Cem ultras e sem palavras

 Sim, ainda estou sem palavras suficientemente eloquentes para agradecer o carinho e prova de amizade que senti pela forma como fui recebido ao completar a minha centésima ultra-maratona. A partilha do momento com os amigos que me são mais queridos já seria suficiente, no entanto a receção na meta ultrapassou tudo, foi sublime. Muito obrigado a todos, aos presentes e também aos fisicamente ausentes. Não vou conseguir nomear todos sem risco de falhar alguns. Mas eu estaria a ser injusto se não fizesse o destaque a uma mão cheia deles (os restantes que me perdoem).

 

O Gonçalo Melo é um amigo e companheiro de longa data. Ao seu lado e ao longo de vários anos, abracei esplêndidas aventuras e partilhei infindáveis quilómetros pelos montes. Referindo somente alguns desafios XL: Ultra Trail S. Mamede (100 km), 101 km Peregrinos, Caminhos do Tejo (145 km), Ultra Trail de Sicó (111 km), etc., e poderia listar muitíssimos mais. Mas as nossas mais marcantes recordações são de longe as dos agrestes trilhos na serra da Lousã, no Axtrail ou nos Abutres, um playground onde nunca me canso de voltar. Agora, mais uma vez, na centésima, o Gonçalo fez questão em acompanhar-me o que me deixou muito honrado. Estou-te grato e recordarei para sempre estes momentos. OBRIGADO. 

A Sandra Simões é a “entusiasta”. Sempre de sorriso franco, bem-disposta e pronta a partilhar um bom desafio, mesmo o mais absurdo. Só tenho boas recordações destas partilhas: 24h a Correr (Mem-Martins), Estrelaçor, Ultra Trail de Sicó, Ultra Blue Island, Trail do Bussaco, Ultra Trail Santa Cruz, … A lista é grande, mas não tão grande quanto a minha admiração e reconhecimento pelo que me ofereceu. Foi um enorme prazer comemorar contigo todos os 57 km do percurso e poder cortar a meta ao teu lado. Há coisas que não têm preço. OBRIGADO. 

A Guida é efetivamente quem faz isto acontecer. Sem a sua ajuda tudo ficaria mais difícil e muitas vezes impossível. É muito bom saber que posso contar com ela. A corrida não é o seu desporto de eleição e apesar disso apoia-me espontaneamente e sempre de boa vontade. Sabendo-a no backstage os quilómetros parecem ficar mais curtos, o que ajuda muitíssimo. Portanto, esta centena também é tua e terei todo o gosto em que me ajudes a expandi-la. OBRIGADO. 

Mas há muitos mais agradecimentos que não posso deixar de endereçar. À Cândida Figueiredo pela camaradagem, e pela “pachorra” em aturar as conversas de corridas quando existem assuntos muito mais estimulantes. Também não posso deixar de dar aquele abraço ao Paulo Raposo, ao Rui Faria e ao Luis Afonso. De forma diferente cada um deles teve (e terá) uma contribuição relevante na atual fase da minha vida. O Paulo é determinado e sonhador, o Rui é empreendedor e apaixonado, e o Luis é atento e cerebral. Espero que não me levem a mal por vos adjetivar de forma tão simplista, estas qualidades que vocês possuem fazem-me falta. Fico muito mais rico por poder privar convosco. OBRIGADO.

 

Para chegar à centena de ultra-maratonas a viagem foi “longa”. Desde que experimentei correr em trilhos fiquei fascinado. O contacto com a natureza, a diversidade de pisos, o desnível e os obstáculos tornam tudo mais aliciante, e a ultra-distância acrescenta prazer através da superação física. Corri a minha primeira ultra em 2011 no Ultra Trail Geira Romana na companhia do meu amigo Jorge Esteves, o primeiro e principal responsável por tudo isto (fazes cá falta pá). Depois dessa muitas se seguiram (26 maratonas de estrada e 74 ultra-maratonas em trilhos), das quais destaco as duas dezenas de provas com mais de 100 km.

 

Mas a prova mais importante é sempre a próxima. É a que absorve a nossa melhor atenção. Para mim, desta vez terá um sabor especial terminar o ALUT/2022 pela segunda vez, rodeado de amigos, dedicando o meu esforço à memória do meu pai. Espero que assim seja.

Abraços.