Trail Terras do Sado #1ª Edição
A primeira frase só podia ser para dar os parabéns à organização por criar um trail com um percurso muito, muito simpático e bem organizado.
Tenho feito dezenas de trails em todo o país (incluindo as ilhas) e por isso acho que posso opinar com algum conhecimento de causa.
Inscrições:12 € para 30km abastecimentos sólidos/líquidos suficientes para qualquer atleta puder cumprir desafio. Salta-me a mente a pobreza de uma ou duas provas que fiz recentemente.
Saco de boas vindas com um dorsal com muita qualidade e um tamanho mais pequeno que o habitual que em outras provas. Contrasta com o exagero dos babetes da Maratona de Lisboa por exemplo.
Óculos de sol, catitas, a fazer publicidade a Alcácer do Sal. Foi uma bela ideia. E fica emgraçado ver que quase todos os participantes estavam a usar em alguma altura.
Voucher para a 1 Imperial para todos os participantes. Talvez quem não beba imperial pudesse trocar por outra coisa. Não sei que não perguntei.
Quem comprou almoço ( feijoada ou bifanas) com a inscrição, custava 8€, tinha os vouchers para o prato, bebida, café, salada fruta. Tudo certinho.
E tinha ainda no saco a T-shirt técnica. No meu caso pedi com inscrição "Wolverine" e paguei 1€ pela inscrição. Valeu a pena ficou bem.
Pré prova: a expectativa de provas para baixo do Tejo deixam-me sempre alguma apreensão. Na minha opinião tem existido claramente um complexo "de falta de altitude ou D+" das organizações nestes trilhos. Digo com conhecimento de causa, já fiz várias provas no Alentejo.
Qual é a ideia de meter a malta a descer pela esquerda e subir logo no trilho ao lado pela direita?! Não há nenhuma beleza nisso. Fica uma espécie de engodo. Em casa tenho possibilidade de subir as escadas até ao nono andar e descer as vezes que eu quiser e não o faço.
As provas não têm que ser todas difíceis, técnicas ou com muita altimetria para serem "boas" agradáveis , giras, desafiantes.
Vamos lá abandonar um pouco essa ideia de dureza e dos duros.
Não digo que meter desafio não é bom. É sim senhor. E eu gosto de me inscrever em desafios maiores também. E há locais em que essa dureza é compatível com as vistas.
Mas acho positivo de trilhos em sitios giros sem exageros nas dificuldades. Podem contar com a minha inscrição quando assim for.
A prova: ambiente descontraído na partida.
Música e um grande speaker. Penso ser um atleta local.
Falava na expetacular moldura humana.
Eu olhava a volta e via uma centena, talvez duas centenas de pessoas.
Mas lá está. São perspectiva.
Acredito que as expectativas da organização para a primeira edição foram ultrapassadas.
De fato para uma primeira edição de uma prova, no Alentejo, com 900 D+, de uma organização que normalmente organiza BTT fora dos circuitos e desconhecidos dos habituais trailers não seria uma primeira edição de esgotar o campo de futebol.
Para nós habituados a estar em provas com muito mais atletas ficamos sempre com a sensação que a prova não teve adesão. Mas isso são pontos de vista. Eventualmente para alguns dos atletas que ali estavam a prova fui um sucesso de gente.
Santa Catarina é uma pequena aldeia. Nada de mais que a diferencie de outras aldeias. Mas é simpática diria eu.
Deambulavam por lá dois fotógrafos de máquina em punho a sacar fotos as caras felizes de óculos oferecidos.
Partida dos 30km hora marcada e zás... Dále gás.
Cuidado!!! Pé no meio de uma bosta "fresca". Tal era o tamanho da "coisa" que enterrei e absorveu toda a biqueira dos hoka mafate.
A primeira reação é de nojo e palavrões que me passou pela cabeça.
"E onde é que vai haver uma poça para limpar está "merda"" literalmente?!
Mas só que não! O ar quente sobe e o cheiro também. A cada passada, lufada de ar, e o cheiro entranhava em mim como um bálsamo.
As tantas, ... Estava no meio de um prado de flores amarelas e uma visão para os montes no horizonte...
Tive uma espécie de epifania. Senti-me feliz por estar ali a correr com a minha Piturrinha e a levar com o cheiro simpático que outrora era maligno.
A organização falou em trilhos muito bonitos dignos de registo e serem palmilhados por atletas. Esqueceu de falar em cheiros de ervas e flores. Ok o Rui Veloso já havia dito isso.
Para quem já percorreu Ribafria, Freita, Abutres, Açores, Madeira, ... Estes trilhos enquadram-se em , muito agradáveis, giros e muito simpáticos em algumas passagens.
Em outras partes, são apenas os trilhos ou caminhos normais da zona do país que é. Como por exemplo uma passagem num single track no meio de uma imensa extensão de chaparros. Adorei.
Por essa altura já só sentia a espaços o cheiro da bendita bosta.
Claro que se nota que em alguns locais a organização tentou que existisse também dificuldade e fizemos uns raides a descer para subir logo a seguir. Mas as subidas são super tranquilas, mesmo para quem não está habituado a muito D+.
As marcações estam muito bem. Eu levei o track, só porque me apeteceu levar, mas não era necessário.
A prova que no Alentejo as provas não devem ter exageros na altimetria, é que levei bastões e tinha no cinto atrás das costas. E
No último abastecimento um voluntário disse "até trazes um banquinho e tudo!".
O meu cérebro quase parou. "Ele está a falar de quê!!!??"
Mas perguntei... "Um banco?!"
Respondeu "Sim aí atrás das costas".
Eu para mim ""WTF"".
"Nãoooo... isto são bastões. Servem para afastar as vacas"
Ele era um homem da última palavra e retorquiu "E as abelhas"
Ah!!! E vejam só esta preciosidade que só quem vai a está prova deve ouvir.
Aos 23km diz-nos voluntário num single track.
"Vá... Nãn desmureçam".
Isto não é lindo?!.
Se nas maratonas em Espanha ao km 13 já tens malta a dizer "já lá tienes" ou "força campeon" aqui é assim... "Nan desmureçam".
Imagino, tal era a nossa cara de fraqueza naquele momento. Adorei.
A meta: fardos de palha, com dois níveis de escada, a bloquearem a linha de meta. Deduzo que era para completar o D+ que faltava.
Não é nada disso. Existem muitas provas que a meta é elevada.
Permite as fotos e que o atleta sinta o último fôlego e a memória ter concretizado a prova.
A fase final: banho, almoço, música e speaker a anunciar atletas que vão chegando.
Ah mais uma nota. Parece, e digo parece, porque foi um voluntário "gozão" que comentou que vassoura não teria capacidade para fazer 30km . Adoro isto heheh.
Para fechar: parabéns a organização, sei que foi um dos atletas de BTT que convenceu os outros do Clube a fazerem está prova. E fez muito bem.
Excelente, mantenham a prova simples sem altimetrias inventadas, e façam a malta sair da prova com um sorriso.
Proponho, que para o ano criem uma barreira, de 2 metros de comprimento com bosta de vaca. Assim todos os participantes iam ter uma experiência igual. Já estou com saudades do cheirinho bão.E, proponha que o lema da prova seja... "Nan desmureçam".
Até para o ano.
Post por Rui Faria
Adorei o relato, se todos os atletas ficaram satisfeitos e passaram a palavra para o ano seguramente tem mais atletas😀
ResponderEliminarObrigado Rui, gostei do relato. No próximo ano conta comigo, eu também quero conhecer os trilhos do Sado.
ResponderEliminarAdorei o "Nan desmureçam" 😂
ResponderEliminar😆 Adorei 🤣 este relato tem cheirinho bão. principalmente a meta em estilo spartan race. Brutal 😆 também quero.
ResponderEliminarCheio de pérolas, este relato. A "moldura humana", a bosta, o cheirinho, o banquinho, o fardo de palha. Muito interessante perceber como a perspectiva pessoal de cada um conta uma prova diferente. Eu, por exemplo, teria feito toda uma dissertação sobre esse bolo de bosta. É uma metáfora fantástica sobre a qual podemos falar um dia destes, se quiseres.
ResponderEliminarObrigado por as palavras sábias e acertivas.
ResponderEliminarSou eu o da foto,😁 tive o prazer de falar contigo um pouco .
Esse reconhecimento é muito importante para nós Cegonhas do Sado
Iremos dar tudo dê certo no próximo ano .
Obrigado por as tuas palavras 🙂
Pisar a bosta de vaca é sinal de sorte 😃😃😃
Rui até estás com sorte. No último abastecimento sentei-me no chão, cheia de tonturas e má disposição e pus a mão numa pedra, para me levantar. A pedra cedeu...era um monte como o teu. A sorte foi já estar seca...e nem cheiro tinha :-)
ResponderEliminarAhhhh e nós os dois de bastões....parecia que íamos subir a Freita. Mas treino é treino e os bastões têm que se tornar a nossa segunda natureza, há que treinar sempre com eles, como diz o Mestre Luís Matos Ferreira...mal eu sabia que iria precisar deles para me arrastar naquelas subidas enormes de....5 metros...e apoiar-me neles, para não cair para o lado.
ResponderEliminarObrigado Rui, esta prova surpreendeu. Para o ano ha mais.
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