Gamo-A-Ti: Quo Vadis A.C.
Este “jogo” foi a iniciativa mais engraçada que o R4F promoveu nos últimos tempos. Nele, o Rui Faria foi quase tudo, foi o mentor, o executante, o divulgador, o mobilizador, o gestor, e muitas coisas mais. Tudo passou por ele, excepto a parte mais divertida da brincadeira que foi mesmo a de participar. Obrigado pelo teu “sacrifício”.
O conceito do
jogo é muito simples. Criam-se equipas de 5 elementos e durante 3 semanas (de 8
a 28 de Fevereiro) todos os quilómetros por eles percorridos em treinos, e
contabilizados no Strava (www.strava.com), contam para a classificação da
equipa. Ganha a equipa que no final possuir maior número de quilómetros. Mas
tudo se complica porque, em cada um dos 3 sábados (13, 20 e 27 de Fevereiro),
cada equipa pode utilizar os quilómetros corridos num dos treinos semanais de
um elemento da sua equipa para fazer “solidariedade”. Esta solidariedade,
carinhosamente designada por “gamanço”, consiste em retirar a outra equipa um
número de quilómetros igual ao desse treino e entregá-los a uma terceira
equipa. Isto introduz uma componente de imprevisibilidade no jogo que o torna
divertido e muito aliciante pelo estímulo de encontrar comportamentos
estratégicos que vão muito além das prestações atléticas.
A constituição
da equipa “Quo Vadis A.C.” (Quo Vadis Atlético Clube) foi finalizada num ápice,
bastaram três SMS e um par de telefonemas. Queria associar-me a pessoas que
estão distantes usando o pretexto deste desafio para nos aproximar. Do Rogério
Matos, em Cascais, não tinha notícias faz muito tempo. Do Rui Marguilho via somente
no Strava os seus treinos matinais pela Ria Formosa (Faro). Sabia que a Inês
Sepúlveda e o Paulo Machado estavam em Almada e treinavam regularmente, mais
nada. Quando os contactei para sondar a disponibilidade para formarmos uma
equipa, todos disseram logo que sim, não quiseram saber detalhes, e num
instante já estava em funcionamento um grupo de conversa no WhatsApp e um Excel
para registo e controlo dos treinos (nossos e do “inimigo”). O Paulo tem jeito
para isto, a folha de cálculo ficou um mimo. O nome da equipa surgiu de mais um
usual rasgo de inspiração do nosso criativo Rogério.
No total foram
a jogo 9 equipas: “Quo Vadis A.C.”, “Bonnies dos Trilhos”, “Loiça Partida”, “4is
Project”, “iT-A-omaG”, “Robin dos Bosques”, “Pac-Man”, “Songa-Monga” e “Tira-Picos”.
A concorrência era feroz, maratonistas e ultramaratonistas estavam por todo o
lado. Mas isso não nos intimidou, íamos a jogo para ganhar. Queríamos começar
forte, continuar em crescendo e terminar ao sprint, esta era a estratégia. O
Rui corria praticamente todos os dias, assim como a Inês e o Paulo, e ao fim de
semana esticavam as distâncias. O Rogério que esteve parado muito tempo, teria
de recomeçar com cuidado. Foi intervalando os treinos com a recuperação da
forma física. Eu procurei iniciar com treinos curtos e ir aumentando as
distâncias sempre que a disponibilidade o permitia. Percebemos desde o início que
tínhamos de lidar com equipas explosivas, em particular as Bonnies e os Robins
eram capazes de acumular quilómetros sem fim. Iríamos ter muitas dificuldades
em conseguir acompanhá-los. Sabíamo-nos mais limitados, mas não derrotados.
Na primeira
semana demos o nosso melhor amealhando 212 km, e um modesto quarto lugar. O
primeiro sábado de “gamanço” não nos correu bem, levamos um rombo de 38.5 km.
Isto abalou-nos, no entanto, a nossa resposta foi a melhor possível, logo no
dia seguinte (domingo) corremos 112 km, mais de metade do que tínhamos corrido
durante toda a primeira semana. Recuperamos a confiança e voltamos a entrar no
jogo.
A estratégia
para a segunda semana seria a de “fazer de morto”, tentar passar despercebido, mas
fazendo os possíveis para que as equipas “papa-quilómetros” não se afastassem
demasiado. Não conseguimos. No final da segunda semana apesar de ocuparmos o
terceiro lugar com 541 km percorridos, estávamos a 70 km dos Robins e a 226 km
das Bonnies. Uma barbaridade. Fomos salvos pelo gamanço da segunda semana. A
estratégia de ficar na sombra tinha resultado. Lá na frente os “pernilongos” (Bonnies
e Robins) foram selvaticamente assaltados, enquanto nós tivemos a sorte de
recuperar 18 km numa doação. Ressuscitamos de novo, continuávamos em jogo pela
vitória.
O objectivo na
última semana era dar tudo por tudo, acumulando o maior número de quilómetros, depois
tentar sobreviver ao gamanço de sábado e por fim “atacar” no último dia. Foi o
que fizemos, corremos 624 km, quase tanto como nas duas semanas anteriores. No
“gamanço” voltou a haver “sangue” entre os Robins e as Bonnies, o que nos
deixou ilesos. Mas o último dia foi épico. O Rui arrancou cedo para um primeiro
treino de 10 km. Eu tinha combinado com o Rogério encontrarmo-nos em Algés para
um longão seguindo em direcção ao Cais do Sodré para nos juntarmos à Inês e ao
Paulo que vinham de barco desde Almada. À última hora o Rogério não pode
deslocar-se, avançou o plano B, e logo pela manhã ele despachou 23 km até ao
Guincho. Seguindo o plano A, juntei-me à Inês e ao Paulo correndo ao longo do
rio em terreno plano até ao Parque das Nações e retornando por Benfica. Para
mim foi um treino de 43.5 km e para a Inês e para o Paulo foram 51.5 km
(maravilha). Estávamos satisfeitos supondo ser suficiente para garantir a
vitória. Além disso tínhamos o Rui de prevenção, pronto a saltar para a estrada
caso fosse necessário. E foi mesmo necessário, no Strava estavam constantemente
a ser descarregados treinos brutais das outras equipas: 68 km, 65 km, 48 km, 37
km, etc. Ao final da tarde o Rui arrancou para um segundo treino de mais 13.5
km, e também o Rogério para mais 10 km, e também eu para mais 18.5 km, assim
como a Inês e o Paulo para uma caminhada conjunta de 5 km. Além disso o Paulo
ainda foi esticar as pernas em mais 10 km. Demos tudo o que podíamos, corremos nesse dia 242 km (uma brutalidade) fazendo treinos bi- e tri-diários, descarregando-os a
“conta-gotas” para o Strava. A incerteza no resultado foi mantida até ao fim.
Fantástico.
Infelizmente no
final, não conseguimos vencer, ficamos em segundo lugar percorrendo um total de
1277 km em 21 dias, somente a 17.5 km das vencedoras, as Bonnies dos Trilhos. Parabéns,
a vossa vitória foi merecida.
E para
terminar, quero deixar também aqui um enorme agradecimento à Inês, ao Paulo, ao
Rui e ao Rogério pelo envolvimento, esforço e boa disposição colocada nesta
brincadeira que partilhamos ao longo de três semanas. Como tive oportunidade de
vos dizer, senti sempre a vossa companhia em todos os treinos solitários que
realizei. Não vou esquecer tão cedo as nossas reuniões de Zoom aos sábados às
18h, onde decidíamos a jogada de “gamanço”. Nem mesmo as vossas apaixonadas mensagens
no WhatsApp comentando os resultados. Tudo isto foi um estímulo extra que
tornou este desafio muito mais divertido. Obrigado.
Um enorme
abraço,
Teodoro Trindade
Obrigado Teodoro pelo magnífico relato de um “jogo” muito bem imaginado é colocado em prática pelo Rui Faria e equipas excelentes participantes, com muito RUN acompanhado de um belo FUN. Runabraços
ResponderEliminarTeodoro,
ResponderEliminarO relato está simples e maravilhoso.
Sei que expressas todo o sentimento da equipa Quo Vadis A.C..
Estando de fora tive exatamente a percepção do que vocês pretendiam e podiam fazer.
Posso acrescentar ao teu relato que os vossos e-mails enviados para os gamanços e doações foram de excelente qualidade e incentivaram a dar o melhor de mim.
Obrigado Quo Vadis A.C. Inês, Paulo, Rogério, Rui, Teodoro.
Teodoro,
ResponderEliminarO teu relato está fantástico. É para mim muito interessante saber de primeira mão como viveram este jogo. Os gráficos também estão porreiros.
A vossa equipa está toda de parabéns, demonstrou garra e estratégia.
Ave cesar corituri te salutant!
Teodoro, apesar da descrição maravilhosa, permite-me fazer continuar a fazer jus ao grande Rui Faria.
ResponderEliminarEste desafio teve o condão de ter conseguido motivar em tempos de pandemia e de evidente desmotivação para quem gosta de correr em companhia e para quem gosta do gostinho da competição das provas. Isto soube a verdadeira competição saudável, ainda por cima em equipa, o que melhorou o sentimento. Parabéns pela ideia!
Membros da grande equipa "Quo Vadis A.C.":
Realmente foi fácil constituir equipa, como descrito porque é impossível recusar um convite do grande Teodoro. Só depois é preciso ver as regras.
A nossa equipa teve a lucidez de perceber desde cedo o funcionamento do jogo e a necessidade de utilizar a estratégia face a outras equipas com maior capacidade.
Quase que provamos que não é tão simples como "ganha quem correr mais quilómetros". Acabou por ser uma vitória de uma forma mais que meritória, mas o orgulho de dar umas síncopes cardíacas a quem fez o suficiente para "esmagar" a concorrência, é uma vitória das equipas adversárias!
Obrigado a uma equipa maravilhosa que mesmo quando os debates sobre os gamanços de sábado não nos corriam de feição, a opção de todos era rever estratégia e dar a volta por cima. Uma menção especial ao Grande Teodoro que começou a correr meias maratonas diárias e nos fez acreditar pelo exemplo que era possível ganhar e todos nós demos o nosso melhor.
Obrigado Quo Vadis A.C.
Obrigado Run 4 Fun
P.S. No meu dia de estreia a correr com a laranjinha fiz 61KM em 2 treinos! Esta camisola dá power!
a Ines manda beijoca
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminar