IV Trail Terras do Grande Lago (noturno)
Com a aproximação da Maratona de Lisboa precisava de fazer o
longão grande (mais de 30 kms). Quando trocava impressões com o Teodoro ele
sugeriu que o fizesse no Trail do Terras do Grande Lago, perto de Portel. É
mais fácil fazer uma distância grande integrado num evento, por isso inscrevi-me para os 35kms. É uma prova caracterizada por
ser rolante e maioritariamente por estradões. Este ano o inicio da corrida estava
marcado para as 19 horas. A prova passou de diurna, como foi até ao ano passado, para
nocturna, o que sem dúvida foi um dos motivos que me levou a participar. No
horário diurno, debaixo do sol abrasador do Alentejo, não me atreveria a
ir.
Não acautelei atempadamente a viagem de carro até Portel,
são quase duzentos quilómetros. Mensagem no facebook e dividi a viagem com o Zé Carlos
Melo. Chegamos a Portel às 17:15, fomos levantar os dorsais
e ainda esperamos uma hora pelos corredores que não tinham chegado. A nossa era a
última camioneta que partia para o Alqueva. Entretanto chegaram a Filipa Cabaça
e o Rui Faria e fizeram a viagem connosco. O Zé Carlos é conhecido de
quase todos os que iam no autocarro, naquele e nos outros, e foi trocando conversa antes e durante a viagem.
Eu tinha preparado o equipamento na véspera, porque queria ir à praia
de manhã. Era o último dia de verão e estava um tempo magnífico. O meu equipamento consistia numa mochila
grande com roupa para trocar e o material para o banho, mochila de água e
acessórios (incluindo uma barra e seis gel que voltaram para Lisboa), e finalmente o relógio GPS. Não me lembrei que entre o almoço, que terminou às 14:30, e a corrida às 19:00 tinha que comer. Também não levei um creme hidratante que costumo usar em distancias grandes.
Quando chegámos a Alqueva encontramos os nossos amigos
Gonçalo Melo, Teodoro Trindade, Jorge Esteves, Miguel San Payo e Zé Magalhães. Estavam
sentados na esplanada do café a conversar à mais de uma hora, porque tinham ido
no primeiro autocarro. Tive sorte porque foi naquele café onde pude comer uma sanduíche
de presunto e beber uma coca-cola. Quem precisou ainda pode ir à casa de banho da
junta de freguesia.
Depois do breifing, que não consegui ouvir, foi dada a
partida. Não sei se foi exactamente às 19:00 mas foi pontual. Começamos a prova a descer com os corredores gradualmente a agruparem-se pelos seus ritmos ou amizades.
O grupo onde me integrei era
constituído pela maior parte dos Run 4 Fun. Apenas o Carlos Melo se destacou
logo e foi mais rápido e a Filipa e o Rui vieram num ritmo mais calmo. Como não tinhamos nada para fazer, para alem de correr fomos definido objectivos motivadores. O primeiro foi quando iriamos apanhar o Carlos Melo. As
sugestões variaram entre o quilómetro 27 e o 35. Eu apostei que o apanhávamos
no quilómetro 35, e acertei.
Antes (esq.) e depois (dir.) de passar por água |
O primeiro abastecimento era apenas água. Foi o único simples,
os seguintes tinham bebidas isotónicas, coca-cola, fruta fresca (laranja, banana e maçã), sal, frutos secos,
batatas fritas e bolachas, o que permitia um verdadeiro banquete. Na partida do primeiro abastecimento, o Miguel
deu a indicação a uma senhora para seguir por um trilho ao lado do estradão,
por onde tinham seguido os corredores anteriores. Verificamos que era um erro, sem
importância porque os caminhos se juntaram cem metros à frente. O Miguel pediu
desculpa à atleta assim que passou por ela. Passou a ser uma referência para
nós, acabar a prova antes desta atleta, o que conseguimos. Objectivo motivador dois!
Pouco depois encontramos dois atletas que seguiam à nossa
frente, mas que pareciam estar ao nosso alcance, mas com estes cruzamo-nos várias
vezes. O atleta estava em pior forma que a rapariga, e esta teve que parar e
esperar por ele, altura em que nós aproveitamos e ultrapassamos. Objectivo motivador três.
Nesta fase íamos a conversar, e até deu para o Miguel atender um telefonema do trabalho e fazer uma conference call enquanto corriamos. Aproveitamos todas as zonas mais baixas do percurso, onde corria uma aragem fresca muito agradável, quase que voamos nesses momentos.
Nesta fase íamos a conversar, e até deu para o Miguel atender um telefonema do trabalho e fazer uma conference call enquanto corriamos. Aproveitamos todas as zonas mais baixas do percurso, onde corria uma aragem fresca muito agradável, quase que voamos nesses momentos.
Um pouco mais à frente, já de noite, encontramos a grande
atleta Analice. Depois da saudação, que retribuiu com um grande sorriso,
continuou com o passo certo e regular que a caracteriza em qualquer terreno. É um exemplo para todos nós.
Campeã Caludia |
Para mim esta foi a fase melhor da prova. Estava fresco, e
ia com os meus amigos a conversar, só diziamos parvoices e o ambiente estava animado. Os quilómetros foram-se sucedendo, e o sobe
e desce aumentando. Andávamos a subir e corríamos o resto. No abastecimento do quilómetro
25 comecei a sentir o cansaço, já não estava com o mesmo ritmo. O Miguel estava
a ficar impaciente e começou a fazer menos pausas, eu fui-me tentando colar ao
Gonçalo e ao Teodoro, mas só ia conseguir acompanha-los até ao quilometro 28,
depois fiquei por minha conta… gradualmente, que estas provas não são de
velocidade.
Pouco antes de ficar sozinho apanhei um atleta que tinha o
dorsal na mochila de água, era o 56. Já nos tinhamos cruzado antes. Nessa altura disse-me em tom irónico “não
sei se devemos seguir estes refletores à direita” eu olhei e vi uma infinidade
de “refletores”, organizados de uma forma caótica, quando observei melhor
percebi que eram os olhos das cabras que atentamente nos seguiam, foi engraçado.
No último abastecimento, no quilómetro 30, andava uma
ambulância à procura de um atleta e estavam a ver se percebiam onde é que
estava, sabiam que estava acompanhado, mas eu não sabia nem vi nada e por isso
também não disse nada. Vinhamos de uma descida comprida num estradão cheio de pó. Era tão fofo que era dificil correr por cima. Enquanto bebia chegou o Jorge Esteves e o “56”. Já tinha sentido a sua aproximação quando
me aproximava deste último abastecimento.Também já tinha visto as luzes atrás. Não sabia quem era, mas
a aproximação foi uma motivação para andar mais depressa. Ainda arranquei
do abastecimento antes deles, mas já foi num ritmo lento, alternando a
corrida com a marcha. Rapidamente me apanharam. Ainda fomos algum tempo juntos,
talvez até ao quilómetro 32. Já não falávamos muito, mas ainda trocamos umas
palavras sobre as cabras que tínhamos visto atrás.
O lugar à muito merecido pelo Carlos Melo, o pódio. |
Os últimos 2 km de estradão foram piores que os anteriores.
Novamente sozinho e com o casario a começar a ganhar densidade na beira da
estrada. Quando cheguei ao alcatrão, já dentro de Portel, a opção de andar
deixou de estar disponível, mas logo por azar era a subir. Passo a passo lá fui,
primeiro por ruas desertas mas com a aproximação do centro ganhavam pessoas,
não muitas, mas que tiveram sempre uma palavra simpática de incentivo. Quando
me aproximei da igreja sabia que estava a menos de 100 metros da meta. Nessa
altura procurei “vestir” um ar forte e animado, tentando disfarçar o esforço
que vinha a fazer. Na meta estava o Carlos Melo com a máquina fotográfica e os
restantes Run 4 Fun que já tinham chegado aguardavam os colegas de equipa.
O fim parece ser sempre o grande objectivo e um momento de satisfação das provas, mas
desta vez fiquei com tantas dores nas pernas que nem tinha posição para comer a
sopa que nos ofereceram no final. Era uma bela sopa. Com esforço lá consegui comer a
sopa, estava óptima, mas o desgaste e as pernas perturbava-me tanto que resolvi
ir fazer uma massagem.
O meu vizinho estava
desesperado, e é por isso que estou a rir, é da desgraça alheia.
|
As massagens eram dadas no interior do pavilhão. Quando lá
cheguei estava um conjunto de pessoas à espera. Felizmente só quatro estavam à
espera na minha frente. Como havia dois massagistas, pensei que valia a pena
esperar e deitei-me ao lado do atleta que me antecedia e que depois fiquei a
saber se chama Jorge Gois. Fomos trocando conversa parva de corredores enquanto avaliavamos os massagistas e os atletas nas
massagens. Um dos atletas gritava com um ar aflito, mas não consegui perceber se era
verdade ou se era “fita”. Quando chegou a minha vez lá me deitei na marquesa. O
Jorge já estava na marquesa ao lado, e não estava com um ar nada feliz. Fui
avisando a massagista que não era amigo do atleta anterior, como quem pede
clemência antes da execução do castigo. A massagem foi dura, mas não tenho nada
de que me queixar, ainda me ri das caras do Jorge enquanto lhe torciam e
apertavam as pernas. Foi doloroso mas foi mesmo divertido. A verdade é que
quando saí de lá já não tinha as dores insuportáveis com que lá entrei. Recebi uma massagem de luxo, porque além da boa qualidade e simpatia dos massagistas assisti durante
a minha massagem à entrega dos prémios. O Carlos Melo recebeu o prémio de 2º
lugar feminino no Trail de 25km, ganho pela Cláudia Pragana (que já tinha
seguido viagem) e o seu prémio de 3º lugar no escalão M50.
- 2º lugar Feminino prova 25 kms
(Claudia Pargana); - 3º lugar Escalão M50 prova 35
kms (JC Melo); - 3º lugar coletivo Equipas
Masculinas (pontuação de: JC Melo, Miguel San-Payo, Gonçalo Fontes de Melo,
Teodoro Trindade).
No final ainda participei no picnic preparado pelos outros
atletas Run 4 Fun. Depois de um simpático café, saímos de Portel rumo a casa
pela uma hora da manhã. Para minha surpresa o Carlos Melo no dia seguinte às 9
tinha que estar na Ericeira a correr outra prova de 30 quilómetros, a mostrar a
fibra do grande atleta que é.
Alfredo,
ResponderEliminarBelo relato de uma prova peloes vistos, agradável (tirando as dores nas pernas), noturna para evitar o calor.
Grande desempenho dos nossos companheiros que estão todos de parabéns.
E fizeste uma excelente preparação para a Maratona.
Runabraço
Excelente relato desta prova Alfredo.
ResponderEliminarFUNtástico desempenho de todos os RUN4FUN presentes em Portel.
A vontade de iniciar os trails com estes SENHORES é cada vez maior :)))))
Runabraço
Grandes máquinas, grande espírito. Parabéns a todos, e venha a maratona!
ResponderEliminarAlfredo,
ResponderEliminarMuito completo este relato e permite conhecer exactamente o que espera quem fizer este trail.
Embora a distância não seja muito grande a verdade é que a prova se desenrola praticamente sempre a subir e para a maior parte dos atletas que faz férias no verão, torna-se algo desgastante.
É sem dúvida uma boa preparação para a maratona.
Obrigado Alfredo e restantes R4F pela companhia nas terras do grande lago!
Runabraços
Fiz correções significativas no texto, quer na escrita quer em algumas ideias que precisavam de afinações. Obrigado pelos comentários sobre o texto, eu gostei mesmo da prova.
ResponderEliminarUma bela narrativa da prova na planície alentejana e das peripécias vividas com os restantes companheiros.
ResponderEliminarFi-la a 1ª vez no ano passado durante o dia, num dia não particularmente quente. Nesse dia até choveu (e bem numa parte do percurso), a chuva veio mesmo a calhar para refrescar. Mas é mais frequente nesta altura a manhã ser quente, o que torna este percurso diurno numa prova desconfortável. Este ano esta prova foi noturna. Gostei mais porque, por um lado, vê-se um belo fim de dia e pôr do sol, com o céu a passar por muitas cores, até se tornar escuro. Por outro, porque quanto mais a prova evolui mais fresco está. E ainda porque eu agora ando numa de gostar de correr de noite.
O Mundo da Corrida perdeu muita gente ao mudar a prova para o fim de dia. No entanto eu prefiro esta prova noturna, embora sugira iniciar um pouco mais cedo, para apreciarmos melhor as margens do Lago Alqueva. Excelente organização e abastecimentos, como o Mundo da Corrida nos habituou.
RunAbraço.
Obrigado pelo relato Alfredo, não podia estar melhor. Gosto em particular da forma detalhada como descreves as situações.
ResponderEliminarEu também gostei muito desta variante nocturna. Embora seja "fora de mão", julgo que valeu bem a pena lá ir. Sobretudo pela excelente companhia, quer na viagem (obrigado Jorge), quer durante a prova quer no "piquenique" (hehehe).
Abraços
TT