O meu primeiro Trail

São 6.45, desço para tomar o pequeno almoço, abro a porta devagar para não incomodar quem está a dormir, surpresa, uma azáfama desgraçada ovos, queijo, pão, bananas, papas com ingredientes indecifráveis quase toda a gente a fazer e a tomar a sua refeição, pensei, isto é mesmo importante alimenta-te bem ou então vais sofrer. Não é a minha refeição favorita, mas lá vai um iogurte uma banana e um café.

Será que chega?

Talvez mais uma fatia de bolo e um pouco de ananaz componha mais. Ok agora penso que já chega.

Arrumo as malas no carro, mais uma confirmação de que não me esqueci de nada para a prova, surgem os primeiros pensamentos, agora é que é, estarás preparado?

O que te espera?

Vou no carro na melhor companhia, música para acordar, conversa animada até que o Rui diz:” Pedro, se te começares a sentir maldisposto abranda, não forces e se continuar não há nada a fazer e se for preciso pára”.

Epá, denotei alguma preocupação ( ás vezes o meu lado pessimista ainda surge ), para ele dizer isto se calhar fui otimista, 28 km talvez estejam fora do meu alcance, mas ultimamente tantas coisas eram inalcançáveis e consegui lá chegar, porque não conseguir esta. Vamos em frente.

9h00 - Está quase a começar, o nervoso miudinho está lá ( disfarço o melhor que posso ), olho à minha volta e vejo camisolas laranjas que ou me deram conselhos ou uma palavra de incentivo e me integraram no seu grupo ( e eu muitas vezes não sou fácil de integrar ).

Mas está lá uma camisola laranja especial,  tinha decidido que, se tivesse capacidade física para o fazer, a iria seguir e acompanhar na prova: a minha irmã e madrinha. Para mim não fazia sentido ela estar ali e não partilhar este momento com ela, com um obrigado por ter insistido que nada é impossível.

Começa a prova, as sensações são boas, tento ver as fitas para não me enganar no caminho, conversamos juntamente com a Sara, os atletas vão desaparecendo e vamos ficando só nós e a natureza. Passo pelos primeiros ribeiros com cuidado para não me molhar muito ( percebo rapidamente que é erro de principiante, nos seguintes era passar apenas com a  preocupação de não me magoar ), vou desfrutando cada vez mais a paisagem ( parece que tive sorte pois o trail era bonito ), preocupando-me cada vez menos com a prova. Vão passando os quilómetros, as sensações surpreendentemente continuam boas, bebo géis e biofrutal de acordo com os conselhos que me deram e alimento-me o melhor que posso.

Estamos nos 25 km, as pernas já acusam algum cansaço,  mas suportável,  penso que afinal talvez consiga terminar com sacrificio, mas sem grande sofrimento. Uma descida, talvez agora seja assim até à meta, surpresa, uma súbida difícil ( como ouvi várias vezes durante a prova “isto é trail” ), os músculos das pernas gritavam, os palavrões saíam mas a tarefa tinha que ser feita, seguir a líder era obrigatório.

Aos 27 km já alguns músculos prendiam, vejo o Francisco e a Cristina com um sorriso e palavras de incentivo, começo a perceber como é bom e importante o apoio que recebemos durante a prova.


Final da prova, um sentimento de alívio mas principalmente de alegria ( contida que eu não sou de grandes manifestações  ). Mais um passo importante para perceber que afinal  aquilo que me dizem algumas pessoas  talvez seja verdade, que a imagem que tenho de mim próprio é demasiado negativa e que se quiser posso sonhar um pouco mais alto.

Um obrigado à minha irmã e à Sara Catita pela companhia e apoio durante a prova, um obrigado a todos os que estiveram em Viseu pela simpatia e apoio.

Gostei da Corrida do Sporting, mas isto é um conceito diferente,  está decidido qual o caminho que vou seguir.

A questão que vou colocar a mim próprio  não é se haverá outra prova mas sim quando será a próxima prova.