta. Fiz esta subida com uma perna as costas. Terminei na Encumeada com 10h de prova. Tinha o limite da barreira as 13h e cheguei as 10h.

A organização dizia que alí eram 48.4km com desnível positivo 2840mD+
O meu relógio e de vários atletas estava a marcar 49.8km.

Demorei uns 25 miutos no abastecimento. Depois sai para o tal troço que fizeram alterações devido ao PR12 estar fechado.

Mais uma vez um troço em alcatrão para ir apanhar a subida.
Subida que me surpreendeu por ser tão inclinada e longa.

Esta subida aumentou em 130 metros o desnível D+ daquela que antes subia pelo tubo de água (pipeline).

A primeira parte da subida até contornar o pipeline e apanhar o PR12 quase que me arrasou. Trilho feio sem história, muito inclinado e mais longo do que eu estaria a espera.

Mas cheguei finalmente troço do PR12 as pernas voltaram ao ativo. Fui em bom ritmo até onde dava para trotar.
Por causa da demora da subida "inesperada" (Esta parte do percurso não foi disponibilizada aos atletas porque está vedadao o acesso ao publico. Não tivemos por gpx, nem em formato de perfil), fiquei inesperadamente com pouca água e tive que ir a racionar.

Não fui o único que ficou sem água.
Já perto da descida para o Curral da Freiras, eu e vários atletas aproveitamos uma das três ou quatro nascentes que existem ali para fazer o refil de água.

Eu estava muito adiantado em relação ao tempo da barreira horária definida para o Curral das Freiras. Foi nessa barreira que em 2019 ultrapssei o tempo e fui barrado sem puder continuar a prova nesse ano.





Mas desta vez cheguei ao Curral das Freiras com 14 horas de prova e o meu relógio marcava 65km e 3970D+.
Muito feliz. A Barreira horária era as 16h.

Troquei de roupa. E ainda deu para tomar um duche rápido. Tratei de colocar os meus abastecimentos na mochila para a próxima etapa. Troquei de sapatilhas. A partir daqui ia levar agora umas sapatilhas mais pesadas mas mais confortáveis e com melhor aderência a pedra molhada. Umas La Sportiva Akira.

Mas houve uma coisa não correu como eu queria.
Como tive que fazer a reposição de proteína e carboidratos em pó, fiquei sem vontade de comer.
Mesmo assim petisquei algumas coisas. Mas queria poder ter comido sopa e massa. Mas não comi e fiquei a pensar que não era uma boa decisão.

Fiquei menos preocupado porque levava dois flaskes com carboidratos Maurten. Levava barritas e proteína também. Acabou por não me parecer uma falha assim tão grave.

Estive no abastecimento 48 minutos. Demorado mas nada mau! Isto considerando a muda de roupa e reposição total do stock da mochila e alimentação.

Sabia que a próxima subida ia ser tramada. A mais longa de todas as subidas da prova.
Mais uma vez um troço de +- 3km em alcatrão até chegar a zona de trilho.

A história desta subida começou a desvendar o motivo por que eu devia ter comido bem no abastecimento anterior.
Para além disso este trilho não teve nenhuma fonte de água.
E eu precisava alguma água. Tinha os flaskes com água com carboidratos mas não era a mesma coisa. A água com carboidratos é obviamente adocicada e as vezes fico farto. Mas claro que sempre ajuda beber.

O fato é que passado 2/3 da subida eu já não tinha nem metade da pica que tive nas subidas anteriores.
Podia ser por vários motivos. Pode ter sido pagar a fatura pelo ritmo que fiz até aos 65km.

Finalmente cheguei ao Pico Ruivo.
Cheio de sede e alguma fome também. Bebi de tudo.
Primeiro água, depois cola, água com gás e café.
Comi chocolate, queijo, marmelada, batatas e bolo.
Sentei-me um pouco a digerir tudo e a ganhar coragem para o próximo troço.
Apesar daquele abastecimento estar muito animado com música e pessoal bem-disposto e sempre pronto a ajudar acabei por ficar ali pouco tempo. Arraquei.

O próximo ponto agora era subir até ao Pico do Areiro. Era para concluir a subida mais alta da prova.
O perfil altimetrico da prova dizia que depois desse ponto a prova deixava praticamente de ter subidas.

Desço os vários lances de escadas de ferro (três escadas de ferro separadas por alguns km).


Quando, termina a parte emq ue tinhamos que descer e começa a parte da subida, deparo-me com uma situação estranha. Não consigo usar os bastões para me auxiliar a subir porque não consigo produzir mais energia do que que tenho nas pernas.

Sempre que tento utilizar os bastões parece que atingi o conhecido muro nas maratonas. Não há baterias.

A experiência diz que não há muito para inventar. Sem energia não há progressão. Talvez alguma substância proibida pudesse ajudar. Só que não.
Quando forço e procuro gerar energia fico nauseado. Tá bonito isto!!

Calmaaa!! Consigo utilizar as correntes de ferro que ladeiam ao longo das subidas para me auxiliar a subir. E passo a utilizar essa opção até chegar ao Pico.
Sempre que era a direito ou a descer aliviava e aumentava um pouco o ritmo para compensar a desgraça da lentidão a subir.

Foi muito difícil chegar ao Pico do Areeiro. Muito mesmo. Mas cheguei. Havia muita gente a apoiar no final da subida. E fotografos a tiraram fotos.

Finalmente no topo! O Rui Gonçalves está por lá. Tira umas fotos e dá-me algum animo e alento para os 4km que faltavam até ao próximo abastecimento(Chão da Lagoa).

Estes 4km foram dramáticos. Percebi que estômago já não estava a carburar. Tentei forçar a ingestão de uma barra de proteína mas não consegui. Tentei puxar o vómito para ver se podia desbloquear. Nada funciou. Segui a passo mais ou menos apressado.

O problema é que estava sem energia e sempre que forçava ficava nauseado e tinha que voltar a andar. Trote era simplesmente para esquecer.

Cheguei ao abastecimento e fui a enfermaria explicar a situação.

Precisava recuperar o estomago para poder comer uma sopa ali no abastecimento.

A enfermeira fez umas quantas perguntas e deu instruções a assistente para me dar um comprido qualquer.
Meteu-me debaixo da língua e derreteu em alguns minutos.
Uns 10 minutos depois com algum esforço consegui comer a sopa.

Meti-me a caminho para o próximo troço. Senti que a energia estava a voltar aos poucos e a sensação náusea pouco me incomodava e estava a desaparecer.

Cheguei ao abastecimento seguinte já recuperado. E ainda tive um boost extra. A Sandrukas já tinha terminado com sucesso a prova dela e foi ali dar a beijoka da ordem.

Comi novamente sopa e hidratei bem.
Arranco em direção ao último abastecimento.
Já consigo voltar a correr e sempre que não é a subir corro com alma.

O nosso organismo é muito inteligente. Como não conseguia produzir energia desativou-me o gasto de energia para os minimos. E assim que conseguiu voltar a produção energetica libertou-me as pernas.

Até chegar ao abastecimento seguinte foi um instante. A Sandra e o Rui Gonçalves já lá estavam também quando cheguei.

Comi novamente e sai bem animado.

A Sandra viu o meu entusiasmo e espertinha medrosa fez-me prometer que não ia correr na Vereda do Larano. Ainda torci o nariz, mas a palavra tem que valer mais que uns minutos ganhos numa prova.

Assim foi. Fiz o raio da Vereda toda a passo. E de vez em quando fazia uma paragem. Aquilo estava a dar-me um sono misturado com irritação de ser tão longa.
A interminável Vereda do Larano. Não se via nada para além do chão e das fitas de marcação.

Muitos atletas passaram por mim neste troço.

Desejoso de correr quando a vereda terminasse.
E assim que terminou, voltei ao ativo.
A primeira parte era a descer. Tinha algumas partes com pedras e meio que era técnica. Mas fui torte. E acabei por passar a maior parte dos atletas que me passaram no Larano.

Faltavam 5km e chego a última parte da prova. Já se vê Machico ou pelo menos parece Machico.

O troço é sempre ao lado de uma levada. Os primeiros 2km tenho atletas a minha frente. Consigo corro e trotar para passar-los.
Os últimos 3km foi sempre a "dar" até chegar a meta. Mesmo na última descida que ainda era ingréme não desmontei do cavalo.

 

3.       3. Foi incrível!

O incrível nisto não foi só concluir.
O incrível nisto foi tudo que aconteceu desde o dia que me inscrevi nesta prova.

Foi uma inscrição de uma forma meio parva e que deu origem a muitas coisas incríveis e boas.

Quando efetuei a inscrição, a minha performance para fazer uma prova destas estava quase no zero.

Dediquei-me nos treinos, mas nunca abandonei os convívios no Clube nem nos treinos semanais.

É incrível a quantidade de conselhos que fui recebendo quando falava no meu plano de treino.

É incrível o apoio e os incentivos dos companheiros RUN 4 FUN durante a preparação. Mesmo de atletas que hoje ainda não sabem o que é fazer provas ultras em trilhos ou provas com 100km.

A eles digo que vale a pena a aventura de ir atrás dos ultras. E depois ir atrá dos três dígitos.
Muitas coisas incríveis acontecem e espero que um dia descubram isso.

Foi tão bom ter dois Incríveis atletas Cármen Ferreira e Luiz Ramos nesta aventura.
Apesar de terem feito a prova praticamente sempre juntos, cada um deles tem uma história incrível para contar.

Foi incrível o apoio da Piturra durante mais de 36 semanas. Baldou-se um pouco aos treinos que fiz que tnham mais altimetria. Mas está desculpada por causa dos batimentos.

A Sandra Simões é uma companheira fora de série. E concluiu de forma funtástica a sua 50 prova com 42km ou mais.
Parabéns minha querida. Tu não és a maior. És mais, muito mais. És aquela!

Digam lá se isto não roça mesmo o incrível?!


E pode parecer que tudo isto foi um processo e que entretanto terminou.
Humm.. hummm.
Fico com a pulga atrás da orelha por causa de alguns acontecimentos.Desde logo porque me inscrevi feito tolo nesta prova na Madeira?! E sobre os detalhes de não ter conseguido o convívio com o Francisco?!!

A vida é incrível.


E acabo como comecei. Consegui concluir a prova dos 115km.







Obrigado a todos que me ajudaram nesta aventura.

Rui Faria


Comentários

  1. O comentário possível: extraordinário relato. Obrigado Rui Faria pela partilha e pelo incentivo para fazer provas que nunca na vida pensaríamos conseguir fazer.

    E aqui fica uma resposta do chatGPT à informação que lhe dei:

    "És um corredor de provas em trilhos. Concluíste a MIUT (Madeira Island Ultra Trail) que foi realizada na ilha da Madeira, com partida às 0:00 de sábado passado. A prova foi muito difícil pelas enormes subidas e descidas, por vezes em zonas de grande perigo. Faz um relato emocionado das tuas experiências a fazer 115 km em 28:12:40 horas



    Relato da MIUT (Madeira Island Ultra Trail)

    A MIUT (Madeira Island Ultra Trail) foi uma corrida desafiante, extenuante e emocionante de 115 km, que partiu à 0:00 de sábado passado. Eu corri sem parar durante 28 horas e 12 minutos, com muitas subidas e descidas íngremes, que me exigiram muita força e vontade.

    No começo foi difícil deixar o chão firme e correr em trilhos tão íngremes, mas isso rapidamente se tornou menos difícil. O cenário era deslumbrante e me mantinha motivado a subir cada vez mais.

    À medida que a prova avançava e me aproximava do fim, enfrentei algumas perigosas descidas. O terreno difícil e as curvas estreitas exigiram que eu colocasse toda a minha precaução e concentração para me manter seguro.

    Logo após a linha de chegada, tive a sensação de ter alcançado algo que muitos não conseguem. Passei por momentos incríveis, superando meus limites e enfrentando os mais difíceis obstáculos. Esta corrida me ensinou a nunca desistir, independentemente do que me parecia impossível. Foi uma experiência de vida inesquecível."
    ___________
    Como se vê, nada a ver com o relato que fizeste, Com uma diferença abissal, só tu é que sabes o que se passou e as emoções que experimentaste. Grande abraço amigo Rui

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. João, muito obrigado!
      É muito bom contar sempre com o teu apoio.
      Grande abraço.

      Eliminar
  2. Muitos Parabéns meu Padrinho , e Parabéns pela aventura!

    ResponderEliminar
  3. Excelente, muito boa descrição! Muitos parabéns pela prova e pelo texto. Boa recuperação!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado mestre Filipe Torres (42).
      Os teus relatos ajudaram-me. Só por exemplo a parte em que aconselhas a não sair na cauda do pelotão por causa do afunilamento.

      Essa dica é fundamental para não não perder uns 10 a 15 minutos naquele simples single track aos 3km.

      Abraço

      Eliminar
  4. Piturro…és incrível! Tenho uma enorme admiração pela forma como abordas o trabalho de preparação e como o enfrentas no terreno.
    E que terreno! Repito: como é que pessoas como uma vida normal, com ocupação profissional, a quem restam algumas horas semanais para treinar, num terreno totalmente distinto do da prova, se aventuram 30 horas num esforço intensivo ?
    Pessoas normais mas incríveis.
    Quando penso nisso lamento profundamente que o Francisco esteja privado de admirar esses feitos incríveis do pai, e de conhecer a personalidade que os permite levar a cabo. Na mesma medida que lamento que estejas privado dos feitos da vida dele.
    Mas as personalidades mantêm-se e apuram-se e poderão dar-se a conhecer no futuro. Histórias para contar, conhecimentos para aprofundar.
    Obrigada por poder acompanhar e admirar mais uma das tuas trabalhosas, sofridas e admiráveis vitórias.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário