Conímbriga “Terras de Sicó” – Lessons Learned do Trail

Não tenho jeito para trails.

Admiro muito a forma ligeira como um “trailer” se desloca pelo terreno de forma que dá a sensação que nada lhe mete medo. Nem me estou a referir tanto á sua grande velocidade e capacidade atlética que também possuem. Tem mais que ver com a coragem de enfrentar o perigo que vem maioritariamente da imprevisibilidade do chão, de lado ou em cima em troncos, silvas, arbustos, pedras,… em subidas e descidas que metem muito medo (algumas na vertical) …

Não me dou muito bem a colocar o pé em pisos acidentados, em que o pé fica torto, em pedras e troncos sem certeza de estabilidade, em pedras soltas que não fixam o pé. Na maior parte dos terrenos mais difíceis que encontro em trails tenho muito cuidado a “meter o pé”. Eu diria mesmo que a cada passada que dou em terreno acidentado, tenho medo que me aconteça algo de que me venha a arrepender.
Pode ser que seja falta de treino, falta de técnica de progressão, necessitar de mais experiência de corrida em trilhos. Provavelmente necessitaria praticar exercícios que forneçam características que eu necessite de melhorar para colocar melhor o pé, a passada, ter maior flexibilidade, dominar pisos instáveis, conhecer técnicas em terrenos mais difíceis.

Apesar de não ter jeito para isto, gosto muito de correr em trilhos.

Preparei-me para viajar na véspera e ficar em Coimbra. Na sequência da mensagem de Paulo Marcos, que também ficou em Coimbra, manifestei interesse em partilhar a deslocação, o que, como vou referir adiante originou que eu lhes transtornasse o regresso. No Sábado, o Paulo e a Inês foram ao futebol e eu combinei encontrar-me no jantar Run 4 Fun no centro de Coimbra, que viria a ser bem concorrido, com a Rita, a Rute, a Paula, a Elsa, a Patrícia, o Jorge e demais familiares.
No Domingo, o António Castanheira chegou primeiro a Condeixa e depois chegaram os companheiros que vieram de Lisboa nessa manhã, bem como os que vieram de Coimbra.

Quando me inscrevi no Mini Trail de Conímbriga “Terras de Sicó” de 2012, foi com o objetivo de fazer este mini-trail em modo de passeio, logo após a Maratona, por forma a disfrutar da paisagem, do convívio, da natureza. Mas depois do início da prova, cresce a emoção que nos impele a ir mais rápido, mais longe, com mais força, o que acontece com a generalidade dos praticantes de corrida.

No ano passado eu fiz os 30 kms do trail de Sicó com o infindável tempo de quase 5 horas. Gostei muito da prova, do ambiente e da organização do “Mundo da Corrida”, pelo que este ano voltei para participar no mini-trail, mais fácil. Ao longo do percurso do Mini trail, encontrei vários companheiros que participavam no Trail. A partir de determinado ponto cruzámo-nos com os caminheiros que vinham em sentido contrário. O cruzamento foi aproveitado como um incentivo mútuo, mas em alguns percursos estreitos causava alguma confusão. Após um bom pequeno-almoço e consumindo geis e nos abastecimentos, deu-me energia para fazer confortavelmente os 21 kms da prova.
Após ter passado a Meta nesta prova muito bem organizada, uma boa dose de lembranças azuleijo, queijo, mel, bolos, fruta, água e a cerveja que soube muitíssimo bem.

Após terminar comecei a fazer “piscinas” fazendo o percurso final para trás e para a frente, para apoiar, “rebocar” e fotografar vários companheiros Run 4 Fun . O António Castanheira ao voltar uma curva, cumprimentei-o mas com muita pena minha não o fotografei na surpresa do momento. Estava num estado de perfeita diversão. Percorri mais de 21 kms só neste “vai-vem” de piscinas, embora num ritmo inferior aquele que fiz a prova. Nestes percursos tive a companhia R4F da Paula Carvalho, Rute Fernandes, Inês Gil Forte, Paulo Marcos, César Moreira, Jorge Paulo, Jorge Cancela. Cruzei-me com muitos companheiros da corrida (a lista seria exaustiva) e da Organização que nos cumprimentávamos mutuamente, alguns efusivamente, como a Otília Leal e o Mário Lima. No total percorri no domingo mais de 42 kms de perfeita diversão nos percursos da “Terra de Sicó”.

Foi muito emocionante ver passar as experientes Ana Grosnik e Claire Monroy aceleraram “na brasa” muito bem posicionadas na frente do Trail. Ficaram ambas na excecional posição de 4º lugar do seu escalão. Imediatamente a seguir ao Pódium!!! Muitos Parabéns Grandes Atletas!!!

Os Parabéns também para os Grandes Atletas Run 4 Fun que se estrearam no Trail e no Mini Trail. Espero que gostem das provas na natureza com estas caraterísticas onde se disfrutam de paisagens e ambientes fora do comum e de alguns momentos excecionais que perduram na memória.

Curiosamente, já na parte final de mais um “reboque”, tropecei frente ao Pavilhão Gimnodesportivo num piso normal não acidentado e magoei-me na anca.
Já não é a primeira vez que uma situação destas me acontece de passar incólume nos percursos mais difíceis e depois cair em pisos mais fáceis. Dá a sensação que quanto maior é o perigo e as dificuldades do terreno, mais atentos estão os nossos sentidos, a nossa capacidade propriocetiva e mais ativos ficam os nossos alertas. E quando o perigo diminui, ao diminuirmos os alertas e dispersarmos a atenção, podemos ficar mais sujeitos a acidentes, quando nada o faria esperar.

Depois aconteceu outro episódio. Já estava no Pavilhão Gimnodesportivo pronto para tomar duche, pormenores á parte, perdi os sentidos e acordei rodeado por atletas que chamaram os bombeiros que me levaram ao hospital, como resultado de hipoglicémia e quebra de tensão originados por ter deixado de me alimentar e hidratar após ter concluído a prova. Ou seja, distraído com o constante ir e vir sozinho ou acompanhado, não dei qualquer importância ao consumo de líquidos e à reposição de hidratos e fiz mais de 21 kms praticamente sem reposição de líquidos e sólidos. Não costuma acontecer comigo mas neste dia aconteceu, e nem foi por falta de marmelada que eu levava, e passei 2 vezes num abastecimento e só tomei cerca de 1 copo de água durante todo este tempo. Uma lição mais: Nunca descurar a hidratação e a reposição de hidratos de carbono durante o exercício, mesmo que seja uma atividade mais ligeira a que demos menor "importância".

A prosa já vai extensa. Os meus agradecimentos às pessoas que cuidaram de mim, os atletas no balneário, os bombeiros e o pessoal hospitalar.
Um enorme agradecimento à Luísa, Inês e Paulo Marcos que fizeram o favor de me acompanhar, dar ânimo e dicas úteis e trazer de volta com eles. Já recuperei com brevidade e estou “pronto para outra”.

RunAbraços.

Comentários

  1. Ai, que assusto foi isso, e no final do dia que alívio!
    Mas sobre tudo, que atitude positiva admirável neste texto!!!
    E obrigada pelos saudações no fim da minha corrida, fez me sorrir nos meus últimos metros :-)
    Ana G.

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  2. Zé Carlos, excelente post. E admirável o que fazes para te divertir e apoiar os outros. Agora, não menosprezes os sinais do corpo e, na medida do possível, descansa um pouco. Folgo em saber que já te encontras bem. Um abraço.
    Gonçalo Fontes de Melo

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  3. Grande Zé Carlos,

    fico muito satisfeito por estares "pronto para outra".

    Foi mais uma experiência que te permitirá melhorar ainda mais.

    Foi algo que podia ter acontecido com qualquer um de nós. Serve de lição para todos nós.

    Abraço,

    AC

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  4. Grande Zé Carlos, por essas e por outras é que és uma inspiração; abração e obrigado pela atitude e companhia, fico feliz por te saber óptimo e nunca mais caias ao pé de mim... para a próxima sou eu que te obrigo a comer, nem que sejam aqueles deliciosos queijos com mel acompanhados com a bela imperial fresquinha :)

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  5. Grande Zé Carlos. É ótimo ler a tua prosa e ver-te em movimento. Com uma força pensada de quem até aprendendo ensina.
    Runabraço, caro amigo

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  6. Mais um excelente relato a juntar a uma enorme prestação a todos os niveis Zé Carlos.

    Um grande bem-haja para Ti, pelo que és, representas e que consegue transmitir.

    Runabraços

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  7. Zé Carlos,

    Excelente relato, inspirado e esclarecedor.

    Duas maratonas numa semana, é obra!

    Ainda bem que já estás recomposto e pronto para as próximas corridas. E continua com o teu admirável espírito de companheirismo.

    Runabraço

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  8. Zé Carlos,

    Espero que este episódio para ti seja uma recordação e para nós uma lição.

    Obrigado pelo teu companheirismo (mais uma vez).

    Um abraço

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  9. Não há nada que nos alegre mais que ver o teu constante espirito de companhia nestas corridas...mas que isso alegra-nos o 'pronto para outra' mas que seja outra corrida porque outro susto dispensamos...ainda bem que a máquina está em condições e obrigado por continuares a preocupar te com todo o grupo

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  10. O José Carlos já percebeu a natureza da corrida muito bem

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  11. Zé Carlos,

    Quando cheguei da minha prova e te cumprimentei, já andavas nesse vai vem "fresco que nem uma alface", o que comprova que fizeste o teu trail com grande facilidade. Pena essa distracção com a hidratação/nutrição. Espero encontrar-te em grande forma no próximo trail!

    Grande abraço

    Zé Carlos Santos

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  12. Ze Carlos eu fui um dos que estava no reboque quando cais-te e só posso dizer que foi um grande susto que apanhei... quando ouço o teu cair e vejo o Grande Atleta no chão, fiquei verdadeiramente assustado pois tu dizias que era a Anca, e que tinhas tropeçado em uma pedra, mas eu olhava e não via o raio da pedra... para lhe dizer que ela era a responsável...

    Como sempre a tua disponibilidade para ajudar é enorme, mas agora seremos nós os futuros rebocados que iremos garantir que não te esqueces dos hidratos e da Agua, fica prometido...

    Fico feliz que já estejas recuperado, pois precisamos de TI

    Grande Abraço

    César

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  13. Grande Zé Carlos.
    Ainda bem que não foi nada de grave. Coisa parecida sucedeu-me no TNLO.
    Vibrei com o teu excelente relato e fiquei cheio de "inveja" de não ter estado no Sicó, pois no ano passado gostei muito.
    Agora, vais-me desculpar, mas tive de brincar um bocadinho com a tua estória. Não sei é onde é que hei-depôr a brincadeira, pois é comprida. Sei lá, olha, vai para o FB.

    Abraço.

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  14. Grande Carlos, soube lá que tinhas tido problemas, estranhei porque tinha estado contigo quando eu vinha a chegar e nada fazia prever isso. Agora sei que estás bem, nada mais importa. Abraço.

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  15. Melo

    admirei-me pelo facto de te ter visto a alguns km da meta onde mais três elementos da tua equipa foram contigo até ao final (eu não fui porque já não tinha forças :) ).

    Agora pelo teu escrito verifiquei que esse vai-vem foi intenso e o corpo ressentiu-se.

    Mas estás bem, e é mais uma lição que se aprende. O corpo não é de aço e temos que o alimentar.

    Obrigado pela tua presença e apoio e como dizes estás pronto para outra... mas provas,ok? Sustos destes é que não interessam.

    Grande Abraço!

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  16. Zé Carlos, belo texto. Parabéns pela tua prestação e ajuda que deste a alguns de nós, servindo de rebocador, animador, fotografo e acima de tudo pelo teu companheirismo, e nunca mais te esqueças de Ti.
    Bom descanso e uma óptima recuperação.

    Runabraços

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  17. Obrigado Zé Carlos, o teu admiravel testemunho é uma autentica lição que nunca devemos descorar.

    Desejo-te rápida e completa recuperação pois novos desafios estão aí à porta.

    Um abraço.

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