Grande Trail Serra d'Arga
O Carlos Sá refere volta e meia que anda à procura dos seus limites, e com a prova de Serra d’Arga consegue que quem nela participa experimente os seus. Não importa se corremos na primeira ou na segunda metade do pelotão, enfrentar aquele traçado é um exercício de humildade, de comunhão com a natureza e de superação. Nada que não estivesse à espera na minha estreia na distância mágica da maratona, mas passar por elas não é o mesmo que as imaginar. Por isso decidi desde muito cedo avançar com cautela e ter sempre presente o objectivo de terminar sem (demasiado) sofrimento. Bom, terminar terminei :).
No sábado foram-se juntando no hotel onde decorriam as jornadas técnicas muitos Run4Fun, e ainda conseguimos acompanhar algumas das apresentações. Dorsais levantados e avançámos para uma das actividades mais queridas do grupo - a jantarada. De uma reserva inicial de 8 pessoas acabámos com 22 sentadas à mesa, tudo em ambiente de grande animação e com boa comida a acompanhar. Como o dia da prova começava cedo para alguns, a recolha a hotéis pensões e gimnodesportivos teve lugar cedo.
O local de partida e chegada da maratona, onde também decorreu o almoço e onde estavam os balneários, era em Dem. E pareceu-me tudo muito bem organizado. Parece fácil mas não deve ser, montar a logística de +1000 pessoas num local tão remoto. E mesmo ao longo da prova nunca faltou apoio da organização nem abastecimentos impecáveis, em zonas de acesso dificílimo. Mais uma entre as muitas razões para felicitar a organização.
A prova em si posso dividi-la em duas partes, ou em duas meias maratonas. A primeira foi uma repetição da prova do ano passado, mas as semelhanças acabam aqui. O que São Pedro negou na primeira edição (temporal medonho que obrigou a cancelar a maratona a meio) deu de sobra na segunda. E ainda bem. Por incrível que pareça lembrava-me de quase todo o percurso, só que este ano tive condições para aproveitar a magia da serra. É possível beber água revigorante em muitos locais, que me soube muito bem. É uma meia maratona exigente, mas que fiz a um ritmo bom (3h), tentando correr sempre em plano e nas descidas e sempre que as subidas o permitissem, em passada curta. Em muitos locais isso não foi possível, como por exemplo na passagem ao longo do rio Âncora onde dei com grande estilo a palhaça da praxe. Nada de grave e sem consequências, mas acabei com água pela cintura. Ou a refrescar o abono de família, como disse o atleta que ria atrás de mim. Sentia-me muito bem e a deixar reservas para a segunda metade, que se anunciava mais difícil. O que se veio a confirmar.
Começou logo com uma subida medonha a pique, como que a dar o mote para o que aí vinha, e depressa percebi que ia ter que reduzir as subidas para caminhada. O que me surpreendeu foi que mesmo assim foi nas subidas que imprimi melhor ritmo, e onde passava mais atletas mesmo só andando. Foi também a altura de começar a fazer contas (asneira a que todos temos dificuldade em resistir não é?) e de tentar acabar nas 7 horas. O que se seguiu de dureza foi terrível, com partes de quase escalada, e com descidas de montanha russa em que tinha que resistir ao entusiasmo e meter um bocadinho o pé no travão. Começava também a sentir desgaste nos pés e pernas, depois de andar muitas vezes dentro e fora de água e lama. Lembro-me de sentir uma alegria do tamanho do mundo na placa dos 42k (maratona!!!), e de achar que já cheirava a meta. Mas era engano. Para manter a tradição do mundo do trail, reservaram para o fim uma “partida” típica destas andanças, que deitou por terra qualquer esperança de terminar dentro das 7 horas. Um elemento da organização alertava para um escarpa horrível de quase 1km (!) onde encontrei muito atletas sentados, seguidos de 800m planos mas que planos seriam apenas na cabeça dele (ou então eram as minhas pernas que já estavam com mau feitio). Era o princípio do fim, e que fim. Estávamos no local do primeiro abastecimento, ou seja os quase 3km fortíssimos que tínhamos subido no início e que iam dar ali, tínhamos que fazer a descer. E foi a parte que fiz já sem pernas e quase exclusivamente com a cabeça e o coração. Não consegui gravar o track, porcaria da app desligou-se a meio, mas não me admirava se tivesse subido mais depressa aquilo do que desci. Tive tempo para um ameaço de caimbras (novidade para mim, nunca tinha passado por isso) e para ver passar bastantes atletas, mas no estado em que estava já tanto fazia. Ter o Carlos Sá à espera no fim foi fantástico.
Como em tudo na vida, a aprendizagem é uma constante. Tenho que gerir melhor por exemplo o que vou comendo, testar mais geis e barritas, e se calhar pastilhas de sal. Porque a distância, apesar da dificuldade sentida, acho que a consigo voltar a fazer. Talvez não esta semana, nem na próxima, mas consigo :). Até já está marcada e paga, em Miranda do Corvo. Pelo meio outros desafios surgirão, mas a Serra d’Arga voltarei de certeza.
Não se leva um enxerto destes sem a ajuda de outras pessoas. Tenho que agradecer aos Run4Fun pelo apoio e ânimo permanentes, a pessoas como o José Carlos Santos que me deu conselhos valiosos e ajuda nos treinos, e ao João Guerra por me ter mostrado os trilhos pela primeira vez nesta serra à um ano atrás. E pela saudável loucura e companheirismo :).
Abraço,
Miguel Serradas Duarte.
(Não tenho fotografias, se aparecerem actualizo isto)
No sábado foram-se juntando no hotel onde decorriam as jornadas técnicas muitos Run4Fun, e ainda conseguimos acompanhar algumas das apresentações. Dorsais levantados e avançámos para uma das actividades mais queridas do grupo - a jantarada. De uma reserva inicial de 8 pessoas acabámos com 22 sentadas à mesa, tudo em ambiente de grande animação e com boa comida a acompanhar. Como o dia da prova começava cedo para alguns, a recolha a hotéis pensões e gimnodesportivos teve lugar cedo.
O local de partida e chegada da maratona, onde também decorreu o almoço e onde estavam os balneários, era em Dem. E pareceu-me tudo muito bem organizado. Parece fácil mas não deve ser, montar a logística de +1000 pessoas num local tão remoto. E mesmo ao longo da prova nunca faltou apoio da organização nem abastecimentos impecáveis, em zonas de acesso dificílimo. Mais uma entre as muitas razões para felicitar a organização.
A prova em si posso dividi-la em duas partes, ou em duas meias maratonas. A primeira foi uma repetição da prova do ano passado, mas as semelhanças acabam aqui. O que São Pedro negou na primeira edição (temporal medonho que obrigou a cancelar a maratona a meio) deu de sobra na segunda. E ainda bem. Por incrível que pareça lembrava-me de quase todo o percurso, só que este ano tive condições para aproveitar a magia da serra. É possível beber água revigorante em muitos locais, que me soube muito bem. É uma meia maratona exigente, mas que fiz a um ritmo bom (3h), tentando correr sempre em plano e nas descidas e sempre que as subidas o permitissem, em passada curta. Em muitos locais isso não foi possível, como por exemplo na passagem ao longo do rio Âncora onde dei com grande estilo a palhaça da praxe. Nada de grave e sem consequências, mas acabei com água pela cintura. Ou a refrescar o abono de família, como disse o atleta que ria atrás de mim. Sentia-me muito bem e a deixar reservas para a segunda metade, que se anunciava mais difícil. O que se veio a confirmar.
Começou logo com uma subida medonha a pique, como que a dar o mote para o que aí vinha, e depressa percebi que ia ter que reduzir as subidas para caminhada. O que me surpreendeu foi que mesmo assim foi nas subidas que imprimi melhor ritmo, e onde passava mais atletas mesmo só andando. Foi também a altura de começar a fazer contas (asneira a que todos temos dificuldade em resistir não é?) e de tentar acabar nas 7 horas. O que se seguiu de dureza foi terrível, com partes de quase escalada, e com descidas de montanha russa em que tinha que resistir ao entusiasmo e meter um bocadinho o pé no travão. Começava também a sentir desgaste nos pés e pernas, depois de andar muitas vezes dentro e fora de água e lama. Lembro-me de sentir uma alegria do tamanho do mundo na placa dos 42k (maratona!!!), e de achar que já cheirava a meta. Mas era engano. Para manter a tradição do mundo do trail, reservaram para o fim uma “partida” típica destas andanças, que deitou por terra qualquer esperança de terminar dentro das 7 horas. Um elemento da organização alertava para um escarpa horrível de quase 1km (!) onde encontrei muito atletas sentados, seguidos de 800m planos mas que planos seriam apenas na cabeça dele (ou então eram as minhas pernas que já estavam com mau feitio). Era o princípio do fim, e que fim. Estávamos no local do primeiro abastecimento, ou seja os quase 3km fortíssimos que tínhamos subido no início e que iam dar ali, tínhamos que fazer a descer. E foi a parte que fiz já sem pernas e quase exclusivamente com a cabeça e o coração. Não consegui gravar o track, porcaria da app desligou-se a meio, mas não me admirava se tivesse subido mais depressa aquilo do que desci. Tive tempo para um ameaço de caimbras (novidade para mim, nunca tinha passado por isso) e para ver passar bastantes atletas, mas no estado em que estava já tanto fazia. Ter o Carlos Sá à espera no fim foi fantástico.
Como em tudo na vida, a aprendizagem é uma constante. Tenho que gerir melhor por exemplo o que vou comendo, testar mais geis e barritas, e se calhar pastilhas de sal. Porque a distância, apesar da dificuldade sentida, acho que a consigo voltar a fazer. Talvez não esta semana, nem na próxima, mas consigo :). Até já está marcada e paga, em Miranda do Corvo. Pelo meio outros desafios surgirão, mas a Serra d’Arga voltarei de certeza.
Não se leva um enxerto destes sem a ajuda de outras pessoas. Tenho que agradecer aos Run4Fun pelo apoio e ânimo permanentes, a pessoas como o José Carlos Santos que me deu conselhos valiosos e ajuda nos treinos, e ao João Guerra por me ter mostrado os trilhos pela primeira vez nesta serra à um ano atrás. E pela saudável loucura e companheirismo :).
Abraço,
Miguel Serradas Duarte.
(Não tenho fotografias, se aparecerem actualizo isto)
(actualização: palmei uma fotografia onde apareço, tentem encontrar-me ;), e fica o ambiente espectacular da partida) |
Parabéns Miguel.
ResponderEliminarGrande aventura e seguramente uma grande experiência também.
Obrigado pela partilha e pelo fantástico texto.
Runabraços
Parabéns Miguel,
ResponderEliminarEsta Ultra já está feita.
Que grande estreia e satisfação em terminar.
Para o ano não faltarei e seremos ainda mais laranjas.
Boa recuperação,
NDA
Miguel,
ResponderEliminarprimeiro que tudo, parabéns pela superação de mais um limite.
Apesar de ser um raro e fraco corredor de trails, quer me parecer que fizeste uma excelente prova cujo resultado é de louvar.
Não só superaste as dificuldades da distância e do terreno, mas venceste os teus "fantasmas". E isso não têm preço.
Estou certo que no intervalo das dores musculares, um sorriso tem estado sempre na tua cara...
Um grande abraço e boa recuperação.
AC
Parabéns Miguel pela grande e difícil prova que conseguiste fazer com distinção..
ResponderEliminarCumpriste mais um sonho que tinhas bem definido há um ano, quando te conheci, precisamente no fim do I Trail da Serra d´Arga.
Parabéns, também, pela excelente organização do jantar de Sábado.
E os "Abutres" que se cuidem pois vai lá mais um Run 4 Fun.
Runabraço
Obrigado a todos, tenho realmente um sorriso rasgado na cara e as pernas de pedra, já a pensar nos próximos desafios. A Serra d'Arga passou a ser a minha peregrinação anual, e será um prazer enorme para mim pintar aquilo tudo de laranja. Quanto aos Abutres, já temos 8 run4fun's inscritos e eu sou um deles. Até já paguei!
ResponderEliminarExcelente relato Miguel.
ResponderEliminarA tua descrição é muito realista e simultaneamente animada.
Parabéns pelo teu extraordinário desempenho.
Vou pensar no assunto em 2013.