Revista Spiridon


Entre outras coisas boas, a “dinâmica Spiridon” iniciada pelo Rui Faria faz-nos olhar para o passado e observar a realidade da prática da corrida em Portugal à 10, 20, 30 ou mais anos.

No passado sábado (08/02/2020) participei no primeiro treino Spiridon do RUN 4 FUN: a “Spiridon MM Monsanto” (www.facebook.com/events/175488803736995/). No final do treino foram sorteadas (e oferecidas pelo Rui) revistas Spiridon. A mim calhou-me a nº 11 de Julho/Agosto de 1980.



Nesta revista um pequeno anúncio chamou a minha atenção: “Cede-se por 1900 escudos um par de sapatos para competição em estrada”. Não faço ideia como seriam pois na altura só conhecia as Sanjo e pouco mais. De acordo com o anunciado pesavam 190 g, o que está perfeitamente ao nível das mais leves que se fabricam actualmente (para estrada). E o preço? O que representava na altura 1900 escudos? Era caro?


Procurei na Pordata (www.pordata.pt) dados sobre o histórico da inflação média em Portugal (taxa de variação do índice de preços no consumidor) entre os anos de 1980 e 2019. Utilizando o valor da taxa média anual indicada para cada ano, estimei um valor para os sapatos a preços actuais. O resultado obtido foi de aproximadamente 105 euros.
Este preço não difere muito do valor de comercialização de umas boas sapatilhas para corrida compradas hoje. Podemos então concluir que o preço do equipamento não variou desproporcionalmente durante este período de 40 anos.

E será que em 1980 comprar “sapatos para competição em estrada” estaria ao alcançe de um português médio?

Procurei também na Pordata o valor do salário médio mensal dos trabalhadores (por conta de outrem). Para 1980 não existem dados estatísticos disponíveis mas em 1985 este salário médio era de 170.5 euros, ou seja cerca de 18 vezes mais do que o preço dos sapatos na altura (9.5 euros). E actualmente?

A Pordata diz-nos também que em 2018 o salário médio nacional (trabalhadores por conta de outrem) foi de 1170.3 euros, correspondente a 11 vezes o preço (actual) dos “sapatos de competição” (105 euros).

Em conclusão, e ressalvando eventuais incorrecções por insuficiência e rigor nos dados, o esforço actual para a aquisição deste tipo de equipamento é cerca de 40% maior do que era em 1980. Porque razão há hoje em dia muito mais pessoas a correr? Pelo referido acima, não é certamente pelo baixo custo deste equipamento.

Comentários

  1. Teodoro, excelente artigo baseado no teu igualmente elevado nível matemático. Curioso, pois a minha expetativa seria de que hoje em dia os ténis seriam mais baratos relativamente ao poder de compra, tal como acontece na maioria dos bens de consumo, incluindo automóveis ou aparelhagem eletrónica, por exemplo.

    Contudo o preço atual de 105 euros talvez não seja a média, pois quem for bem informado poderá comprar calçado de corrida por menos, aproveitando saldos ou promoções. Por outro lado a qualidade do material é hoje em dia substancialmente superior ao que era há 40 anos. Ou seja, considerando uma relação preço / qualidade hoje os ténis serão relativamente mais baratos. Eu sei do que falo pois tive vários ténis Sanjo. Aliás, eram os únicos produzidos em Portugal e que existiam â venda. Trazer de fora era bem mais complicado.

    Grande runabraço

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  2. Claro João, estou convencido de que estás certo na maioria do que afirmas. Actualmente temos produtos de melhor qualidade e uma maior diversidade de escolha, também no preço.

    Mas nota que aqui o meu objectivo não foi chegar a conclusões absolutas, os dados são insuficientes. O que procurei fazer a partir do anúncio da revista foi um exercício de extrapolação. Não sei se o preço de 1900 escudos em 1980 era representativo da média. Provavelmente não. Assim como hoje o de 105 euros é um preço elevado para a média dos corredores (e de rendimentos) nacionais.

    Talvez a leitura de outra publicações na revista Spiridon nos permita tornar mais claro este assunto.

    Um abraço

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  3. Teodoro e João,
    Daria um bom tema de conversa.

    No meu ponto de vista, ambos até têm razão.
    Eu acho que os 105€ perfeitamente dentro dá média se estivermos a falar de ténis com a qualidade ao nível do que a malta da elite utiliza. Se quisermos uns ténis para ir ripar nas maratonas escolhemos uns melhorzinhos... menos peso e boa tracção, sem muito amortecimento e o mais reactivos possível.

    O João também está certo. Eu por exemplo não compro ténis acima dos 100€. É a minha bitola. Espero pelas promoções e compro modelos acima da média mas a preços de promoção. Claro que não são os modelos atuais. São duas ou três versões do passado.


    Por outro lado, ainda, há o efeito duração. Nunca tive nem conheço ninguém dessa altura 1980 que me falasse da durabilidade dos ténis. Mas creio que seria bem mais que os atuais.
    Portanto... se hoje comprarmos dois pares de menor qualidade e mais baratos vamos cais nos 105€.


    Estou em crer que as empresas de calçado de corrida hoje em dia facturam muito mais que no passado. Até pelo efeito da tecnologia que consegue produzir em escala.


    Runabraços









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