Um dia nas Corridas UTSM 2017

Um dia nas corridas.
Começou com a partida, da prova dos 100 km a Ultra Maratona da Serra de S. Mamede, no Estádio dos Assentos em Portalegre às 0:00 horas de sábado, dia 20 de maio. Doze extraordinários atletas R4F que decidiram participar naquela que se revelaria umas das mais difíceis provas de 100 km já realizadas em Portugal: Manuela Machado, Sandra Simões, Alfredo Falcão, Gonçalo Melo, Jorge Esteves, Paulo Raposo, Pedro Ribeiro, Nuno Almeida, Orlando Ferreira, Rúben Costa, Rui Faria e Teodoro Trindade. Duas mulheres e dez homens, de grande valor.
Havia uma espécie de “equipa de apoio” constituída pela Guida Trindade, a Luisinha e aqui o “relatador”. Esperamos por eles em Marvão, ao km 63, onde chegámos por volta das 10:30, depois da passagem por uma lindíssima estrada municipal que liga Portalegre a Marvão, lá no cimo de um incrível afloramento rochoso.
Começámos então a perceber a dificuldade da prova, através de informações do nosso amigo João Albuquerque, um médico que é simultaneamente um extraordinário atleta e membro da organização da corrida e que foi inexcedível no apoio que deu aos nossos companheiros. Disse-nos o João que esta era a versão mais difícil da UTSM, exemplificada pelo facto de que o primeiro atleta a chegar a Marvão este ano, ter demorado mais do que uma hora do que o primeiro atleta que chegado a Marvão na edição anterior de 2016.
E lá foram chegando os nossos bravos companheiros. O Pedro Ribeiro, muito calmo, tranquilo, que se demorou em Marvão mais de 45 minutos para descansar e recompor as forças. A seguir o veterano Paulo Raposo na sua terceira participação na UTSM 100 a dizer que este ano a prova era muito mais difícil, diferente, para muito pior, em dificuldade daquela em que se tinha inscrito em Dezembro passado. Depois, a dupla dinâmica, o Nuno Almeida e o Rui Faria que já tinham tomado banho num rio e passaram a fazer o mesmo em diversos tanques que foram encontrando pelo caminho. Só para atestar a dureza adicional provocada pelas altas temperaturas que se fizeram sentir, com uma máxima de 29 graus. Quando saímos de Portalegre às 10:00 horas já estavam 20 graus, com o Sol a brilhar. Para além disso quer o Nuno, quer o Rui tinham alguns problemas nos pés tendo sido tratados pela equipa clínica de apoio à prova, muito competente, me pareceu.
Depois chegou a Sandra Simões, apoiada pelo Francisco, um “nuestro hermano” de Huelva que inclusive trazia a mochila da Sandra que estava muito cansada, pálida, mal disposta e com vontade de terminar ali a sua prova, o que fez. Mais uma constatação do enorme nível de solidariedade que existe nas provas de trilhos. O Rúben foi o seguinte, também muito cansado e a dizer que faria apenas mais 10 km e depois pararia. Finalmente o Orlando Ferreira, o Gonçalo Melo e o Teodoro, separados por alguns minutos todos muito cansados e tendo o Teodoro vários problemas nos pés, tendo também sido tratado pela equipa clínica de apoio. Soubemos mais tarde que o Alfredo, a Manuela e o Jorge Esteves tinham desistido por razões diversas, mas todos depois dos 50 km, de longe a parte mais difícil da prova.
E aqui uma referência para os que não chegaram ao fim. A difícil decisão de parar, para quem treinou intensamente, durante meses, para completar uma prova tão exigente é muito difícil e penalizadora, mas é sempre uma decisão inteligente para não colocar em causa a sua integridade física, pois haverá mais oportunidades no futuro e no fim de contas, nós corremos para nos divertirmos.
Na saída de Marvão o Pedro e o Paulo foram juntos, tal como o Nuno e o Rui, o Rúben seguiu sozinho e o Gonçalo, o Orlando e o Teodoro decidiram continuar em equipa. Daqui mais uma prova de que as ultras são, muitas vezes, provas de equipa onde onde uns se ajudam aos outros para ultrapassar as enormes dificuldades que uma prova de 100 km, tão difícil, coloca.
Dizia o Orlando, em Castelo de Vide, quando descansava, que tinham encontrado o Rúben antes e tentaram os três convence-lo a não parar, que ele iria concluir a prova se fosse com eles. E dizia também que ao dizerem isto ao Rúben estavam a pensar que queriam fazer como ele e parar ali o enorme sofrimento por que passavam. Mas parar, não era opção para eles.
Depois de Marvão a nossa paragem seguinte foi em Castelo de Vide, por onde já tinham entretanto passado o Pedro e o Paulo. Lá chegaram o Nuno e o Rui, depois de mais um banho num tanque, já em Castelo de Vide, relativamente “frescos” e bem dispostos. E mais tarde em conjunto, o Gonçalo, muito cansado e incapaz de comer alimentos, O Orlando também extenuado, tal como o Teodoro, com a o problema adicional de ter agravado os seus problemas nos pés, todos ligados e que foram re-ligados pela equipa de bombeiros que estava de serviço.
Estavam de tal modo cansados que se deitaram nos degraus de entrada da porta lateral da Igreja Matriz de Castelo de Vide e lá ficaram uns bons minutos, após o que partiram para mais 22 ou 25 k, conforme as versões, coma mais uma catrefada de subidas e descidas, nos montes circundantes e até Portalegre.
A “equipa de apoio” mais tranquila, foi então almoçar no “Alentejano” que nos foi recomendado por uma comerciante de Castelo de Vide. Magnífico almoço de carne de porco com migas para a Guida e a Luisinha e um extraordinário ensopado de borrego para mim, acompanhados por cerveja artesanal de Castelo de Vide, preta para mim e IPA para a Luisinha, tendo a Guida optado por uma imperial. Sobremesa de uma bela laranja para mim e para a Luisinha e uma vistosa salada de frutas para a Guida. Numa esplanada com uma brisa agradável e uma vista magnífica, nós a saborearmos uma excelente refeição e os nossos companheiros a “sofrerem” por montes e vales já há mais de 15 horas. Isto de ser “equipa de apoio” tem enormes benefícios.
Nova e última etapa, o caminho para Portalegre, 19 km que, de carro, são muito fáceis. E aí chegados de novo no estádio dos Assentos, já com a companhia da Manuela, da Sandra, do Alfredo e do Rúben, tendo o Jorge aparecido depois do almoço. Também o Pedro Machado que tinha concluído com distinção os 25 km e a Paula Carvalho, fresquinha que nem uma alface, pois não acordou a tempo de chegar para fazer a prova dos 25 km. Relógios marotos!!
Algumas “mines” depois, chegou o nosso primeiro atleta, o tranquilo Pedro Ribeiro com 18:30 horas de prova, de tal modo que parecia que só tinha corrido uma prova de 10 km. É claro que depois de concluir, notou-se o enorme cansaço que trazia. Uma hora e meia depois o veterano Paulo Raposo em excelente ritmo a concluir tranquilo e com bom aspeto a sua terceira UTSM 100. Depois das 20 horas apareceram, ao longe, o Rui e o Nuno em grande ritmo de corrida acompanhados por um terceiro atleta. O Rui foi o primeiro a entrar no estádio, mas foi depois, na reta oposta à meta, ultrapassado pelo Nuno e pelo outro atleta que ganhou uns 3 ou 4 metros ao Nuno, já ambos em grande velocidade. Na última curva antes da reta da meta, o Nuno, arrancou que nem um foguete e deixou o terceiro atleta “parado”. Quando passou a meta parecia um comboio de alta velocidade, que o Usain Bolt teria dificuldade em acompanhar. Nem os meninos da Academia Militar que ensaiaram grandes sprintes nas suas chegada, conseguiriam acompanhar o Nuno. Isto depois de 100 km de enorme dificuldade. O Rui Faria chegou à meta mais calmo, a rodopiar, a dançar, demonstrando a sua satisfação plo enorme feito conseguido.
Às 22:30 chegaram os “três magníficos”, Gonçalo, Orlando e Teodoro em bom ritmo, calmos e tranquilos mas extremamente cansados, como o demonstrou o facto de se terem deitado na pista, imediatamente a seguir a terem chegado. O Gonçalo, já no seu estado normal de,pois da fase “zombie” de Castelo de Vide, a pedir uma cerveja, a que o Alfredo e o Jorge imediatamente corresponderam trazendo umas belas imperiais para os nossos magníficos que demoraram em trabalho de equipa, quatro horas mais do que o Pedro Ribeiro. Mais quatro horas de sofrimento, mas com a enorme satisfação como todos os nossos sete “finishers” RUN 4 FUN de terem conseguido um feito só ao alcance de uma pequeníssima minoria de pessoas.



Parabéns a todos os nossos doze extraordináris atletas pelo exemplo de perseverança, capacidade de sofrimento, classe e alegria que carateriza o ser “RUN 4 FUN”






Comentários

  1. João Ralha, Luisa Ralha, Margarida (Guida), mais uma vez obrigado pelo vosso extraordinário apoio nesta aventura inesquecível.

    E como sempre um excelente e emocionante relato.

    Obrigado também a todos os companheiros RUN 4 FUN que participaram na parte da corrida, porque a prova começou meses antes deste dia, e também aos RUN 4 FUN que nos foram acompanhando pacientemente via Live Track e iam incentivando.

    Somos RUN 4 FUN

    Rui Faria

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  2. Obrigado Rui Faria, tu és hoje o grande "guia" do nosso clube. Parabéns pelas tuas iniciativas e pela tua enorme conquista da UTSM 103,6

    Runabraço

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  3. Esta foi mais uma evidência de que são as pessoas que fazem as coisas grandes no que elas representam para cada um de nós. Efectivamente somos um grupo diferente, porque cada um de nós é e o faz diferente, mas vestimos com orgulho a mesma camisola, a do companheirismo, da boa disposição, da partilha, etc. Que belo fim de semana, vou recorda-lo com saudade.

    Obrigado a todos, mas em especial á Luisa, ao João e á Guida, voçês foram o nosso fuel.

    Grande relato João, estava cheio de saudades do nosso blog. Obrigado por o teres reactivado.

    Um abraço (sen run, por enquanto).

    Teodoro

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  4. Isto já parece mais familiar, um Post de Excelência!

    Obrigado pela partilha João Ralha e pelo exemplo desde o primeiro dia.

    Este texto além de registo histórico, poderá servir para a preparação de alguém uma futura edição ou apenas para dar umas gargalhadas daqui a uns meses ou anos.

    Primeiro, queria agradecer aqueles doidos que vão lá para o fim-de-semana só para Apoiar, a Esses tiro o meu chapéu, porque sabem que fazem a toda diferença!
    Obrigado Luísa, Guida e João.

    Todos aprendemos que uma Ultra, é uma conjugação muito variada de fatores e incógnitas que não dominamos, físicos, mentais, climatéricos, ect.
    Umas vezes superados ou outras não.

    O mais importante é voltar a tentar!

    Aos que se estrearam, os meus Parabéns e Admiração, tanto o Pedro Ribeiro como o Rui Faria, estiveram muito acima da média. Temos dois novos Centioneiros.

    Aos restantes, os que ficaram no inicio, a meio, ou quse no fim, a próxima não escapa.

    Aos sobrantes que lá foram, sofreram e concluíram sabendo para o que iam… Aguentem-se porque não foram ao engano.

    Que gente estranha ests... Pagam para correr em montes selvagens, sem dormir, sem nada em troca para ganhar além de uma rodela de cortiça ou uma camisola do chines...

    Um grande Bem Haja a Todos, porque o empeno e os sorrisos não tem Preço.

    NDdA

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