Ronda 101km: Puerra, que prueba!!
A ideia de ultrapassar a mítica barreira dos 100km surgiu
por ter feito 50 anos e necessitar de um marco. Aproveitei a participação dos
excepcionais Carlos Melo (a lebre), Teodoro Trindade (o trepador), Jorge
Esteves (o comedor) e Nuno Tempera (o benfiquista) e consegui inscrição através
de uma “cunha” via Figueira da Foz e Madrid.
No início da prova, estávamos todos cautelosos com o muito
calor (+25ºC) e com a distância (não se consegue treinar). A minha maior
distância tinha sido de 52km percorridos em 7h57mn no Trail de Sesimbra e por
isso preparei a minha mente para 18h de prova.
Logo após o arranque, o Carlos Melo (a lebre) desapareceu e
ficámos os restantes 4 RUN 4 FUN. No entanto, a alegria constante habitual do
Nuno Tempera (o benfiquista) não estava presente. Quem já correu provas com
ele, está habituado a ouvir hinos ao SLB e “bocas” permanentes. Mas neste dia
estava algo apagado e foi a primeiro a sentir a dureza da prova. Ao km 25 (3h20mn)
já tinha uma bolha no pé (apesar das sapatilhas serem as habituais) e de vez em
quando atrasava-se para depois voltar a recuperar. Entretanto corria connosco
um atleta que sempre que bebia líquidos, dava um arroto.
A estratégia para esta prova foi simples: caminhar em todas
as subidas e parar em todos os postos de abastecimento. Estes são bastante
frequentes e dispõem sempre de água, isotónica e fruta. Eu levei um Camel-Bag e
enchi-o várias vezes durante a prova para nunca me sentir desidratado. Nesta
altura e a conselho do Jorge Esteves (o comedor), comi uma sandes de presunto
“Pata Negra” que tinha sido preparada no Hotel. E como sempre, estava presente o atleta que sempre que bebia líquidos, dava
um arroto.
A prova foi decorrendo normalmente até que pouco antes do
primeiro grande reabastecimento, o Nuno Tempera (o benfiquista) percebeu porque
é que é mesmo do SLB: urinou vermelho. Nesta altura convenceu-se que algo não
estava bem e aproveitou um ponto de abastecimento para se dirigir ao posto
médico que o aconselhou a desistir. Tenho a certeza que em 2014, o Nuno e a
Joana Peralta estarão a correr esta prova. Neste mesmo ponto o Jorge Esteves (o
comedor) aproveitou a urbanidade do local e fez aquilo por que ansiava há
muito: dar uma cagada e beber uma imperial. Entretanto continuava connosco um
atleta que sempre que bebia líquidos, dava um arroto.
Chegados finalmente a Setenil (km 56 e 8h31mn), fomos
recebidos pelos nossos acompanhantes e casal Ralha (inexcedíveis no apoio).
Aqui mudam-se as meias, massajam-se os pés com creme, coloca-se o frontal,
come-se e descansa-se. No entanto existem muitas filas e estamos neste
abastecimento durante 45 minutos. O Carlos Melo (a lebre), só demorou 10 min.
Mais uma vez ouvimos o atleta que sempre que bebia líquidos, dava um arroto.
O próximo objectivo era chegar ao Quartel (km 77) onde
haveria comida quente. Até lá ainda vimos dois elementos de uma equipa a
fumarem uma ganza enquanto corriam (provavelmente para acalmar os “nierbos”). O
que também víamos constantemente era atletas com cãibras e pés cheios de
bolhas. Ao Jorge Esteves (o comedor) só lhe doía o peito do pé desde o km 10
mas que não lhe tirava o apetite.
Chegados ao Quartel (km 77 e 12h27mn) quem é que nós
encontrámos: o atleta que sempre que bebia líquidos, dava um arroto. Aqui
levantámos a última mochila que incluía umas sapatilhas, t-shirt, meias, calções,
lycra manga comprida, corta-vento, luvas e pilhas. Só mudei as meias e vesti a
lycra por baixo da t-shirt Run 4 Fun. Acrescentei também uns pensos ao que já
tinha no pé esquerdo desde o km 67 e preparei-me para uma dor permanente até ao
fim. Nesta zona de descanso estivemos 1h15mn pois o Jorge Esteves (o comedor)
comeu tudo o que havia e ainda ficou a olhar para o meu prato a ver se podia
picar. O Teodoro Trindade (o trepador) comeu tão depressa que teve uma quebra
de tensão temporária. Mas rapidamente recuperou e comeu o iogurte que me
pertencia (estes 2 colegas são danados para comer).
A partir daqui sabíamos que só faltava uma Meia-maratona. E
acreditem que tínhamos de ultrapassar uma subida com mais de 2 km e 13% de
declive que nos ajudava a aquecer a seguir ao repouso. A partir daqui, onde
muita gente desiste, o objectivo estava praticamente alcançado. Só que
devagarinho se faz o caminho. E lá fomos correndo (pouco) e andando (muito). E
aqui tenho de fazer uma confissão: um dos nossos atletas foi controlado em
permanência pela mulher que telefonava hora-a-hora com a seguinte pergunta:
onde estás e a que horas chegas? E ele lá fazia uma previsão da hora de
chegada. Os espanhóis que nos acompanhavam só diziam “ Puerra, que control dos
cónhos, puta madre”. Ao mesmo tempo este controlo era confortável pois sabíamos
que estariam à nossa espera na chegada.
Por fim, lá avistámos Ronda e a sua última subida com 1,5km.
No fim desta e antes da meta, lá estavam as nossas companheiras de viagem
cheias de alegria assim com o casal Ralha prontos para correrem connosco o
quilómetro final na principal rua de Ronda. E acreditem que é lindo correr
àquela hora da madrugada sabendo que o objectivo a que nos tínhamos proposta
estava alcançado: passar a mítica barreira dos 3 dígitos. E quem cortou também
a meta? O atleta que sempre que bebia líquidos, dava um arroto.
Miguel,
ResponderEliminarGrande relato! Fartei-me de rir enquanto o lia. Está um pouco exagerado porque nem eu comi tanto (sobrou o pão) nem o atleta arrotador fez tantas pausas!
Foi uma jornada inesquecível e estou pronto para lá voltar, Vamos a isso?
É obrigatório referir o apoio que nós recebemos:
- o João e a Luísa foram extraordinários (uma vez mais),
- o Nuno que apesar do azar lhe ter batido à porta esteve presente no final e não foi descansar enquanto não chegámos, acompanhado da Joana,
- a Guida, a Luísa e a Elsa que nos acompanharam e estiveram lá.
Para mim foi isto que mais me marcou e é talvez o melhor dos Run 4 Fun: a solidariedade, a amizade e o apoio constante. A "nossa" prova foi vivida intensamente por todos, e inclusive alguns que de Lisboa nos faziam chegar o seu apoio. Obrigado a todos!
Fantástico relato, já deu para dar umas valentes gargalhadas :)))) Infelizmente o Nuno saiu um 'pouco' mais cedo :( mas acredito que para o ano lá estará para ultrapassar este 'pequeno' obstáculo. Esta será certamente uma prova que irei fazer num futuro :)
ResponderEliminarMuitos parabéns pela bravura de todos os R4F e respectivos acompanhantes, que acredito tornaram esta aventura um pouco melhor :)
Miguel,
ResponderEliminarDá para perceber quem é o "arrotador", mas parece que houve também um "falador" que, pelos vistos, não se calou durante os 100 km e que continuou sempre a falar no último km, onde tive o grande prazer de vos acompanhar, no final dessa vossa grande "conquista".
Não há dúvidas que o vosso exemplo já inspirou outros companheiro(a)s a também se lançaram nessa aventura nos próximos anos.
Tal como contam até não parece assim tão, tão difícil, mas na verdade deve ser um "empeno" monumental. Certo que vocês os quatro, estavam muito bem no final do Domingo , comparativamente a outros que vimos em Ronda, todos "empenados", com "andares novos".
Contudo, a vossa experiência em termos de planeamento, preparação e consumação da "conquista" certamente que estará disponível para os nossos bravos companheir(a)os que quiserem arriscar fazer tão monumental prova, num ambiente fantástico e com paisagens extraordinárias.
Parabéns a todos pela vossa coragem e determinação.
Runabraços
Grande Miguel,
ResponderEliminarNão podia começar de outra maneira, És um Triplista!!!
Muito orgulho e admiração por Todos... Grande equipa!
Parabéns a Todos e aos incansáveis apoiantes, foi um memorável dia.
Obrigado pela partilha.
Grande relato Miguel.
ResponderEliminarParabéns aos bravos e acompanhantes.
Isso é só para campeões. Quando for grande também quero fazer uma coisa dessas...
Obrigado pela partilha. Pelos vistos a prova foi um fartote do principio ao fim ...
AC
Excelente relato. Miguel tens de voltar mais vezes aos comentários. Fartei-me de rir. As melhoras para o Nuno Tempera.
ResponderEliminar:-))
ResponderEliminarParabéns e <3 a todos!
Também me fartei de rir, relato muito bem escrito, depois de ouvir vários relatos quero estar presente para o Ano, se hover vagas...Parabéns a todos...
ResponderEliminarOh Miguel, que relato!!! Extraordinário!! Fartei-me de rir!! (e tu também, certamente, a escrevê-lo!!) Tens que nos brindar mais vezes com a tua escrita! E Parabéns pela prova! Que bom o sentimento de companheirismo e solidariedade que se vive no nosso grupo e tu, mais uma vez, o evidenciaste!!
ResponderEliminarCaro amigo aerófago,
ResponderEliminarA minha vénia pela inspirada redacção a qual só pode ser superada pela experienciação das situações no local.
Penso que todos nós vivemos intensamente estes momentos e foram de tal forma importantes para mim que trocá-los-ia por muito poucas coisas. Os meus agradecimentos a todos os fantásticos supporters (João e Luisa, Joana, Luisa, Elsa e Guida). Sem a vossa participação e extraordinário envolvimento nada teria sido igual.
Obrigado Miguel.
101 Abraços.
Tens que nos presentear com mais relatos Miguel, gostei e diverti-me muito com a leitura.
ResponderEliminarMuito obrigado pela partilha.
Mais um relato desta grande aventura.
Uma vez mais parabéns a todos.
RunaBraços