A dor é temporária, a desistência é para sempre
Caros Amigos,
Infelizmente aconteceu-me aquilo que eu nunca esperei que me acontecesse. Uma desistência por motivos físicos (caímbras). Eu tinha orgulho de nunca ter tido uma caimbra na minha vida (tive uma quando jogava rugby) e nunca ter desistido em nenhuma prova em que tivesse participado. Já tinha encontrado o muro em 2010  numa Maratona, mas caminhei e tudo se resolveu. Agora, na Ultra-Maratona Melides-Tróia, que já tinha participado e terminado em 2011, aconteceu  esta desgraça. A prova teve  condições  muito boas e propícias para bons tempos e eu estava com um avanço de 21 minutos em relação ao ano anterior quando tudo começou. Ao chegar ao único reabastecimento possível, no quilómetro 28,5, parei para reencher o camel-bag com a ajuda do grande Luis Ferreira e Rui Raposo. O Luís está em plena recuperação doas 168km espanhóis e o Rui resolveu acompanhar-me até á Praia de Sól-Troia que distava apenas 7km. Reiniciei a corrida com calma mas comecei a sentir umas dores estranhas nos gémeos e resolvi começar a caminhar. Eis que sem qualquer outro aviso, ambas as pernas pararam, os gémeos começaram a contrair-se e os meus pés deslocaram-se para o exterior (não sei bem como explicar mas os meus pés viraram-se para o exterior com se quisessem saír das pernas). Acreditem que as dores eram bem intensas. Tive que me deitar e com a ajuda preciosa do Rui e de um elemento da organização, cada um na sua perna, safaram-me neste primeiro momento. Após andar a correr sempre abaixo dos 7min/km, este km32 demorou 21 minutos a ser percorrido. Resolvi arrancar novamente e após mais um km a caminhar, sempre com a ajuda psíquica do Rui Raposo, comecei a ter mais uns ameaços e ao km 34, novo ataque de caímbras, ainda mais dolorosas e novamente no chão, as duas pernas a contorcerem-se, fortes dores e novamente socorrido pela organização através de um médico e pelo sempre  infindável Rui. Mais uma vez, recuperei (achava eu) e disse.: A dor é temporária, a desistência é para sempre. Em grande esforço voltei a caminhar mas após perceber que tinha demorado 23 min no último km e que ainda me faltavam 8 km para terminar a prova tive de tomar a mais difícil decisão: desistir. Lembrei-me das desistências da Paula Radclive nos Jogos Olímpicos e do Gebra Seilassie em N.Iorque e aceitei que já não seria possível continuar. Aguardei a chegada de uma Moto4 da organização e quando subi para a mota, tive outro ataque de caímbras que definitivamente me puseram fora de combate mas com uma decisão já tomada: em 2013 vou estar mais forte que nunca para terminar em beleza esta Ultra-Maratona.
Uma palavra de parabéns para o Nuno Almeida e Orlando Ferreira pelos magníficos resultados, para o Rui Aranha (meu ex-colega da Honda) que terminou em 05:03h e para o Jorge Cancela que com uma tendinite e sempre a caminhar, deixou muitos outros atletas para trás.

Comentários

  1. Parabéns, Miguel, por tomar a decisão sábia. Abraço!

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  2. Nunca desisti, logo não sei avaliar, mas sei o que são essas câibras porque me afectam depois de uma hora e meia de exposição a àgua fria: é muito doloroso e os dedos dos pés ficam deformados. Como já disse a respeito desta prova há mais marés que marinheiros,para o ano lá estarás. Força!

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  3. Magnésio e potássio. Nunca tiveste cãibras porque não transpiras muito. Se perdesses líquidos como eu ias ver. Vai a uma ervanária e compra cápsulas de magnésio e potássio. Uma semana antes da prova tomas uma cápsula por dia a uma das refeições principais. No dia da prova tomas também de manhã. É remédio santo. As cãibras não aparecem. Os líquidos que ingeres não te ficam a pesar no estômago. Não sentes náuseas. Todos esses sintomas derivam da falta de sais minerais ricos em magnésio, potássio e sódio.

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  4. Caro Ultra runner,

    Quem se predispõe voluntariamente a esta UMA, sabe que só o melhor de si será suficiente…

    Existem dias em que nada corre conforme planeado, este foi o teu.

    O atleta mais moralizado e bem preparado para este duro teste acabou por ser traído pelas cãibras e por falta de magnésio. ;-)

    Pelos comentários ouvidos por outros participantes, esta edição foi bem mais fácil do que em 2011.

    Pena este percalço, dados os 21min de vantagem em relação ao ano anterior.

    Aquele piso, o calor e vento com estas tórridas condições são logo á partida para Campeões.

    Obrigado pelo apoio antes, durante e depois do evento.

    Às vezes desistir é/foi a melhor opção, fica de qualquer forma a promessa que para o ano não irás sozinho!

    Temos de começar a pensar no próximo desafio, Maratonista.

    RunAbraço,
    NDA

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  5. Miguel,

    Eu também desisti de uma prova de 10 km porque tive uma dor violente, tipo "rasgar" um músculo e por temer, na sua sequência, algum tipo de rotura muscular. Ter que desistir de uma prova acontece também aos melhores, como tu.

    Desistir é uma possibilidade, insistir é o sinal dos verdadeiros campeões.

    Por isso, lá estarás no ano que vem.

    Runabraço

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  6. Grande Miguel,

    outras oportunidades esperam por ti. Por vezes é preciso saber parar...

    É o PDI.

    AC

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  7. Miguel,

    Muito fizeste tu nessas condições!

    Contracturas de esforço ou caimbras por falta de ingestão de sais, talvez outra coisa qualquer...

    O que importa é recuperares bem que outras provas virão.

    Grande abraço

    Zé Carlos Santos

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  8. Miguel. Não deixas de ser um grande atleta apesar deste percalço. Como suas muito, devias ter ingerido mais magnésio nos dias anteriores. A dor é temporária, mas o sofrimento é para se levar a sério. Há mais marés que marinheiros.
    Abraço

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  9. Miguel, saber reconhecer o limite do nosso corpo não é desistir... é apenas adiar a conquista.
    Psicologicamente é certo que terá impacto imediato mas outros desafios ultrapassarás em breve e para o ano ganharás tu!
    Boa recuperação e faz outra prova rapidamente.

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  10. Caro Miguel,

    Obrigado pela partilha e "violento" relato.

    Aconteceu-me algo similar, mas seguramente sem comparação, em 2011 na meia de Setúbal (logo aos 4Kms).

    É realmente muito dura toda a envolvencia de uma desistencia, principalmente para o "atleta de pelotão" como nós em que o único adversário somos nós próprios e os nossos limites.

    Boa recuperação e quem sabe se para o próximo ano não estarei por lá a fazer-te companhia...

    Runabraços

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  11. As vezes a melhor estratégia para irmos em frente é dar um passo atras... No teu caso o corpo obrigou-te porque a cabeça nao queria... Desistir deve ser duro, a gestão das nossas expectativas no caso de falharmos os nossos objetivos é complicada... Mas há que aprender a lidar com isso, agora foi a tua vez, um dia será a minha... Recupera depressa e planeia o próximo objetivo... :)

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  12. Há dias e dias. Saber desistir também é um acto sábio. Tens experiência e este momento tornou-a ainda maior. As melhoras, Miguel.
    Runabraço

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