Marató dels Cims-Andorra
Autora: Sandra Simões
Data: Julho 2, 2015
Andorra, Marató dels Cims: 42,5 km com 3000 D+.
709 inscrições nesta distância. Com tempos intermédios de passagem ou desqualificação. Subida de um pico com 2800 m.
Montanhas, vales, gelo, flores, rochas, água, cascatas, sol, céu azul e festa, durante 4 dias, com milhares de pessoas em Ordino, a "Vila das Pessoas com Ar Saudável".
Férias com Amigos, natureza e desporto: perfeição.
A prova mais dura que já fiz, pela altimetria, a suuuuubir ... e a deeeeescer a pique. Morta de medo de não conseguir passar os controlos intermédios porque ouvia a Sónia Tubal e o João Valente, cuja capacidade não se compara com a minha, dizerem que iria ser dificílimo cumpri-los, principalmente porque íamos subir 1000 em 3 km, na fase inicial. Correu bem e cheguei ao primeiro controlo, com 01:30 de folga (eles iam bem mais à frente).
A parte mais bonita: um vale com riachos, flores campestres e, ao fundo, montanhas com neve. Sentei-me com as pernas dentro da água gelada do riacho e ingeri e digeri a imagem. A sorrir e a cantarolar o "Abuelito diz-me tu..." https://www.youtube.com/watch?v=JMf_ZOZbqaM (Jazus! Estás tão queimada).
Subida para Ferreroles e Casamanya, com novo abastecimento e o segundo ponto de controlo; nova subida com uma cadeia rochosa com precipício, a pique, onde tive que guardar os bastões e subir agarrada, com pés e mãos às rochas, com a ajuda de cordas, correntes e um ajudante, rapaz, dos giros (com os 3 conceitos separados, sff, já que isto é mais Into the Wild do que as 50 sombras de cordel)... Com vozes discordantes, eu sei, mas não gosto deste perigo associado: qualquer escorregadela pode ter graves consequências (a subida era feita pelo "caminho" à direita daquelas pernas e o abastecimento era aquele pontinho azul).
No fim de nova subida - onde a altitude se sente na maior dificuldade em respirar - está o ponto mais alto da prova, Casanamya, a 2800 m de altitude, com paisagem indescritível. Nova paragem para absorção da vista. Nunca resisto (panorâmica cortada porque tinha um ataque de moscas ao braço).
E, (frase gasta do trail) tudo o que sobe, desce. Só que, a pique. Estava feliz por terem decorrido 25 km sem me esbardalhar. 500 m depois, trufa! Raízes e, Ruben, tirei a conclusão da questão que colocámos algumas vezes: as (minhas) mãos não largam os bastões, não protegem a cara e o nariz bate, de chapa, noutra raiz; isto num trilho a direito e de terra, facílimo. Fiquei com pés enredados nas raízes, inclinada numa rampa, agarrada aos bastões, com dores no nariz, com toda a dignidade no pó, porque tive que ser levantada e "assistida" por 5 (CINCO!) corredores que imediatamente pararam. Nos 500m seguintes caí mais duas vezes. Como a pessoa tem uma vida profissional, da qual até gosta, e não tem direito a baixa médica, teve que se obrigar a andar, até recarregar baterias no abastecimento, sob pena de "Another One Bite in the Dust". Grrrrr custou-me não correr.
Último abastecimento aos 30 km, último controle de tempo, com o limite de 8h:30, onde terminou a pressão de ser barrada (o limite final era de 14h). Comi bastante e arranquei decidida a rolar devagar e gozar a paisagem. O Garmin acabou a pilha e perdi a noção da distância e tempo. Recomecei a correr e desci o último pico para passar a meta com lenço de Portugal ao alto e a laranja vestida.
Amigos à espera, na meta, com sorriso na cara é o Mega Prémio. Descobrir que Amigos nos seguiam online, e que se preocupavam, é outro Mega Prémio. Espanhóis aos gritos, chamando-nos campeóna e sem parar de aplaudir é fantástico, mesmo que sigamos em último lugar da prova. E não fui a última. 10h.03 e 466º lugar em 709, 27ª de 49, no escalão e 76ª de 129, no escalão feminino. Mas mais importante do que isso: participar, com a benesse de acabar, fisicamente bem e com prazer, e a sensação de estar mais rica de imagens, de sensações, de beleza natural e de solidariedade humana, traduzem a classificação que quero. Ao que acresce a superação pessoal, numa prova onde conversei em francês, espanhol, portunhol, inglês com outros participantes desconhecidos, porque a boa loucura não tem fronteiras nem nacionalidades.
Ultra Mega Prémio - todos acabámos bem: o João Mota nos 170 km e com um andar…diferente; o Nelson nos 83 km, onde ainda foi solidário, apoiando uma corredora espanhola com dores de estômago, nos últimos km, a Sónia e João nos 42,50 km; a Sofia e o Miguel no Solidaritrail. Infelizmente, o mentor desta aventura, o Nuno Gião, sofreu entorse na prova dos 112 km e teve que desistir mas esperou por todos nós, na meta, onde esteve das 15h às 21h, de bandeira portuguesa nas mãos. A vingança "es una tapa" que se serve fria...no ano que vem (obrigada pela sugestão da prova e por todo o trabalho na organização da viagem). Mas de todos me lembrava nos momentos mais durinhos. E nos momentos bons! São os MAIORES!
Ambiente antes, durante e após a prova: FIESTA! Gente com ar saudável, desportista a encher as duas ruas de Ordino, a apoiar e a ser apoiado. Disparates e refilices nas viagens e na estadia...reza assim a tradição.
Tive que impingir mais um longo relato a quem tiver pachorra de ler mas não consigo concentrar mais as palavras e não consigo deixar de partilhar as sensações que estas provas nos dão. E cada vez menos gosto menos de estrada.
Amigos da Garça não há Tulicreme! Desta vez, só se for no pão
Data: Julho 2, 2015
Andorra, Marató dels Cims: 42,5 km com 3000 D+.
709 inscrições nesta distância. Com tempos intermédios de passagem ou desqualificação. Subida de um pico com 2800 m.
Montanhas, vales, gelo, flores, rochas, água, cascatas, sol, céu azul e festa, durante 4 dias, com milhares de pessoas em Ordino, a "Vila das Pessoas com Ar Saudável".
Férias com Amigos, natureza e desporto: perfeição.
A prova mais dura que já fiz, pela altimetria, a suuuuubir ... e a deeeeescer a pique. Morta de medo de não conseguir passar os controlos intermédios porque ouvia a Sónia Tubal e o João Valente, cuja capacidade não se compara com a minha, dizerem que iria ser dificílimo cumpri-los, principalmente porque íamos subir 1000 em 3 km, na fase inicial. Correu bem e cheguei ao primeiro controlo, com 01:30 de folga (eles iam bem mais à frente).
A parte mais bonita: um vale com riachos, flores campestres e, ao fundo, montanhas com neve. Sentei-me com as pernas dentro da água gelada do riacho e ingeri e digeri a imagem. A sorrir e a cantarolar o "Abuelito diz-me tu..." https://www.youtube.com/watch?v=JMf_ZOZbqaM (Jazus! Estás tão queimada).
Subida para Ferreroles e Casamanya, com novo abastecimento e o segundo ponto de controlo; nova subida com uma cadeia rochosa com precipício, a pique, onde tive que guardar os bastões e subir agarrada, com pés e mãos às rochas, com a ajuda de cordas, correntes e um ajudante, rapaz, dos giros (com os 3 conceitos separados, sff, já que isto é mais Into the Wild do que as 50 sombras de cordel)... Com vozes discordantes, eu sei, mas não gosto deste perigo associado: qualquer escorregadela pode ter graves consequências (a subida era feita pelo "caminho" à direita daquelas pernas e o abastecimento era aquele pontinho azul).
No fim de nova subida - onde a altitude se sente na maior dificuldade em respirar - está o ponto mais alto da prova, Casanamya, a 2800 m de altitude, com paisagem indescritível. Nova paragem para absorção da vista. Nunca resisto (panorâmica cortada porque tinha um ataque de moscas ao braço).
E, (frase gasta do trail) tudo o que sobe, desce. Só que, a pique. Estava feliz por terem decorrido 25 km sem me esbardalhar. 500 m depois, trufa! Raízes e, Ruben, tirei a conclusão da questão que colocámos algumas vezes: as (minhas) mãos não largam os bastões, não protegem a cara e o nariz bate, de chapa, noutra raiz; isto num trilho a direito e de terra, facílimo. Fiquei com pés enredados nas raízes, inclinada numa rampa, agarrada aos bastões, com dores no nariz, com toda a dignidade no pó, porque tive que ser levantada e "assistida" por 5 (CINCO!) corredores que imediatamente pararam. Nos 500m seguintes caí mais duas vezes. Como a pessoa tem uma vida profissional, da qual até gosta, e não tem direito a baixa médica, teve que se obrigar a andar, até recarregar baterias no abastecimento, sob pena de "Another One Bite in the Dust". Grrrrr custou-me não correr.
Último abastecimento aos 30 km, último controle de tempo, com o limite de 8h:30, onde terminou a pressão de ser barrada (o limite final era de 14h). Comi bastante e arranquei decidida a rolar devagar e gozar a paisagem. O Garmin acabou a pilha e perdi a noção da distância e tempo. Recomecei a correr e desci o último pico para passar a meta com lenço de Portugal ao alto e a laranja vestida.
Amigos à espera, na meta, com sorriso na cara é o Mega Prémio. Descobrir que Amigos nos seguiam online, e que se preocupavam, é outro Mega Prémio. Espanhóis aos gritos, chamando-nos campeóna e sem parar de aplaudir é fantástico, mesmo que sigamos em último lugar da prova. E não fui a última. 10h.03 e 466º lugar em 709, 27ª de 49, no escalão e 76ª de 129, no escalão feminino. Mas mais importante do que isso: participar, com a benesse de acabar, fisicamente bem e com prazer, e a sensação de estar mais rica de imagens, de sensações, de beleza natural e de solidariedade humana, traduzem a classificação que quero. Ao que acresce a superação pessoal, numa prova onde conversei em francês, espanhol, portunhol, inglês com outros participantes desconhecidos, porque a boa loucura não tem fronteiras nem nacionalidades.
Ultra Mega Prémio - todos acabámos bem: o João Mota nos 170 km e com um andar…diferente; o Nelson nos 83 km, onde ainda foi solidário, apoiando uma corredora espanhola com dores de estômago, nos últimos km, a Sónia e João nos 42,50 km; a Sofia e o Miguel no Solidaritrail. Infelizmente, o mentor desta aventura, o Nuno Gião, sofreu entorse na prova dos 112 km e teve que desistir mas esperou por todos nós, na meta, onde esteve das 15h às 21h, de bandeira portuguesa nas mãos. A vingança "es una tapa" que se serve fria...no ano que vem (obrigada pela sugestão da prova e por todo o trabalho na organização da viagem). Mas de todos me lembrava nos momentos mais durinhos. E nos momentos bons! São os MAIORES!
Ambiente antes, durante e após a prova: FIESTA! Gente com ar saudável, desportista a encher as duas ruas de Ordino, a apoiar e a ser apoiado. Disparates e refilices nas viagens e na estadia...reza assim a tradição.
Tive que impingir mais um longo relato a quem tiver pachorra de ler mas não consigo concentrar mais as palavras e não consigo deixar de partilhar as sensações que estas provas nos dão. E cada vez menos gosto menos de estrada.
Amigos da Garça não há Tulicreme! Desta vez, só se for no pão
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