Meia Maratona do Porto - A minha estreia




a meia maratona de ontem, no porto, era a minha estreia na distância. já tinha corrido 15 km, tinha feito os 16,5 km do treino de palmela, mas não tinha passado daí. inclusive, tinha pensado fazer treinos ambiciosos na quinzena anterior, mas uma ligeira e impertinente entorse no tornozelo esquerdo impediu-o. bem, que se lixe, vou de cabeça. ida com antecedência para o porto, para aproveitar o lado «gourmet» da coisa. grande desilusão o «pimms», muito bom o «quarentae4»; a não perder para quem gosta de uma cozinha sofisticada num ambiente de design muito «fashion». no domingo, a prova começava às 10:20. trânsito todo fechado e taxista baralhado com o local da meta. deixa-me junto à ribeira, por volta das 09:50; resultado: ainda fui a correr até à ponte do freixo, a ver se chegava a horas. vale como aquecimento. milhares de pessoas na linha de partida. como chego já tarde, fico mesmo no fim. não eram totalmente inúteis uns bons binóculos para ver o insuflável da «sport zone» que indicava o ponto de partida. começa. o arrastão inicia-se com destino ao princípio, curiosa contradição de uma corrida, e ao som das bocas correntes: «os quenianos já estão na arrábida» ou «bamo lá, carago». alguns minutos depois, começo finalmente a correr. prova tranquila nos primeiros cinco quilómetros. da ponte do freixo à ponte dom luiz, passando para gaia com destino à afurada. como havia retorno na dita, ainda mal tinha posto o pé do lado de gaia e já vejo a regressar os tais quenianos. como é possível aquele gás todo ? passaram por mim, em sentido contrário, claro, a voar. depois passam o rui silva e a sara moreira. fixe. aos sete quilómetros primeira quebra. nada de especial. é resistir. regresso à ponte dom luiz e retorno à ponte do freixo para dar a volta outra vez. entre a música do iphone que não me apetecia ouvir e as indicações da menina da aplicação «nike running», que me dizia que tudo corria na melhor das maravilhas, uma manhã linda no porto e um quebranto mais grave por volta dos quinze quilómetros. bolas, onde estão as prometidas barras de nutrientes ? não se vê nada ! bem, lá aparece uma banca da «powerade». bebi aquilo com uma sofreguidão um pouco boçal, há que reconhecê-lo. sou várias vezes ultrapassado. uns mais velhos, outros mais novos. reparo particularmente num senhor, na casa dos setenta e muitos, que, num ritmo muito bem cadenciado, vai ganhando distância, passada após passada. bem, impecável, penso em circuito fechado e sem ocultar que, a continuar nesta vida, também lá posso chegar. passa por mim uma miúda muito bem disposta. no sentido contrário vem uma carrinha branca de caixa fechada com os quatro piscas ligados. «aquilo é o carro bassoura ?» pergunta ela em jeito de afirmação. «bora lá, carago, que isto é uma humilhaçom». os cinco ou seis do grupo circunstancial do quilómetro 16 riem com gosto. e começa a parte mais dura. percebo que estou a perder ritmo, mas percebo também que a coisa se faz. é resistir. mais ainda. a dado passo, o iphone assinala a conclusão da meia maratona e diz-me que fiz 1:57. bem, isto é porreiro. só que falta a parte má da história, a mais realista: é que a meta nem vê-la. começo finalmente a perceber onde é o fim. vejo o insuflável da «sport zone» que assinala o fim. vem-me à cabeça um pensamento estranho, efeitos do cansaço: devia de haver no fim qualquer coisa que fosse simétrica ao arrastão do princípio. chega. mesmo o gosto pelo absurdo tem limites. o marcador assinala 2:07. são só mais umas passadas. 2:08: acabou ! preciso de água, muita. tal como no princípio, também agora fizeram falta os demais laranjinhas. é um formato familiar ao qual já me habituei e cuja ausência se torna muito evidente em momentos como este. paciência. fica a sensação do dever cumprido. 

David Duarte, em discurso direto







Comentários

  1. excelente texto
    boa corrida
    espero-te na maratona para o ano que vem

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  2. Obrigado pela partilha do texto do David, João.

    Belo texto e óptima performance para estreia.
    Nada como a conclusão de uma nova aventura, para pensarmos na seguinte.

    A minha estreia foi em Lisboa(25Abr) com um tempo similar ao Teu (2:08).

    Próximo objectivo baixar das 2:00 e depois trabalhar a pensar na maratona...

    Na minha opinião com o pouca experiencia que tenho até hoje, a maratona é grande aventura das corridas, para os "locos del pelotón" como nós obviamente.

    Runabraços

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  3. David... Adorei o texto... Mesmo :) de facto as laranjinhas no fim fazem sempre falta, quer as de descascar quer as camisolas :)))) parabéns pela conquista... Vamos lá em Outubro apoiar os maratonistas ??? Fazemos os 15km :)

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  4. Muito bom...

    David, diverti-me imenso com a tua crónica.

    Parabéns pela tua prova e pela partilha.

    AC

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  5. Temos um novo "Saramago". Excelente texto.

    Eu, na minha 1ª meia, fiz 2:10 e na 2ª fiz 2:17. Só depois é que melhorei!!!

    Mais umas quantas "meias" e começas a pensar na "big one"

    Runabraço

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  6. Caro,David. Parabéns pela prova e pelo discurso directo. Chegaste bem à frente do "carro bassoura"!
    Runabraços

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  7. Parabéns David! Uma grande estreia!
    Nunca fiz essa Meia Maratona SportZone mas já o percorri na Maratona do Porto. E o percurso é dos mais belos das provas de estrada em Portugal.

    Agora é continuar melhorar nas próximas Meias Maratonas. E a seguir começar a preparar a Maratona.

    RunAbraço.
    JCM

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  8. Bem vindo sejas!
    Bela crónica...e aviso que isto é altamente contagioso...não tarda nada e tiras 20 ou 30 minutos a este teu tempo e depois...depois que venha a "irmã mais velha"!!!

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  9. Para 1ª Maratona .... não estiveste mal!!!
    Esta foi a minha 2ª e já consegui baixar das 2H00, isto porque, a minha 1ª, que foi este ano em Cortegaça, também andou na casa das 2H05.
    Como vês não é nada que uns treininhos não ajudem a resolver!!!
    Não te conheço, mas de certeza que nos encontraremos para o ano, lá para Março, algures pela Ponte 25 de Abril.
    Saudações atléticas.

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