Uma maratona em condições extremamente difíceis
Quando à um ano decidi
inscrever-me na maratona de Estocolmo nunca me passou pela cabeça que iria encontrar
as condições climatéricas que ocorreram, de acordo com a organização:
Assim que saio do hotel primeiro choque, estava imenso frio para além da chuva, não fazia nenhuma ideia da temperatura que estaria pois não havia nenhum termómetro por perto. Cheguei ao local da partida mais ou menos uma hora e meia antes, tempo mais do que suficiente para me preparar, como chovia muito procurei um sítio abrigado para me proteger da chuva e aguardar a hora da partida. Tudo se começava a complicar, o momento da partida aproximava-se e eu cada vez com mais frio, 45 minutos antes decidi vou entregar a roupa e vou aquecer, vesti por cima de toda a roupa um plástico e estive ½ hora a aquecer, correndo lentamente, fazendo alguns alongamentos e exercícios, nada, continuava cheio de frio.
12.00 horas, partida, saí com cuidado, mas com o objectivo das 3h15’ na cabeça e realmente a passagem aos 10km/15km e meia-maratona estava dentro desse objectivo. Só que a partir dos 18 km tinham começado as dificuldades, estava completamente encharcado, os braços adormeciam (ficava com formigueiro nas mãos) e sentia cada vez mais frio. Os abastecimentos não estavam a correr bem, a água estava muito fria, decidi só tirar copos com bebida isotónica, parecia-me apesar de tudo menos fria, para piorar ainda mais as coisas beber por copos e correr não é muito fácil. Primeira falha da organização, não distribuir bebidas quentes nos abastecimentos, pelo menos nos últimos km’s, numa organização que eu considero que foi impecável, no entanto com muito pouca capacidade de improvisação, montaram os chuveirinhos e bidons para molhar as esponjas durante todo o percurso da prova, quando nunca parou de chover e não pensaram nas bebidas quentes.
June 2 was the coldest day in June in Stockholm for the last 50 years, so it was
not a good day for running a marathon. Wind and rain made the situation even
worse. All those things made the 2012 ASICS Stockholm
Marathon the most demanding race in the 34
years history of the race.
We are most impressed that you and almost 15 000 other runners managed to finish the marathon, concerning these cruel conditions. You and other runners were well prepared for the race, and ran wisely.
Kind regards
Athletic clubs Hässelby SK and Spårvägens FK
We are most impressed that you and almost 15 000 other runners managed to finish the marathon, concerning these cruel conditions. You and other runners were well prepared for the race, and ran wisely.
Kind regards
Athletic clubs Hässelby SK and Spårvägens FK
As
condições climatéricas variam muito nos países escandinavos, como o Nuno
Marques e o Luis Correia me avisavam através do facebook, no entanto por azar no dia da maratona
a variação foi sempre para pior.
Assim,
a organização previa para o dia da prova cerca de 8 ºC e considerava que já
seria uma temperatura muito baixa, fazendo algumas recomendações para o dia da prova, depois tivemos
3-4 ºC, com chuva e vento.
Na
sexta-feira, dia anterior a prova, começaram as minha dúvidas, como deveria
correr a prova, que roupa deveria usar? Como não tinha levado luvas nem gorro,
a primeira acção foi comprar umas luvas e um gorro. Depois, decidi dado o frio
previsto, levar uma camisola de compressão de manga comprida, um casaco sem
mangas e a camisola R4F por cima, para as pernas calças até aos joelhos e meias
de compressão, deixei tudo preparado para o dia seguinte.
Sábado
de manhã, segunda decisão, que se viria a revelar muito importante, levar roupa
para mudar no fim da prova, apesar de me encontrar a apenas uma estação de
metro do local da partida e chegada, mas como estava a chover era melhor ter
roupa seca no fim da prova.
Assim que saio do hotel primeiro choque, estava imenso frio para além da chuva, não fazia nenhuma ideia da temperatura que estaria pois não havia nenhum termómetro por perto. Cheguei ao local da partida mais ou menos uma hora e meia antes, tempo mais do que suficiente para me preparar, como chovia muito procurei um sítio abrigado para me proteger da chuva e aguardar a hora da partida. Tudo se começava a complicar, o momento da partida aproximava-se e eu cada vez com mais frio, 45 minutos antes decidi vou entregar a roupa e vou aquecer, vesti por cima de toda a roupa um plástico e estive ½ hora a aquecer, correndo lentamente, fazendo alguns alongamentos e exercícios, nada, continuava cheio de frio.
12.00 horas, partida, saí com cuidado, mas com o objectivo das 3h15’ na cabeça e realmente a passagem aos 10km/15km e meia-maratona estava dentro desse objectivo. Só que a partir dos 18 km tinham começado as dificuldades, estava completamente encharcado, os braços adormeciam (ficava com formigueiro nas mãos) e sentia cada vez mais frio. Os abastecimentos não estavam a correr bem, a água estava muito fria, decidi só tirar copos com bebida isotónica, parecia-me apesar de tudo menos fria, para piorar ainda mais as coisas beber por copos e correr não é muito fácil. Primeira falha da organização, não distribuir bebidas quentes nos abastecimentos, pelo menos nos últimos km’s, numa organização que eu considero que foi impecável, no entanto com muito pouca capacidade de improvisação, montaram os chuveirinhos e bidons para molhar as esponjas durante todo o percurso da prova, quando nunca parou de chover e não pensaram nas bebidas quentes.
Chegado
à meia-maratona, pensei a minha prova esta feita, nestas condições não consigo
melhor, a partir dali iria gerir a prova e tentar chegar ao fim no melhor
estado possível. Fui movimentando as mão, tentando diminuir o formigueiro, que
creio ter sido provocado pela facto da camisola de mangas compridas e de compressão
ter ficado encharcada o que dificultava a circulação do sangue, ainda pensei
várias vezes em tirar simplesmente a camisola, mas se parasse não conseguiria
voltar a correr, assim continuei. Por volta do Km 31, apercebi-me da gravidade
da situação passávamos pelo centro de Estocolmo junto ao palácio real e lá
estava um termómetro que marcava 4 º C, pensei não pode ser eu não posso estar
a correr com estas condições e aí tudo piorou. Psicologicamente comecei a ficar
com medo, tinha lido que na última maratona de Chicago devido à baixa
temperatura e esforço prolongado tinha havido problemas graves, inclusive uma
pessoa tinha morrido, isso começou a vir-me tudo a cabeça. Entre o km 31 e o km
36/37 foi o pior período da prova tinha de motivar-me e controlar o frio ao
mesmo tempo, não foi nada fácil. Por sorte a organização tinha por
volta do km 36/37 barras energéticas e depois ao km 39/40 umas pastilhas também
energéticas e assim recuperei alguma da motivação e lá cheguei ao km 41, com o
estádio à vista tudo desaparece e aquele ímpeto final vêm ao de cima, só que
desta vez disse não pode ser tenho de acabar com calma, mas à entrada para o
estádio esquecemos tudo, aqueles 300 metros finais naquela pista são
fantásticos.
Terminada
a prova, volta tudo, não me conseguia mexer, tremia por todo o lado, nem o
Garmin consegui parar, pedi desculpa a uma das raparigas que recolhia os chips mas
eu não conseguia desapertar os atacadores se ela me podia ajudar, muita
simpaticamente ela lá me tirou o chip e eu segui o meu caminho.
Com
alguma dificuldade fui buscar o saco, que providencialmente tinha levado, fui
trocar de roupa numa tenda que estava montada com umas pequenas cabines no seu
interior onde existiam uns aquecedores. Só que continuava com muito frio, as
mãos inchadas e com dificuldade em mexer os dedos, lá apareceu um companheiro
de corrida com um café quente na mão, pedi-lhe um golo ele ofereceu-me o café todo, enquanto ia
bebendo agradecia-lhe seguindo para a saída. Segundo ponto negativo da
organização, perguntei a uma das assistentes que por ali estava onde poderia encontrar apoio médico pois estava cheio de frio e com tendência para piorar, ela indicou-me
um local por detrás da zona dos sacos mas eu não encontrei nada, fiquei sem
perceber se existia ou não. Entretanto encontrei a zona dos cafés e fui bebendo
café quente, uns 4 ou 5, fiquei um pouco melhor e decidi dirigir-me para o
metro. Pelo caminho lá estava o stand da minha cerveja preferida “Erdinger”,
fresquinha, mas só de olhar ficava ainda com mais frio, afastei-me logo. Aqui a
organização esteve muito bem, havia de tudo, cachorros quentes, bananas,
cerveja, cafés, etc...teria sido um final fantático, o tempo é que não ajudou.
Não
era mesmo um bom dia para mim, apanhei o metro e na estação de saída enganei-me
tive de voltar para dentro e encontrar a saída correcta, mais 10 minutos ao
frio. Chegado ao hotel lá consegui recuperar algum calor e passado umas duas
horas começava a normalizar.
A
trigéssima-quarta (34º) edição da maratona de Estocolmo ficou definitivamente
na história desta maratona, o número de inscritos bateu o record, 21,266
inscritos de 83 países, foi a maratona corrida com as piores condições
climatéricas de sempre, a anterior tinha decorrido com 7ºC em 1987. Por outro
lado apenas 8 % dos corredores que iniciaram a prova (15,968) não a
completaram, sinal se calhar da providência de alguns, a organização considerou
este um sinal positivo dizendo no seu site: “...a surprisingly low
figure, considering the harsh conditions. Last
year in good running conditions with 15 degrees and coloudy, 4 per cent of the
runners who started did not finish.”
Uma
palavra para a organização desta maratona tudo impecável tirando os dois
aspectos negativos que já apresentei.
Parabéns Carlos Martins pelo feito.
ResponderEliminarSão estas que não se esquecem nunca!
Deve ser um orgulho ter participado numa prova com este cariz..
Grande resultado e enorme determinação...
Boa recuperação e obrigado pela partilha.
RunAbraço,
NDA
Fantástico relato Carlos.
ResponderEliminarEm alguns momentos da leitura "tremi" com o frio :).
Bela e detalhada descrição.
Grande espirito de sacrificio, muita determinação e muita força de vontade...seguramente aliadas a uma muito boa preparação para a prova.
Estes momentos, tornam-se inesqueciveis e são eles que fazem a nossa história.
Muitos parabéns pela conquista, pelo feito e pela coragem...viste o limite de muito perto, o que seguramente e após a recuperação te deve dar um gozo fantástico.
Runabraços
Parabéns Carlos Martins,
ResponderEliminarPela tua extraordinária prova e pelo excelente relato que fazes de uma prova em condições extremamente adversas.
Que diferença para o ano passado, com Sol e uma temperatura agradável para correr.
A entrada no velho estádio olímpico, que faz 100 anos este ano, é uma sensação fantástica.
A tua prova ficará para sempre na tua história. É certamente um grande orgulho teres sido capaz de passar tantas dificuldades.
Forte runabraço
Parabéns!
ResponderEliminarSão estas provas que marcam a vida de um corredor!
Eu já passei pela situação de não conseguir a abrir uma barra energética em prova devido a ter as mãos geladas e quem estava no abastecimento, para satisfazer o meu pedido de ajuda, teve de se socorrer dos dentes!
Parabens Carlos pelo maginfico relato. Estou como o Nuno, ao ler fiquei com frio. E eu que gosto de correr à chuva e com frio (mas não tanto).
ResponderEliminarGrande determinação e coragem para combater as adversidades que apareciam, o que sozinho, ainda consegue ser de maior valor.
Muitos parabéns e obrigado pela partilha Carlos.
ResponderEliminarPor muito bem preparados que estejamos, as condições atmosféricas do dia da corrida podem realmente ser o nosso maior adversário.
Bom (e merecido) descanso.
Excelente resultado Carlos.
ResponderEliminarParabéns
Parabéns,
ResponderEliminaruma Maratona é sempre uma prova especial mas nestas condições fica mais tempo na memória.
Óptimo relato pois a seguir tive de ir beber um café pois estava com frio.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarParabéns ,
ResponderEliminarTodas as maratonas são diferentes mas todas deixam a sua marca. No ano passado estava uma temperatura excelente, este ano foi assim! O mesmo me aconteceu mas ao contrario , 31 graus. O importante é a nossa participação e finalização. Abraço