Ultra Trail de Sicó 2018 (1ª Parte de 4)
Este ano a organização fez mudanças significativas na prova de 52km em relação aos anos anteriores.
A ideia foi muito simples. Os atletas dos 52km vão fazer
um percurso que coincide com os últimos 52km da prova dos 111km.
Para a organização tem algumas vantagens. Desde logo a marcação do percurso é só uma… os abastecimentos são os mesmos (evita duplicar o pessoal de apoio, duplicar abastecimentos, gerir melhor as quantidades de comida… etc..), o pessoal apoio também só tem que se concentrar com um percurso (bombeiros, médicos, policia… etc..).
Para a organização tem algumas vantagens. Desde logo a marcação do percurso é só uma… os abastecimentos são os mesmos (evita duplicar o pessoal de apoio, duplicar abastecimentos, gerir melhor as quantidades de comida… etc..), o pessoal apoio também só tem que se concentrar com um percurso (bombeiros, médicos, policia… etc..).
Mas isto obriga a algumas alterações profundas na
logística da partida da prova dos 52kms.
A prova deixou de ser circular e isso obriga a que os
atletas tenham que ir para a partida de autocarro.Consequentemente obriga a levantar mais cedo e a ter que ficar a espera que todos os atletas cheguem ao ponto de partida a horas.
Por mim, acho positivo, mudarem um pouco o percurso. Já passaram tantos anos desta prova que alguns atletas já conhecem os percursos todos.
No entanto a organização tem que afinar bem o transporte
dos atletas para o ponto de partida.
Nesta primeira edição neste formato, à hora da partida
agendada (9:30) ainda faltava chegar um autocarro com os últimos atletas. Ora o
início da prova atrasou 30minutos. Isto podia ter consequências para atletas
que não levaram frontal e não estariam a contar com um atraso. Mas enfim, nunca
seria bom arriscar não levar o frontal se se estivesse a pensar chegar ao fim
muito perto de começar a escurecer.
Eu cá levava
frontal… sei lá o que podia acontecer e não queria comprometer terminar a prova
por causa de não ter um frontal para terminar uns quantos kms finais.
Quando me
inscrevi para esta prova estava com intenção de faze-la com ganas. Se não
tivesse nenhuma lesão queria por as pernas a bombar e eventualmente fazer menos
de 7horas.
A prova dos
Montes Saloios que fiz duas semanas antes foi um bom teste. Nessa prova fiz
30km em 3h:41.
Mas uma
semana antes de Sicó fiquei engripado, tive febre um dos dias e andei uns dias
sem me alimentar direito. OH diabo!!! Mesmo que melhorasse já não iria ser a
mesma coisa.
Estávamos
inscritos para esta prova, a Sandra Simões, o Teodoro Trindade, o malandro do
Jorge Esteves e eu claro.Na semana anterior, a Sandra Simões também esteve com gripe. Na 5ª feira estava mal, mas na 6ªfeira melhorou um pouco.
Na 6ª feira
combinamos jantar todos juntos em Coimbra… foi uma dica do Teodoro. A Margarida
(Guida) também foi. Que paciência a dela ouvir-nos falar de corridas! E ainda
por cima o Sr. Jorge Esteves “queria comer-lhe o bife”. Mas o empregado do
restaurante atento disse… “o bife não é seu é da Sra.” Hehehehe
O que nos
vale é que a Guida tem um excelente sentido de humor J.Durante o jantar decidi que iria fazer a prova com a Sandra se ela quisesse.
Depois do
jantar ainda fomos até ao palco da partida dos 111km. Tentamos comprar géis,
mas não havia barraquinhas com géis…
Estava uma
bela noite. Fria mas sem vento nenhum. E o DJ tinha a musica a bombar alto. Estava
por lá a malta da organização e talvez umas 50 pessoas ao todo.
No Sábado, eu
e Sandra apanhamos o autocarro as 8:00 e a hora da partida lá estávamos os 4 prontos
para iniciar a prova. Desta vez a Guida não nos acompanhou à partida porque
iria a congresso.
Para mim a
prova já tinha deixado de ser 52km. Agora a minha prova seria acompanhar a
Sandra Simões.Acompanhar a Sandra Simões tinha o seu quê de desafio.
Primeiro,
porque eu sabia que iria ser uma prova muito dura para ela e eu não podia interferir
muito. Uma semana com gripe e sem comer nada de jeito, bota abaixo muitas
energias. E quem está de fora não sabe avaliar nos outros o impacto dessa
quebra.
O desafio
seria conseguir não interferir no ritmo dela nem exagerar na motivação que lhe
pudesse transmitir. Eu não gosto de pressionar ninguém para se superar acima de
limites aceitáveis. Acho que cada um consegue mais ou menos controlar isso. É
preferível que seja a própria a pessoa sentir isso.Então havia aqui uma linha limite entre conseguir e não conseguir. Ela pode confirmar que em nenhum momento, durante 10 horas, eu disse “vamos correr agora” ou “vamos embora do abastecimento” ou “aguenta mais um bocado”.
Ao longo da
prova ia traçando alguns objetivos como limite. Achei que o primeiro seria ela
conseguir chegar a meio da prova. Ao Km 25.
A estratégia
era antecipar sempre o que ia acontecer mais frente e ir falando com ela…. “Agora
é sempre a descer e depois uns kms a direito…”, “a seguir vamos ter que subir
um monte parecido com aquele que fizemos no início…”, “vamos ter um
abastecimento a seguir…”Completamos os 25km e a parte com mais altimetria da prova estava feita. Ufaaa!!
Nos abastecimentos eu via que ela comia pouco, mas esforçava-se. “Não a vou obrigar a comer. Vamos com calma.”
Eu comia que
nem um alarve. Acho que nunca comi tanto em uma prova. E deixem que vos diga
que os abastecimentos estavam fartos. Muita comida mesmo. Acho que em quase
todos os abastecimentos havia sopa. Nos outros havia frango, leitão assado,
esparguete com carne, cerveja…
Que me lembre
da Sandra, ou que a tenha ouvido, foram poucas as vezes, mas de vez em quando soltava
umas frases. “não aguento… devia desistir” “foi uma parvoíce ter vindo”.No último abastecimento, comeu uma sopa a muito custo. Vi a cara dela. Pensei que iria chorar. Estava sentada ao pé de uma outra amiga e disse que ia desistir ali. A outra rapariga disse-lhe que não podia desistir ali a 12km da meta. Olhou para mim e eu abanei a cabeça como que a concordar que estávamos muito perto do fim.
Mas a Sandra
lá decidiu as coisas na cabeça dela e disse que não podíamos ficar ali muito
tempo. E zarpamos. As tantas ficou preocupada com a garganta e colocou um buff
a volta do pescoço.
A partir daí
o que lhe faltava em força tinha em motivação. Na última subida digna desse
nome, estava difícil eu acompanhar a passada dela. Mas não abri a boca. Segui
atrás dela. Passamos toda a gente naquela subida. Eu pensava para mim… “estes
devem estar a achar que estamos armados em parvos a subir a esta velocidade”.
Chegamos ao
cimo dessa subida e… para mim a prova estava feita. Faltavam uns 7kms para
terminar, mas já não havia nenhuma subida. Segundo o mapa seria um percurso a
direito.
Foi ai que me
senti relaxar e senti que tinha conseguido fazer a minha prova.
E a minha
prova afinal não tinha 52kms. Não era medida em metros. Oh!!
Continua....
Continua....
Rui, belo relato. Acompanhar outras pessoas é das situações que dá maior satisfação. Ajudá-los a concluir a prova dá muito prazer. Obrigado pela partilha. Runabraço
ResponderEliminarObrigada! Por reconhecer as fragilidades e pela forma de as superarmos Em provas desta envergadura é fundamental que aconteça dessa forma. �� ❤️
ResponderEliminarObrigado Rui,
ResponderEliminarA partilha do "trilho" é assim. Muitas vezes temos de nos superar para conseguir acompanhar quem precisa de ir mais lento. É bonito.
E no final todos temos de ganhar.
Este ano, em Sicó, ganhamos os 4, mas saiu-nos do pêlo (de outra forma não teria valido a pena).
Abraço
TT